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14/04/2003
-
13h32
da BBC, em Basra
O fornecimento de eletricidade e a distribuição de água -embora não tratada- estão sendo retomados em algumas áreas de Basra.
Embora a violência e eventuais tiroteios continuem por aqui, os saques também acabaram nas ruas da cidade, que agora estão sendo patrulhadas por apenas 80 policiais iraquianos, monitorados de perto pelas tropas britânicas.
Falar em volta à normalidade seria um exagero em uma cidade onde a população não tem trabalho, os hospitais funcionam sem água e quase todo o comércio está fechado, assim como todas as escolas e universidades.
Mas se percebe pelas ruas cheias de gente que a população começa a retomar seu cotidiano depois da guerra.
Devolução
Em uma das principais mesquitas da cidade, o imã -o líder religioso muçulmano- conclamou os fiéis a devolverem o que foi saqueado durante o caos que tomou conta do lugar depois da chegada das tropas britânicas, sob pena de ficarem à margem da vida religiosa e ainda terem de prestar contas com Allah.
A medida surtiu algum efeito: quando visitei a mesquita, pilhas de alimentos e móveis que haviam sido roubados estavam no pátio do templo. E um outro homem que havia roubado dois caminhões os dirigiu até lá para devolvê-los.
"Levei os caminhões porque eram do governo, então era dinheiro do povo", disse o iraquiano, que não quis dar seu nome.
Mas se o poder temporal de Saddam Hussein já não significa mais nada para ele, o poder espiritual do líder religioso da mesquita Al Junira -grande jardim, em árabe- continua com a força de sempre.
"Devolvi porque o imã mandou", disse.
O responsável pela administração da mesquita, Abdul-Kabhom Uda Hussain, que está a cargo de receber o material devolvido, contou qual foi exatamente a ordem do imã.
"Fazer guerra assim contra o governo é ilegal, então vocês têm que tomar consciência e devolver tudo o que foi roubado, para que Alá possa perdoá-los", teria dito o religioso, segundo Hussain.
Vingança
O administrador afirmou que as pessoas que participaram do saque eram iraquianos de baixo nível educacional, mas disse que não se tratava de criminosos.
"Eles só roubaram coisas que eram do governo porque, na verdade, eram todas do povo", afirmou. "As pessoas não roubaram porque são ladrões, mas sim porque queriam se vingar do governo, machucar o governo que os machucou por tanto tempo", completou.
Mas apesar de Hussain ter sido enfático ao negar que tenha havido roubos a casas particulares, diversos moradores de Basra disseram que foram vítimas dos saqueadores.
Mesmo com a situação já bem mais calma na cidade, Hussain acredita que os prédios públicos ainda podem estar em risco.
"Precisamos da ajuda dos britânicos para proteger as usinas de eletricidade, os correios e outros prédios do governo, porque ainda há muita raiva entre as pessoas", disse.
Especial
Saiba tudo sobre a guerra no Iraque
Violência continua em Basra, mas saques acabaram
PAULO CABRALda BBC, em Basra
O fornecimento de eletricidade e a distribuição de água -embora não tratada- estão sendo retomados em algumas áreas de Basra.
Embora a violência e eventuais tiroteios continuem por aqui, os saques também acabaram nas ruas da cidade, que agora estão sendo patrulhadas por apenas 80 policiais iraquianos, monitorados de perto pelas tropas britânicas.
Falar em volta à normalidade seria um exagero em uma cidade onde a população não tem trabalho, os hospitais funcionam sem água e quase todo o comércio está fechado, assim como todas as escolas e universidades.
Mas se percebe pelas ruas cheias de gente que a população começa a retomar seu cotidiano depois da guerra.
Devolução
Em uma das principais mesquitas da cidade, o imã -o líder religioso muçulmano- conclamou os fiéis a devolverem o que foi saqueado durante o caos que tomou conta do lugar depois da chegada das tropas britânicas, sob pena de ficarem à margem da vida religiosa e ainda terem de prestar contas com Allah.
A medida surtiu algum efeito: quando visitei a mesquita, pilhas de alimentos e móveis que haviam sido roubados estavam no pátio do templo. E um outro homem que havia roubado dois caminhões os dirigiu até lá para devolvê-los.
"Levei os caminhões porque eram do governo, então era dinheiro do povo", disse o iraquiano, que não quis dar seu nome.
Mas se o poder temporal de Saddam Hussein já não significa mais nada para ele, o poder espiritual do líder religioso da mesquita Al Junira -grande jardim, em árabe- continua com a força de sempre.
"Devolvi porque o imã mandou", disse.
O responsável pela administração da mesquita, Abdul-Kabhom Uda Hussain, que está a cargo de receber o material devolvido, contou qual foi exatamente a ordem do imã.
"Fazer guerra assim contra o governo é ilegal, então vocês têm que tomar consciência e devolver tudo o que foi roubado, para que Alá possa perdoá-los", teria dito o religioso, segundo Hussain.
Vingança
O administrador afirmou que as pessoas que participaram do saque eram iraquianos de baixo nível educacional, mas disse que não se tratava de criminosos.
"Eles só roubaram coisas que eram do governo porque, na verdade, eram todas do povo", afirmou. "As pessoas não roubaram porque são ladrões, mas sim porque queriam se vingar do governo, machucar o governo que os machucou por tanto tempo", completou.
Mas apesar de Hussain ter sido enfático ao negar que tenha havido roubos a casas particulares, diversos moradores de Basra disseram que foram vítimas dos saqueadores.
Mesmo com a situação já bem mais calma na cidade, Hussain acredita que os prédios públicos ainda podem estar em risco.
"Precisamos da ajuda dos britânicos para proteger as usinas de eletricidade, os correios e outros prédios do governo, porque ainda há muita raiva entre as pessoas", disse.
Especial
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