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15/08/2002 - 08h07

Economista americano defende microcrédito contra pobreza

RODRIGO AMARAL
da BBC

Para o economista e ''futurólogo'' americano Alvin Toffler, algumas medidas simples podem ajudar a preparar um país para a nova economia.

Ele cita como exemplo a concessão de financiamentos de valor bastante pequeno, uma medida que vem sendo usada como arma contra a pobreza em países como Bangladesh, Índia e Quênia.

Mas Toffler não tem uma preferência sobre quem deveria conceder esses financiamentos, se o setor privado ou o Estado.

"Isto não interessa, o importante é que seja feito", disse Toffler à BBC. Leia abaixo a entrevista:

BBC Brasil - O sr. é um grande defensor do microcrédito para enfrentar a pobreza. Esta é uma alternativa válida para o Brasil?
Alvin Toffler -
Sim. Os programas de microfinanciamento são excelentes. São ferramentas poderosas, que devem ser difundidas e, quando possível, relacionadas ao desenvolvimento e ao uso de novas tecnologias.

Sabemos, por exemplo, que na África do Sul e em outros países os telefones chegaram a vilarejos antes desprovidos desta tecnologia graças ao uso de microfinanciamentos concedidos a uma única pessoa, em geral uma mulher, que consegue comprar um telefone celular e criar uma estrutura bem básica para receber os clientes.

Essa pessoa acaba atuando como se fosse uma empresa telefônica, vendendo o uso da linha para os outros moradores do lugar. Ao se facilitar que as pessoas tenham acesso a quantias de dinheiro, é possível criar empreendedores.

BBC Brasil - Quem deveria prover esses microfinanciamentos: o Estado ou o setor privado?
Toffler -
Tanto faz, o Estado ou o setor privado. Isso não interessa, o importante é que seja feito.

BBC Brasil - Mas será que o Estado ainda não tem um importante papel a ser desempenhado nesse tipo de iniciativa?
Toffler -
Minha resposta para este tipo de questão é que eu tenho 100% de confiança nos mercados. Mas eu não tenho 1.000% de confiança neles. O Estado é necessário para algumas coisas. Não é muito eficiente para algumas atividades, é um pouco burocrático demais em várias ocasiões. Mas o importante é que, em áreas como os microfinanciamentos, alguém tome a iniciativa.

Um outro exemplo de ação que ainda é necessária em regiões como o Nordeste brasileiro diz respeito à garantia dos direitos de propriedade. O peruano Hernando de Soto tem escrito coisas importantes a esse respeito. Precisamos achar maneiras para assegurar que os pobres tenham posse legal de terra. Isso se converte imediatamente em capital, que pode ser vendido, comprado ou usado para implantar um pequeno negócio.

É preciso facilitar a criação de pequenos negócios, e De Soto tem mostrado o quanto isso é difícil devido à burocracia oficial. Então, eu acho que sim, há um papel para o Estado, mas o que for possível deve ser feito por meio do mercado.

BBC Brasil - O que os brasileiros deveriam esperar de seus líderes no futuro?
Toffler -
Líderes assumem posições muito difíceis, especialmente em países como o Brasil. Falei bastante de tecnologia, mas acho que os problemas são tanto culturais e na área de educação quanto são tecnológicos. A educação é portanto um tema que precisa ser tratado adequadamente.

Mas é extremamente difícil administrar países que têm as três ondas ao mesmo tempo. Este é o caso do o Brasil. As necessidades do setor agrícola são diferentes das do setor industrial, e a terceira onda tem suas exigências próprias também. Além disso, sei que o Brasil é um país, como muitos outros, que sofre muito com corrupção. Desse jeito, é muito difícil criar empreendimentos e gerar riquezas.

Todo país tem corrupção, incluindo os Estados Unidos, como estamos vendo agora, mas esse é um fator que exerce grande influência nos países mais pobres e que precisa ser enfrentado.

BBC Brasil - Se o sr. fosse um brasileiro, estaria otimista com o futuro?
Toffler -
Eu acho que estamos entrando em um período que será um teste para toda a América Latina. Até agora, não falamos de política nem de violência. O Brasil está em um continente que hoje conta com um governo instável na Venezuela, outro governo fraco no Peru, movimentos guerrilheiros na Colômbia, e a Argentina imersa em um caos total.

O que vai acontecer com o Brasil, se há motivos para otimismo ou pessimismo, depende do que vai acontecer ao seu redor. O Brasil não pode achar que não tem relação com o que acontece no restante da América Latina. Acredito que o país está entrando em uma fase de grandes incertezas, e nenhum candidato vai conseguir chegar ao governo com todas as respostas para os problemas do país. Ninguém possui essas respostas.

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