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17/02/2003 - 13h59

Ex-assessor de Reagan critica opção de Bush pelo Iraque

ANGELA PIMENTA
da BBC, em Nova York

A Coréia do Norte apresenta um risco muito maior para a segurança dos Estados Unidos do que o Iraque, de acordo com um ex-assessor do presidente republicano Ronald Reagan.

"A política externa de [George W.] Bush está equivocada ao focar primeiro em Saddam Hussein", diz Lawrence Korb, diretor de estudos de segurança nacional do Conselho sobre Relações Internacionais e ex-subsecretário de Defesa do governo Reagan (1981-1988).

"Sabemos há muitos anos que a Coréia do Norte desenvolveu mísseis capazes de atingir os Estados Unidos. Essas armas ainda não foram testadas, mas isso é uma clara manifestação de tensão entre os dois países", diz Korb.

O analista considera a insistência de Washington em atacar o Iraque um casuísmo diante de uma operação militar já em andamento.

"Hipocrisia"

A posição de Korb é compartilhada por outros analistas americanos, entre eles o professor de ciência política da Universidade de Columbia Robert Jervis. Para Jervis, o que o governo americano tem declarado em público sobre a Coréia do Norte é "hipócrita".

"Eles têm dito que o caso da Coréia do Norte não é tão urgente quanto o do Iraque. Isso é infantil", diz Jervis.

"Os norte-coreanos têm armas nucleares e químicas. Uma guerra contra a Coréia do Norte poderia matar um grande número de soldados americanos e arruinar a Coréia do Sul. E tanto militar como politicamente seria muito difícil para os Estados Unidos lidar com duas crises, o Iraque e a Coréia, ao mesmo tempo."

Além de Iraque e Coréia do Norte, os Estados Unidos também continuam envolvidos no que chamam de "guerra ao terrorismo".

Para a Casa Branca, essa guerra é a mãe de todas as outras batalhas. O governo Bush, por intermédio do seu secretário de Estado, Colin Powell, tem insistido na existência de uma cooperação entre a Al Qaeda, de Osama Bin Laden, e o Iraque.

Mas o próprio ex-assessor do governo Reagan Lawrence Korb não está convencido dessa tese.

"Não acredito que Saddam e Al Qaeda estejam associados. Eles vêm de duas tradições religiosas diferentes. Bin Laden é uma pessoa bastante religiosa, enquanto Saddam Hussein não é", diz Korb.

"Mas tenho certeza de que Bin Laden usaria um ataque contra Saddam como um chamado para que seu grupo atacasse os Estados Unidos e seus aliados em todo o mundo."

O medo de que uma guerra contra o Iraque possa desestabilizar a região do Oriente Médio é um dos pontos freqüentemente lembrados pelos que são contra uma ação mililtar -movimento que tomou as ruas de várias cidades no fim de semana, inclusive nos Estados Unidos.

"É interessante examinar os dados disponíveis sobre opinião pública nos Estados Unidos e na Europa, e não nos concentrarmos apenas nas elites", diz Robert Jervis. "Na Europa, as pesquisas mostram cerca de 70% da população é contra a guerra e nos Estados Unidos esse número cai para 45%. É uma grande diferença, mas ela não é enorme."

Para Jervis, a diferença principal de opinião entre países europeus e os americanos é apenas estrutural. "A maioria da mídia não entende isso e fica dizendo bobagens do tipo 'a Europa é de Vênus, e os Estados Unidos são de Marte'."

"Os Estados Unidos são o único país do mundo capaz de agir sozinho e de fornecer liderança ao mundo, para o bem ou para o mal", diz Jervis. "E os europeus não têm que se preocupar apenas com o Iraque, mas também com a dominação dos EUA, que mesmo não sendo na forma de conquista territorial, ainda significa uma dominação política."

Doutrina irrealista

Também da parte do governo americano existe um reconhecimento de que a troca preventiva do regime iraquiano poderia deflagrar uma onda imediata de terrorismo.

"Os Estados Unidos reconhecem que um ataque a Saddam aumenta o ritmo dos atentados", diz Lawrence Korb. "Mas o sentimento na Casa Branca é de que os terroristas atacariam de qualquer maneira em algum momento futuro assim que conseguissem armas de destruição em massa de Saddam Hussein."

De acordo com o ex-subsecretário de Reagan, a política externa do governo Bush baseia-se no seguinte tripé doutrinário: a ameaça crível de uma força militar extraordinária para constranger o inimigo, a ação unilateral para evitar constrangimentos externos e a ação preventiva.

Crítico de tal política, Korb a caracteriza como "irrealista". "Ela desconhece vários tipos de limitações, como o uso da força como uma ferramenta de política externa, a abordagem unilateral do oponente e a declaração de um objetivo para imobilizá-lo por antecipação", diz.

"O oponente dos Estados Unidos torna-se claramente capaz de reagir com a mesma tática, antecipando-se à ação americana. É o que tem acontecido, por exemplo, com a Coréia do Norte."
 

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