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08/08/2003 - 18h46

''Cerca'' israelense inclui arame farpado, valas, sensores e vídeo

GUILA FLINT
da BBC, Enviada especial à Cisjordânia

Os palestinos chamam o obstáculo físico que Israel está construindo na Cisjordânia de ''muro''. Já os israelenses o chamam de ''cerca''.

Segundo os palestinos, o muro é uma violação grave do plano de paz, pois define de maneira unilateral novas fronteiras, confiscando terras pertencentes aos palestinos e anexando a Israel assentamentos construídos nos territórios ocupados.

Porta-vozes israelenses dizem que a cerca não tem objetivos políticos e só visa garantir a segurança, impedindo a passagem de palestinos, depois que, nos últimos 34 meses, mais de 900 israelenses foram mortos em atentados realizados por militantes palestinos.

Para a jornalista israelense Amira Hass, correspondente do jornal ''Haaretz'' em Ramallah, o obstáculo físico que Israel está construindo na Cisjordânia é muito mais do que um muro ou uma cerca.

''Trata-se de um grande complexo de fortificações que incluem, em alguns trechos, muros de concreto de oito metros de altura e, em outros, arame farpado, cercas com sensores eletrônicos, valas com três metros de profundidade, câmeras de vídeo em circuito fechado, estradas especiais para as patrulhas das cercas, torres de controle etc.''

Fracasso

A idéia de construir um obstáculo físico para separar israelenses de palestinos surgiu depois do fracasso da Conferência de Camp David, em julho de 2000.

Naquela época, políticos trabalhistas, como os ex-ministros Haim Ramon e Matan Vilnai, propuseram que, ''em vista da falta de solução política para o conflito, é necessário construir um muro para impedir a passagem de terroristas palestinos em direção a Israel''.

No início a idéia foi rejeitada pela direita israelense, pois a intenção dos trabalhistas era construir o muro sobre a chamada ''linha verde'', a fronteira original entre Israel e a Cisjordânia, e a construção poderia dar a entender que Israel iria desistir da ocupação dos territórios que controla desde a guerra de 1967.

Porém a idéia de construir um muro teve amplo apoio da população. Os civis israelenses, traumatizados pela grande frequência de atentados suicidas em suas cidades, se convenceram que um muro iria protegê-los.

O governo do primeiro ministro Ariel Sharon resolveu então adotar a idéia do muro, porém fez uma mudança fundamental: o muro não passaria mais na chamada ''linha verde'' (a fronteira original), mas sim dentro dos territórios palestinos e anexaria a Israel partes da Cisjordânia que incluiriam assentamentos israelenses lá instalados.

''Faixas de segurança''

O projeto de construção começou há um ano, e o primeiro trecho foi concluído no dia 1º de agosto. Este primeiro trecho consiste de 147 km em três partes principais:

- Dois muros de concreto de 8 metros de altura, um deles cercando a cidade de Qalqilya (14 km), e o outro cercando a cidade de Tulkarem (mais 10 km);

- Cento e um quilômetros de cercas, valas e cercas eletrônicas ao longo da parte noroeste da Cisjordânia;

- Mais dois trechos de cercas semelhantes ao sul e ao norte de Jerusalém ao norte a cerca separa Jerusalém de Ramallah, e ao sul, Jerusalém de Belém (ao todo 22 km de cerca).

Vale notar que as cercas são de fato ''faixas de segurança'', que tem em alguns pontos 45 metros de largura e em outros podem chegar a 75 metros e mesmo 100 metros.

Confisco

As terras nas quais as cercas foram construídas foram confiscadas de proprietários palestinos, e as cercas em muitos casos isolam agricultores de suas terras.

Segundo Michael Tarazi, assessor jurídico da equipe de negociação palestina, ''o muro israelense invade os territórios que seriam destinados ao Estado palestino, expulsa agricultores de suas terras, anexa assentamentos a Israel e destrói a possibilidade de sucesso do novo plano de paz''.

Um dos idealizadores da idéia do muro, o trabalhista Matan Vilnai, afirmou que ''Ariel Sharon deturpou a idéia do muro de proteção e o transformou em um muro de anexação''.

Segundo Vilnai, se o muro passasse na fronteira original, ele teria 360 km de extensão, mas agora, com o novo delineamento programado para anexar partes da Cisjordânia, o cumprimento do muro pode chegar a 700 km.

O diretor-geral do Ministério da Defesa, Amos Yaron, afirmou que o segundo trecho do projeto será concluído até dezembro deste ano e deverá consistir de mais 50 km de cercas ao redor da parte norte da Cisjordânia.

Anexação

Ainda não se sabe qual será o delineamento dos outros trechos do muro.

Segundo analistas, a estratégia do primeiro-ministro Ariel Sharon é de continuar o projeto também na parte leste da Cisjordânia e fechar o acesso dos palestinos à Jordânia, anexando a Israel toda a área do Vale do Jordão.

Se a avaliação dos analistas se confirmar, o muro poderá resultar na anexação de mais de 50% das terras da Cisjordânia a Israel.

Este projeto despertou as criticas do governo americano, a fúria dos palestinos e a polêmica dentro da sociedade israelense.

A continuação do projeto devera depender principalmente da atitude dos Estados Unidos.

Segundo os analistas, se o presidente George W. Bush exercer uma pressão enérgica contra o delineamento do projeto, existe a possibilidade de que o governo israelense não tenha outra alternativa exceto mudá-lo.

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