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20/12/2002 - 17h39

Iraquianos rejeitam democracia imposta pelos EUA

da SILVIA SALEK
da BBC, em Amã (Jordânia)

Enquanto líderes da oposição ao regime de Saddam Hussein discutem a formação de um possível novo governo no Iraque, iraquianos dizem que não vão aceitar uma democracia imposta por uma guerra.

Para o analista político jordaniano Jamil Nimri, a oposição iraquiana é identificada pela população como "amiga" dos Estados Unidos e, por isso, não conseguiria apoio interno.

"Não podemos nos esquecer de que o povo iraquiano vem sofrendo há mais de dez anos uma grave crise que, na visão deles, é culpa do governo norte-americano", disse Nimri, que é articulista de um dos principais jornais da Jordânia, em entrevista à BBC Brasil.

Para ele, essa interferência dos Estados Unidos na política interna do Iraque pode causar uma guerra civil no país e comprometer a estabilidade de toda a região.

Inimigo comum
Nimri diz que, mesmo quem não apoiava Saddam Hussein antes da atual crise, está no momento ao lado do presidente iraquiano.

Nimri: 'Iraque pode ter guerra civil'

"O povo está unido em torno de Saddam Hussein porque é contra a mudança de regime planejada pelos Estados Unidos. O povo não quer a divisão do país, muito menos que políticos com bom relacionamento com os americanos governem o Iraque. Não vão aceitar, vão lutar contra isso", acrescentou.

Em Amã, capital da Jordânia, iraquianos dizem que os Estados Unidos estão em busca de uma desculpa para atacar o Iraque e controlar o petróleo do país.

Em um ponto de táxi em um bairro pobre da capital, iraquianos que trabalham no transporte de passageiros entre os dois países foram unânimes em criticar os Estados Unidos e em defender Saddam Hussein.

"Os norte-americanos deram dinheiro para a oposição no exterior para eles lutarem contra o povo iraquiano, mas vamos vencer essa guerra. Estamos 100% ao lado de Saddam Hussein", disse o taxista Fadhel Zahra, 40, pai de três filhos e morador de Bagdá.

"Democracia iraquiana"
Na opinião de Majed Dilemi, 33, o Iraque já é um país democrático e não precisa de nenhuma mudança de regime.

"Se nossa democracia não agrada a eles, o problema é deles. O fato é que todo o povo iraquiano ama Saddam Hussein e isso é que é democracia", disse Dilemi, um ex-militar que trabalha como taxista há um ano.

"Nós sabemos quem Bush é: um terrorista que está tentando arranjar uma desculpa para nos atacar. Mas ele vai ver, vamos ganhar essa guerra", acrescentou o taxista.

Majed Dilemi mora com a família em uma cidade localizada 110 quilômetros ao sul de Badgá e que, segundo ele, foi duramente atingida pela Guerra do Golfo.

"Destruíram pontes, hospitais e até áreas residenciais. Perdi dois parentes nos bombardeios. Como essa gente, que cometeu essas atrocidades, pode se achar no direito de nos atacar novamente, sem nenhum motivo justo?", questiona Dilemi.

Petróleo
Para um feirante, que preferiu não fornecer seu nome, os Estados Unidos estão de olho no petróleo da região.

"Eles têm que destruir primeiro o Iraque porque sabem que somos fortes. Se conseguirem nos derrubar, acham que será fácil fazer o mesmo com outros países. Mas eles vão ver, não vamos cair", disse o feirante.

Para Haydar Tafa, 42, também taxista e ex-militar, a população iraquiana está pronta para a guerra.

"Vamos deixar imediatamente nosso trabalho e lutar pelo povo iraquiano e por toda a região", disse.

Segundo Khalid Tai, 38, por trás dessa possível guerra existe uma conspiração para colonizar o Oriente Médio.

"É uma nova era de colonização que está sendo planejada. Mas não vamos deixar que isso aconteça", disse.
 

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