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12/08/2003 - 14h30

Kelly aprovou termos de reportagem, diz jornalista da BBC

da BBC, em Londres

O repórter da BBC Andrew Gilligan afirmou hoje que o especialista em armas britânico David Kelly autorizou a utilização da informação de que o governo britânico teria "tornado mais atraente" (tradução livre para a expressão em inglês sexed up) um dossiê sobre o programa de armas do Iraque.

"Ele [Kelly] concordou com o que eu poderia utilizar, e ele sabia quem eu era e onde eu trabalhava", disse Gilligan durante depoimento na Corte Real de Justiça, em Londres, para o inquérito que investiga a morte de Kelly.

O jornalista admitiu, no entanto, que foi ele próprio quem introduziu a palavra "sexy" e que, a partir de então, Kelly também teria adotado a expressão.

Gillingan afirmou ainda que garantiu a Kelly que as conversas entre os dois foram em off (jargão jornalístico para diálogos condicionados ao anonimato da fonte) e que as informações reveladas pelo cientista não seriam atribuídas a ele.

Autorização

De acordo com o repórter, Kelly também autorizou a utilização de parte das informações reveladas por ele sobre:

- a maneira como o dossiê foi modificado;
- a insatisfação dos serviços de inteligência com as mudanças no dossiê;
- o papel de Alastair Campbell (chefe de comunicações do gabinete do primeiro-ministro britânico, Tony Blair) nas alterações no dossiê;
- e a falta de uma segunda fonte para a alegação de que o Iraque poderia iniciar um ataque 45 minutos depois de uma ordem do então presidente Saddam Hussein.

"O responsável"

De acordo com Gilligan, Kelly "estava expressando sua opinião profissional sobre o dossiê" quando conversou com o jornalista da BBC.

Gilligan afirmou ainda que perguntou como Kelly preferiria ser descrito: como "um dos responsáveis" ou como "o responsável" pelo esboço do dossiê. Segundo o repórter, o cientista aprovou qualquer uma das duas opções.

O jornalista disse que também tentou falar com Kelly por duas vezes após a veiculação da reportagem sobre o dossiê, mas não conseguiu falar com o cientista e deixou uma mensagem na secretária eletrônica.

O repórter disse que não tentou ligar para o celular de Kelly porque pensou que o aparelho podia estar sendo monitorado pelos serviços de inteligência britânicos.

45 minutos

Durante mais de cinco horas de depoimento, Gilligan disse que foi David Kelly quem primeiro abordou o papel de Campbell nas mudanças do dossiê e na alegação sobre um possível ataque iraquiano em 45 minutos.

Segundo Gilligan, Kelly não sugeriu que a alegação do ataque em 45 minutos foi inventada, mas que a informação não deveria ter sido incluída no dossiê porque não era confiável.

De acordo com o jornalista, Kelly afirmou que a alegação de que o Iraque poderia lançar um ataque em 45 minutos era um exemplo "clássico" de como o dossiê foi alterado.

O repórter teria perguntado como ocorreu a mudança. "A resposta [de Kelly] foi aquela única palavra, ele disse 'Campbell'", afirmou Gilligan.

O chefe de comunicações de Blair, no entanto, nega a informação atribuída por Gilligan a Kelly de forma veemente.

Antes de morrer, Kelly também negou --em um depoimento ao Comitê de Assuntos Externos do Parlamento-- ter utilizado o nome de Campbell em seus encontros com Gilligan.

O jornalista da BBC disse que o nome de Campbell só não foi mencionado na reportagem sobre o dossiê porque ele "não queria criar um impasse" com o assessor de Blair.

Alguns dias depois da veiculação da reportagem na BBC, no entanto, Gilligan escreveu um artigo para o jornal britânico "Mail on Sunday" em que atribuía a Campbell a inclusão da alegação sobre um possível ataque em 45 minutos no dossiê.

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