Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
13/05/2003 - 19h00

Análise: A Arábia Saudita sob fogo cruzado

TARIK KAFALA
da BBC, em Londres

A recusa da Arábia Saudita em receber tropas americanas durante a guerra do Iraque e a subsequente decisão de retirar praticamente todos os militares dos Estados Unidos do país tinha o objetivo de neutralizar a principal queixa de grupos islâmicos radicais, incluindo a Al Qaeda.

A declaração de jihad ("esforço" empreendido na causa de Deus) feita por Osama Bin Laden contra judeus e "inimigos" do Islã em 1998 dizia: "Primeiro os Estados Unidos têm ocupado as terras islâmicas no mais sagrado dos lugares, a península árabe, saqueando suas riquezas, dizendo aos seus governos o que fazer, humilhando seu povo e aterrorizando seus vizinhos".

A dependência e a presença dos Estados Unidos eram fontes de humilhação para muitos sauditas.

Os mais de 50 anos de presença militar americana no país devem terminar ainda neste ano. No seu ápice, durante a invasão do Kuait pelo Iraque, essa presença chegou a centenas de milhares de soldados.

Editoria de Arte/Folha Online


Guerra do Iraque

Durante a guerra do Iraque, o país não ofereceu apoio oficial à coalizão liderada pelos Estados Unidos. Acredita-se, no entanto, que mesmo assim cerca de 10 mil soldados americanos estivessem alocados no país.

Agora, embora a presença militar dos Estados Unidos possa estar chegando ao fim, cerca de 30 mil cidadãos americanos permanecerão no país --alguns trabalhando em centros de treinamento militar, outros nas indústrias de defesa e aeronáutica.

Dezenas de milhares de europeus, canadenses, japoneses e pessoas de outras nacionalidades também trabalham --e vão continuar a trabalhar-- na Arábia Saudita.

O ataque de ontem talvez tenha tido o objetivo de afugentar essas pessoas.

Os ataques também podem ter como objetivo atingir a família real. Mas, para alguns analistas, está claro o que os ataques representam.

Bode expiatório

"O ataque mostra que os americanos eram apenas uma desculpa, um bode expiatório", disse Mohammad al-Khereji, um analista político, à BBC.

"As pessoas por trás desse ataque, sejam da Al Qaeda ou de qualquer outra organização, estão claramente buscando poder político no país e estão jogando o jogo do terrorismo político".

Khereji disse que os ataques deixaram a maior parte dos sauditas chocados e com raiva.

"Se as autoridades sauditas promovessem medidas de segurança significativas em busca dos responsáveis, isso seria muito popular por aqui".

Essa é a opinião oficial saudita --que os responsáveis são extremistas usando o terrorismo e a ideologia islâmica para tentar atingir seus fins políticos.

Outros analistas dizem que há apoio amplo e simpatia pela Al Qaeda na região, inclusive dentro dos serviços de segurança.

No início de maio, os serviços de segurança sauditas anunciaram a descoberta de uma célula terrorista, supostamente ligada à Al Qaeda.

Aproximadamente 400 quilos de explosivos, rifles e dezenas de milhares de dólares foram aparentemente encontrados, mas todos os 19 homens procurados escaparam.

O analista de segurança da BBC, Frank Garner, disse que a fuga de todo o grupo é altamente suspeita.

"Não há dúvida de que o terrorismo relacionado à Al Qaeda tem simpatizantes no Ministério do Interior saudita. As mesmas pessoas que deveriam estar combatendo o terrorismo relacionado à organização são na realidade simpáticas a ela".

De acordo com essa análise, os governantes sauditas enfrentam um desafio por parte da militância islâmica, com vasto apoio doméstico, que quer ver o país mais conservador e fundamentalista, cortando completamente os laços com o Ocidente.

O outro grande receio entre os sauditas pró-Ocidente é que a retirada das forças americanas do país corresponde à redução do status das relações entre sauditas e americanos.

Esses laços têm se desgastado desde os ataques de 11 de setembro de 2001. A Arábia Saudita é a terra natal de Osama Bin Laden e de 15 dos 19 homens suspeitos de terem realizado os ataques suicidas em Nova York e Washington.

Para ambos os lados, o custo dessa relação parece ter sido muito alto.

Com os Estados Unidos buscando a ocupação do Iraque, há a percepção de que a Arábia Saudita está sendo deixada de lado por Washington.

A impopularidade da guerra no Oriente Médio, muitos analistas temem, deve apenas fortalecer o apoio à Al Qaeda, assim como a retirada dos americanos do país pode ser interpretada como uma vitória.

Leia mais
  • EUA corrigem declaração e dizem agora haver 29 mortos em Riad

    Especial
  • Saiba tudo sobre a guerra no Iraque
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página