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14/07/2003
-
13h00
da BBC, em Londres
O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, formalizou o apoio à candidatura do Brasil a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) durante o encontro da Cúpula da Governança Progressista, que reúne 14 líderes mundiais em Surrey, nos arredores de Londres.
A presença do Brasil no Conselho de Segurança constaria do projeto de reforma do conselho que o Reino Unido pretende apresentar em setembro. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, discutiu esse projeto com o colega britânico, Jack Straw.
Ao sair do encontro, no gabinete de Straw em Londres, Amorim disse que o anúncio feito na manhã de hoje por Blair "foi muito positivo em relação ao Brasil e à reforma do Conselho em geral".
"Sem entrar em detalhes, nós discutimos não só o apoio ao Brasil, mas formas de acelerar o processo de reforma", disse Amorim.
Reforma ampla
Entre os líderes progressistas que estão discutindo a chamada Terceira Via, estão o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o chanceler (equivalente a premiê) alemão, Gerard Schröder, e o presidente argentino, Néstor Kirchner.
A proposta de reforma do Conselho de Segurança deve ser recebida com resistência pelos Estados Unidos, mas Amorim acredita que, nesses últimos dez anos, este é o melhor momento para realizar a reforma.
"Você não reforma a casa quando ela está direitinha, mas quando ela tem problemas", disse o ministro.
"Seja pelo ângulo dos Estados Unidos, seja pelo da Rússia, da França ou pelo nosso, é um momento em que claramente os Estados Unidos precisam de reforço", acrescentou.
Segundo o ministro, a reforma envolveria também outras discussões como formas de a ONU lidar com o terrorismo, a questão das armas de destruição em massa e maneiras de o conselho se tornar mais efetivo quando ameaças não justifiquem o uso da força, mas exijam outro tipo de ação das Nações Unidas.
"Isso pode implicar também o reforço do Conselho Econômico e Social da ONU, mas a questão central é a reforma do Conselho de Segurança, porque é o órgão anacrônico em relação às necessidades atuais", afirmou.
Dívida
Apesar de ter angariado o apoio de vários países para a velha aspiração de ganhar um assento permanente no Conselho de Segurança, o Brasil ainda não resolveu o problema da dívida que tem com a ONU.
De acordo com Amorim, o país ainda tem US$ 100 milhões em atrasados na sua contribuição, mas isso não é um fator impeditivo.
Ele disse que tem discutido frequentemente com o presidente Lula a questão do orçamento da política externa, pela necessidade de proteger brasileiros no exterior e para contribuições em organismos internacionais.
O chanceler ressaltou, no entanto, que passar a integrar o Conselho de Segurança não encareceria tanto a contribuição brasileira.
"O custo é mínimo, comparado com o que representa o assento no Conselho Permanente e a maior parte dos pagamentos são referentes à contribuição regular, que varia de acordo com o Produto Interno Bruto de cada país."
O maior custo seria o de enviar tropas para integrar missões de paz, uma obrigação dos membros permanentes do Conselho.
Veto
Outro problema que o Brasil deve enfrentar na negociação da reforma é a questão do veto.
De acordo com a proposta britânica, o Conselho seria ampliado de cinco para dez países. Os cinco integrantes originais do Conselho (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido) manteriam o poder de veto e os cinco novos não teriam o mesmo direito.
"A questão do veto é problemática e somos realistas a ponto de saber que não poderemos eliminar o veto dos atuais membros permanentes, porque eles poderiam vetar a proposta", admitiu o ministro, que levantou a possibilidade de negociar restrições ao veto.
Amorim também comentou a disputa e a possível insatisfação de outros candidatos: "Não é uma Copa do Mundo, que você se classifica, disputa sua vaga. São países que podem fazer uma diferença".
O México é outro forte candidato na América Latina a uma vaga no Conselho.
Comércio internacional e Oriente Médio
Os dois ministros também falaram de temas econômicos, como as negociações de liberalização do comércio da Rodada de Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio), sobre o maior engajamento do Reino Unido nas negociações entre a UE (União Européia) e o Mercosul e sobre o processo de paz no Oriente Médio.
O Reino Unido tem uma posição semelhante à do Brasil com relação à eliminação dos subsídios agrícolas de exportação, já que o país arca com uma boa parte dos recursos, que consomem quase 50% do orçamento da UE.
Segundo Amorim, na parte bilateral com o Mercosul, o Brasil gostaria que o Reino Unido "estivesse mais engajada", e Jack Straw disse que tem interesse neste engajamento.
O ministro brasileiro também expôs a política do presidente Lula de prioridade para a América do Sul, "que cria oportunidades para investimentos de empresas britânicas e européias, principalmente no setor de infra-estrutura".
