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20/08/2003 - 13h00

Objetivo do ataque é radicalizar conflito no Iraque, diz analista

O professor de Relações Internacionais do Instituto de Estudos Políticos de Paris, Alfredo Valladão, diz que quem realizou o atentado a bomba que matou pelo menos 17 pessoas na sede da ONU em Bagdá --inclusive o representante máximo da organização no Iraque, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello-- quer criar uma situação de confronto direto com as forças americanas no país.

"Os autores dessa horrenda chacina escolheram muito bem o alvo. Porque a idéia deles é tentar impedir que a ONU tenha um papel mais importante no Iraque, para manter a confrontação direta com as forças anglo-americanas", disse Valladão. "Eu acho que no espírito perverso dos terroristas, eles acham que é mais fácil mobilizar uma parte descontente dos iraquianos contra os americanos do que contra a ONU, e assim manter uma guerra acesa."

O professor diz ver no ataque em Bagdá "uma guerra declarada contra a comunidade internacional". Segundo Valladlão, a ONU representa o espírito de cooperação dessa comunidade e ela encarna a legitimidade internacional e o multilateralismo, e é isso o que os terrorismos local e global tentam atingir".

Valladão diz que a comunidade internacional se vê diante de uma encruzilhada.

"Ou bem a comunidade internacional, isto é, todos os países membros da ONU, até os menores e mais fracos, dão condições para que a ONU possa se defender e combater também o terrorismo de maneira o mais determinada possível, ou então as Nações Unidas vão se tornar rapidamente irrelevantes, e isso vai abrir ainda mais o espaço para que os estados que estão a fim de encarar o problema o façam sem pedir licença a ninguém."

"Multilateralismo com dentes"

Segundo o professor, os países que integram a ONU precisam rever o papel da organização no mundo atual.

"Os Estados-membros que têm que tomar essa decisão de rever o seu papel para não acabar como a Liga das Nações. Eu acho que hoje nunca foi mais necessário do que o que eu sempre chamei de multilateralismo com dentes", disse o analista.

"Nós temos que reabrir urgentemente o velho debate que sempre houve na ONU sobre o papel do comitê do Estado Maior da ONU, sobre a questão das forças militares permanentes que seriam postas à disposição da ONU pelos estados-membros, e sobretudo sobre a reforma da Carta, particularmente do capítulo sete, que trata das condições de intervenção armada para adaptá-lo às novas ameaças do terrorismo, à destruição maciça."

"A ONU não tem condições de sobreviver se continuar sendo um clube onde só se fala e onde todos os Estados, por mais ditatoriais que sejam, têm o mesmo papel que os países democráticos. É preciso haver uma reformulação completa das Nações Unidas", concluiu Alfredo Valadão.

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