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28/08/2003 - 14h18

Programa espacial não avança sem recursos, diz especialista

A explosão do foguete lançador de satélites brasileiro, na base de Alcântara no Maranhão, na última sexta-feira (22), pode contribuir para que o país passe a investir mais em seu programa espacial.

De acordo com Petrônio Noronha de Souza, coordenador da Estação Espacial Internacional do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), "um acidente como esse infelizmente talvez contribua para chamar atenção para a importância estratégica do programa e para a alocação de mais recursos no futuro".

Em entrevista ao programa "De Olho no Mundo", uma co-produção da BBC Brasil e da rádio Eldorado/Estadão em São Paulo, Noronha de Souza afirmou: "Se tivermos de manter o programa espacial com o nível atual de recursos, não iremos muito além do que temos hoje ou iremos evoluir em um ritmo muito lento".

O coordenador disse que em comparação com países em estágios semelhantes de desenvolvimento, ou que estavam em estágios semelhantes há uma ou duas décadas, como a Índia ou a China, a quantidade de recursos alocados no programa espacial brasileiro é muito modesta.

Encruzilhada

A Índia, por exemplo, tem um orçamento dez vezes maior que os US$ 30 milhões destinados ao programa espacial brasileiro este ano. Já o governo da China anunciou que espera enviar seu primeiro astronauta ao espaço ainda em 2003.

"Estamos em uma encruzilhada", resumiu Souza, ao dizer que não é segredo para ninguém que os recursos para o programa espacial brasileiro são muito limitados.

O astrônomo Marcio Catelan e professor da PUC de Santiago do Chile cita o ex-presidente sul-africano, Nelson Mandela, ao defender a destinação de mais recursos para a pesquisa aeroespacial no Brasil.

"Mandela disse que a África do Sul é demasiadamente pobre para se dar ao luxo de não investir em ciência e tecnologia. Então eu também acho que no Brasil a gente também deve investir", argumenta.

Catelan ressaltou que as restrições orçamentárias não se aplicam só ao caso brasileiro, mas também ao programa espacial norte-americano, já que a Nasa enfrenta cortes em seu orçamento desde o fim do projeto Apolo.

E o relatório com as conclusões da investigação independente sobre a explosão do ônibus espacial Columbia em fevereiro, divulgado nesta semana, "afirma que comprometimentos orçamentários podem ter levado a falhas de segurança que contribuíram para o acidente", afirmou.

Combustível sólido

Noronha de Souza defendeu o uso do combustível sólido nos foguetes brasileiros, que vem sendo apontado como a principal causa do acidente em Alcântara, que matou 21 técnicos e engenheiros brasileiros.

"A afirmação de que existem outras tecnologias e outras nações mais desenvolvidas as utilizam é correta. Afirmar que o uso de combustível sólido em foguetes é ultrapassado, não", afirma.

Ele citou os motores de combustível sólido dos tubos laterais que lançam o ônibus espacial. E um dos mais avançados lançadores (de satélites) em uso no mundo --o Ariane 5, desenvolvido pelos europeus-- que também utiliza o combustível sólido em seus foguetes auxiliares laterais.

"Os motores de foguete com combustível sólido não foram e provavelmente não serão descartados", acredita Souza.

O problema que existe com o Brasil, para ele, é que não se conseguiu avançar para as tecnologias que utilizam combustível líquido e desenvolver os lançadores mais modernos, que usam a tecnologia híbrida, com motores movidos a combustível sólido e líquido. "Mas o uso do combustível líquido não é em si uma tecnologia ultrapassada".

Investigação

No caso da investigação do acidente com o ônibus espacial Columbia, as conclusões da investigação independente vão obrigar a Casa Branca e o Congresso americano a definirem melhor os destinos e os recursos do programa espacial americano.

Para Souza, apesar de no caso brasileiro a investigação oficial ainda está em caráter embrionário, "os próximos passos ainda não estão claramente definidos", assim como o impacto que as conclusões da investigação terá no programa como um todo.

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