Blair apóia entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU
CASSUÇA BENEVIDESda BBC, em Londres
O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, formalizou o apoio à candidatura do Brasil a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) durante o encontro da Cúpula da Governança Progressista, que reúne 14 líderes mundiais em Surrey, nos arredores de Londres.
A presença do Brasil no Conselho de Segurança constaria do projeto de reforma do conselho que o Reino Unido pretende apresentar em setembro. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, discutiu esse projeto com o colega britânico, Jack Straw.
Ao sair do encontro, no gabinete de Straw em Londres, Amorim disse que o anúncio feito na manhã de hoje por Blair "foi muito positivo em relação ao Brasil e à reforma do Conselho em geral".
"Sem entrar em detalhes, nós discutimos não só o apoio ao Brasil, mas formas de acelerar o processo de reforma", disse Amorim.
Reforma ampla
Entre os líderes progressistas que estão discutindo a chamada Terceira Via, estão o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o chanceler (equivalente a premiê) alemão, Gerard Schröder, e o presidente argentino, Néstor Kirchner.
A proposta de reforma do Conselho de Segurança deve ser recebida com resistência pelos Estados Unidos, mas Amorim acredita que, nesses últimos dez anos, este é o melhor momento para realizar a reforma.
"Você não reforma a casa quando ela está direitinha, mas quando ela tem problemas", disse o ministro.
"Seja pelo ângulo dos Estados Unidos, seja pelo da Rússia, da França ou pelo nosso, é um momento em que claramente os Estados Unidos precisam de reforço", acrescentou.
Segundo o ministro, a reforma envolveria também outras discussões como formas de a ONU lidar com o terrorismo, a questão das armas de destruição em massa e maneiras de o conselho se tornar mais efetivo quando ameaças não justifiquem o uso da força, mas exijam outro tipo de ação das Nações Unidas.
"Isso pode implicar também o reforço do Conselho Econômico e Social da ONU, mas a questão central é a reforma do Conselho de Segurança, porque é o órgão anacrônico em relação às necessidades atuais", afirmou.
Dívida
Apesar de ter angariado o apoio de vários países para a velha aspiração de ganhar um assento permanente no Conselho de Segurança, o Brasil ainda não resolveu o problema da dívida que tem com a ONU.
De acordo com Amorim, o país ainda tem US$ 100 milhões em atrasados na sua contribuição, mas isso não é um fator impeditivo.
Ele disse que tem discutido frequentemente com o presidente Lula a questão do orçamento da política externa, pela necessidade de proteger brasileiros no exterior e para contribuições em organismos internacionais.
O chanceler ressaltou, no entanto, que passar a integrar o Conselho de Segurança não encareceria tanto a contribuição brasileira.
"O custo é mínimo, comparado com o que representa o assento no Conselho Permanente e a maior parte dos pagamentos são referentes à contribuição regular, que varia de acordo com o Produto Interno Bruto de cada país."
O maior custo seria o de enviar tropas para integrar missões de paz, uma obrigação dos membros permanentes do Conselho.
Veto
Outro problema que o Brasil deve enfrentar na negociação da reforma é a questão do veto.
De acordo com a proposta britânica, o Conselho seria ampliado de cinco para dez países. Os cinco integrantes originais do Conselho (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido) manteriam o poder de veto e os cinco novos não teriam o mesmo direito.
"A questão do veto é problemática e somos realistas a ponto de saber que não poderemos eliminar o veto dos atuais membros permanentes, porque eles poderiam vetar a proposta", admitiu o ministro, que levantou a possibilidade de negociar restrições ao veto.
Amorim também comentou a disputa e a possível insatisfação de outros candidatos: "Não é uma Copa do Mundo, que você se classifica, disputa sua vaga. São países que podem fazer uma diferença".
O México é outro forte candidato na América Latina a uma vaga no Conselho.
Comércio internacional e Oriente Médio
Os dois ministros também falaram de temas econômicos, como as negociações de liberalização do comércio da Rodada de Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio), sobre o maior engajamento do Reino Unido nas negociações entre a UE (União Européia) e o Mercosul e sobre o processo de paz no Oriente Médio.
O Reino Unido tem uma posição semelhante à do Brasil com relação à eliminação dos subsídios agrícolas de exportação, já que o país arca com uma boa parte dos recursos, que consomem quase 50% do orçamento da UE.
Segundo Amorim, na parte bilateral com o Mercosul, o Brasil gostaria que o Reino Unido "estivesse mais engajada", e Jack Straw disse que tem interesse neste engajamento.
O ministro brasileiro também expôs a política do presidente Lula de prioridade para a América do Sul, "que cria oportunidades para investimentos de empresas britânicas e européias, principalmente no setor de infra-estrutura".
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