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26/08/2002 - 09h13

Bogotá reduz violência em pleno conflito colombiano

VALQUÍRIA REY
da BBC, em Bogotá

Um país que vive um conflito armado há mais de 40 anos e ainda sofre com o narcotráfico pode parecer o lugar menos adequado do mundo para encontrar exemplos de sucesso no combate à violência.

Esse é o caso, porém, da Colômbia, onde Bogotá vem conseguindo reduzir os índices de criminalidade e violência de forma consistente nos últimos anos graças a medidas como a adoção de um horário de fechamento para bares e casas noturnas.

Os índices de violência na capital colombiana -que tem 6 milhões de habitantes- ainda estão em patamares altos, mas bem inferiores ao que já foram.

O total de mortes violentas, por exemplo, foi reduzido em 51%, passando de 6.822 em 1994 para 3.315 no ano passado.



Nem mesmo os atentados ocorridos no dia 7 de agosto, durante a posse do presidente Alvaro Uribe, parecem ter abalado a nova reputação da cidade.

Em outubro, Bogotá vai ser premiada pela Organizacao Mundial de Saúde (OMS) como um modelo de política pública na redução da violência.

Soluções criativas
A melhora apresentada na capital colombiana se deve, de acordo com analistas, às criativas e muitas vezes polêmicas politicas adotadas pelas três últimas gestões na prefeitura da cidade.

O atual prefeito de Bogotá, Antanas Mockus, atribui a redução da violência, entre outros fatores, aos investimentos na profissionalização e modernização da polícia municipal.

Além disso, Mockus destaca a realização de campanhas educativas que visam comportamentos que, na opinião dos dirigentes da cidade, facilitam a propagação da violência.

É o caso da adoção de um horário de funcionamento compulsório para bares e casas noturnas e da proibição da venda de bebidas alcoólicas a menores de idade.

"Se o horário de funcionamento das casas noturnas é reduzido, as pessoas também controlam o consumo do álcool, o que, por sua vez, diminui os acidentes nas estradas", cita o prefeito como exemplo.

"As mortes no trânsito foram reduzidas em 15% em 2001. E os suicídios diminuíram 10% no mesmo período."

Outras iniciativas do governo municipal incluem inúmeras campanhas de desarmamento, a recuperação de espaços públicos e a construção de parques e quadras esportivas pela cidade.

Melhoria cultural
Na opinião da advogada Diana Carolina Valencia, uma moradora de Bogotá, não é apenas por meio da mudança de atitudes e da recuperação dos espaços públicos que se notam as diferenças na capital colombiana.

"A cidade conta hoje com um nível cultural muito melhor do que antes", afirma ela.

"A violência tem sido reduzida também por causa da colocação de câmeras de segurança e de um controle maior por parte da polícia."

Para o analista de sistemas Jorge Caicedo, as estatísticas mostram que Bogotá é hoje uma cidade mais segura para viver.

"À medida que os bares deixaram de abrir até tão tarde, as pessoas também ficaram menos expostas", afirma. "Consequentemente a criminalidade diminuiu."

Denúncias
Segundo cifras do Observatório de Violência e Delinqüência de Bogotá, o número de assassinatos por grupo de 100 mil habitantes na capital colombiana caiu de 70 em 1995 para 30 no ano passado.

Os casos de seqüestros na cidade também apresentaram queda. Da média anual de três mil sequestros que acontecem na Colômbia, apenas uma centena deles é registrada na capital.

De acordo com o prefeito Antanas Mockus, a atuação mais eficaz dos grupos anti-sequestros e a colaboração da população, que denuncia atos considerados fora do comum, fez com que esse tipo de delito passasse a ser cometido longe da capital.

"Nossa cidade está mais tranquila porque as pessoas estão mais conscientes das mudanças", diz a dona-de-casa Monica Ramirez.

"A população agora faz denúncias com mais facilidade."

O resultado é que Bogotá parece estar deixando para trás a má fama com que ficou conhecida na última década, quando foi o palco do assassinato de três candidatos à Presidência da República e dois ministros, além de inúmeros seqüestros de empresários.

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