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29/08/2003 - 15h20

Oposição da Venezuela cria baralho para denunciar "chavistas"

VALQUÍRIA REY
da BBC, em Caracas (Venezuela)

Inspirada no exemplo dos Estados Unidos, que utilizaram cartas de baralho para identificar os aliados do ex-líder iraquiano Saddam Hussein, um grupo de oposição ao governo da Venezuela decidiu catalogar militares e policiais fiéis ao presidente, Hugo Chávez.

Um jogo de cartas com fotos, nomes e cargos dos "chavistas" --como são chamados os simpatizantes do presidente-- começará a ser comercializado em Caracas na próxima semana.

Reuters - 15.dez.2002
Hugo Chávez, presidente da Venezuela
William Ojeda, secretário geral do partido Um Só Povo (USP), acusa Chávez de agir como "ditador" e de "politizar" as Forças Armadas.

No entanto, Ojeda afirma que o jogo não tem o objetivo de estimular animosidades, atentados, ou ações violentas contra essas autoridades.

Responsabilidade

"Queremos apenas que as pessoas conheçam os protagonistas do processo político que estamos vivendo na Venezuela", disse Ojeda.

"Esses funcionários públicos têm a responsabilidade de garantir a paz. Nós estamos fazendo esse jogo para estimular a paz no país", acrescentou.

O deputado governista Luis Tascón discorda. De acordo com ele, idéias como essa devem ser consideradas um "chamado ao fascismo e ao ódio".

"Esse tipo de atitude já não tem mais sentido", disse ele. "A oposição não tem mais força para derrubar o presidente da República. Isso é terrível porque está apontando essas pessoas como se fossem criminosas."

Indicadores sociais

No baralho, a série de ases apresenta indicadores sociais que, segundo Ojeda, pioraram no período de Chávez no governo: desemprego, salário mínimo, custo da cesta básica e desnutrição.

No verso de todas as cartas, está escrito um capítulo da Constituição venezuelana que trata do papel das Forças Armadas e proíbe seus integrantes de ter militância política.

A estratégia dos opositores para tirar Chávez da presidência não pára por aí.

Na página da internet que anuncia o baralho também aparecem ofensas ao presidente e um convite para que os visitantes lembrem dos rostos das pessoas que apóiam ou participam do governo, que, de acordo com a oposição, levou a Venezuela à pior crise de sua história.

"A intenção dessa página é que os venezuelanos de bem e do mundo conheçam as caras e os antecedentes dos protagonistas desse processo político, que se bem chegou ao poder por meio do voto popular, tem traído todos os defensores da democracia, transgredindo reiteradamente as leis", diz um texto no site.

Atentado

Entre os catalogados no Reconocelos, aparece o deputado governista Juan Barreto, que foi vítima de um atentado com explosivos no início da semana.

Assim como os governistas utilizam todos os artifícios possíveis para impedir ou prorrogar a realização do referendo, que poderá decidir o futuro de Chávez na Presidência, a oposição é acusada de falsificar listas com nomes de mais de 3 milhões de pessoas que protocolaram o pedido de votação.

Segundo o deputado Luis Tascón, responsável pela divulgação das listagens na internet, até o momento foram identificadas mais de mil pessoas que tiveram seus nomes utilizados indevidamente.

"Nem eu, nem a minha filha somos políticas ou nos envolvemos com esse tipo de assunto", diz a aposentada Celina. '"Acho que um dos bancos em que temos conta forneceu nossos dados para eles."

Direitos

O engenheiro Germán Boscán Silva também teve seu nome incluído sem que tivesse autorizado.

"Não aprovo o que eles fizeram e quero buscar meus direitos", disse. "Ainda não sei se posso entrar com um processo judicial. Gostaria, pelo menos, que eles se desculpassem por isso."

A oposição também tem em marcha um plano de contingência para se proteger de um possível confronto com chavistas.

"Estamos organizados em cada uma das ruas, cada bairro, cada edifício", informa Ernán Millán, um dos responsáveis pela segurança da oposição venezuelana.

"Acreditamos que existe uma delinquência política que pode fazer o mesmo que a delinquência comum, apoiados na situação política."

Segundo Millán, a oposição decidiu se organizar para evitar atos violentos, saques no comércio e nas propriedades privadas.

De acordo com ele, o projeto conta com o apoio de empresas de vigilância e da polícia nos municípios em que a oposição está na prefeitura.

Millán nega que as pessoas estejam armadas e diz que a base do trabalho da oposição é a comunicação.

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