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02/05/2003
-
20h51
da BBC, em Londres
O historiador econômico britânico Niall Ferguson cruzou o Atlântico para dar aulas em Nova York, lançar a edição americana do seu livro e tentar convencer os Estados Unidos a assumirem sem vergonha seu status imperial, discussão mais presente do que nunca após a marcha para Bagdá.
Há um majestoso exemplo a seguir, argumenta Ferguson. Em inúmeros artigos publicados nas últimas semanas e no seu livro, ele diz que a ex-colônia americana deveria agora vestir o manto imperial da ex-metrópole britânica, um caminho natural no que ele cunhou de "anglobalização".
Ferguson, 39, é um "enfant terrible" da academia, um dos mais admirados e vilipendiados historiadores nos dias de hoje.
Seu livro nasceu de uma série de seis partes que ele fez para o Canal 4, da televisão britânica, o que levou críticos a rotulá-lo como mais um "telehistoriador" e defensores a enfatizar sua capacidade para tornar temas áridos mais acessíveis para o público em geral.
A questão imperial é uma obsessão para Ferguson desde os tempos em que ele era estudante em Oxford e, 20 anos mais tarde, ele reconhece que sua pesquisa está muito mais apurada, embora o ponto-de-vista conservador seja o mesmo.
Ferguson não nega os pecados capitais imperiais (a escravidão, acima de tudo) e o livro deixa claro que o Império Britânico no século 17 não começou em nome do idealismo, para espalhar ideais, pregar o Evangelho ou estabelecer colônias como uma missão civilizatória.
Era um esforço puramente criminoso com a bênção oficial para encontrar ouro na esteira dos espanhóis e portugueses e, entre seus pioneiros, estava o bucaneiro Henry Morgan.
Ferguson, no entanto, celebra o Império Britânico por aquilo que ele considera sua grande conquista: arrastar o mundo para a era moderna.
Para ele, nenhuma outra organização na história fez mais para promover o livre movimento de capital, trabalho e mercadorias ou para impor normas imparciais da lei e da governança.
Ferguson acredita que um caminho menos violento e cruel para a modernidade era inviável. Cabe agora aos herdeiros americanos assumir o papel imperial nestes tumultuados dias do começo do século 21.
Mas será que os Estados Unidos estão em condições de alçar o vôo e serem mais do que um "império informal"?
Ao contrário dos britânicos nos seus anos dourados, os americanos são devedores e não credores e sua população não está inclinada aos sacrifícios que decorrem da responsabilidade imperial.
Falta vigor para se impor. A hiperpotência americana é impaciente e sem capacidade de concentração na sua tarefa.
Com ironia, Ferguson escreve que outros construtores de império sonhavam em dominar por mil anos. O império americano talvez dure mil dias.
Ferguson é provocador, original e avesso ao polilticamente correto. Dá até para acompanhar a sua lógica desoladora e entender seu sentimento de exasperação com os americanos diante da negação de muitos conservadores para aceitar o status imperial ou da culpa liberal.
Não se pode cobrar de Ferguson o que ele não se propôs a fazer. Ele é um súdito da "angloesfera", vislumbrando o panorama bem do topo.
Mas talvez teria sido interessante se ele tivesse descido ao vale para explorar o ponto-de-vista dos colonizados em relação à grandeza modernizante dos impérios.
Artigo: Império sem vergonha
CAIO BLINDERda BBC, em Londres
O historiador econômico britânico Niall Ferguson cruzou o Atlântico para dar aulas em Nova York, lançar a edição americana do seu livro e tentar convencer os Estados Unidos a assumirem sem vergonha seu status imperial, discussão mais presente do que nunca após a marcha para Bagdá.
Há um majestoso exemplo a seguir, argumenta Ferguson. Em inúmeros artigos publicados nas últimas semanas e no seu livro, ele diz que a ex-colônia americana deveria agora vestir o manto imperial da ex-metrópole britânica, um caminho natural no que ele cunhou de "anglobalização".
Ferguson, 39, é um "enfant terrible" da academia, um dos mais admirados e vilipendiados historiadores nos dias de hoje.
Seu livro nasceu de uma série de seis partes que ele fez para o Canal 4, da televisão britânica, o que levou críticos a rotulá-lo como mais um "telehistoriador" e defensores a enfatizar sua capacidade para tornar temas áridos mais acessíveis para o público em geral.
A questão imperial é uma obsessão para Ferguson desde os tempos em que ele era estudante em Oxford e, 20 anos mais tarde, ele reconhece que sua pesquisa está muito mais apurada, embora o ponto-de-vista conservador seja o mesmo.
Ferguson não nega os pecados capitais imperiais (a escravidão, acima de tudo) e o livro deixa claro que o Império Britânico no século 17 não começou em nome do idealismo, para espalhar ideais, pregar o Evangelho ou estabelecer colônias como uma missão civilizatória.
Era um esforço puramente criminoso com a bênção oficial para encontrar ouro na esteira dos espanhóis e portugueses e, entre seus pioneiros, estava o bucaneiro Henry Morgan.
Ferguson, no entanto, celebra o Império Britânico por aquilo que ele considera sua grande conquista: arrastar o mundo para a era moderna.
Para ele, nenhuma outra organização na história fez mais para promover o livre movimento de capital, trabalho e mercadorias ou para impor normas imparciais da lei e da governança.
Ferguson acredita que um caminho menos violento e cruel para a modernidade era inviável. Cabe agora aos herdeiros americanos assumir o papel imperial nestes tumultuados dias do começo do século 21.
Mas será que os Estados Unidos estão em condições de alçar o vôo e serem mais do que um "império informal"?
Ao contrário dos britânicos nos seus anos dourados, os americanos são devedores e não credores e sua população não está inclinada aos sacrifícios que decorrem da responsabilidade imperial.
Falta vigor para se impor. A hiperpotência americana é impaciente e sem capacidade de concentração na sua tarefa.
Com ironia, Ferguson escreve que outros construtores de império sonhavam em dominar por mil anos. O império americano talvez dure mil dias.
Ferguson é provocador, original e avesso ao polilticamente correto. Dá até para acompanhar a sua lógica desoladora e entender seu sentimento de exasperação com os americanos diante da negação de muitos conservadores para aceitar o status imperial ou da culpa liberal.
Não se pode cobrar de Ferguson o que ele não se propôs a fazer. Ele é um súdito da "angloesfera", vislumbrando o panorama bem do topo.
Mas talvez teria sido interessante se ele tivesse descido ao vale para explorar o ponto-de-vista dos colonizados em relação à grandeza modernizante dos impérios.
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