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29/08/2003 - 16h10

Leia entrevista em que assessor de Blair conta por que renunciou

da BBC, em Londres

Logo após a confirmação de sua renúncia, o ex-diretor de comunicação do governo britânico Alastair Campbell concedeu uma entrevista ao editor de política da BBC, Andrew Marr.

Na conversa com o jornalista, Campbell se recusou a falar sobre o inquérito que investiga a morte do especialista em armas David Kelly. O perito foi apontado pelo governo britânico como a fonte de uma reportagem da BBC que sugeriu que o governo britânico "maquiou" o dossiê sobre armas no Iraque para fortalecer a posição pró-guerra.

Campbell, no entanto, negou a fama de "trator político impiedoso" e disse que decidiu deixar o governo por razões pessoais.

Leia a seguir a íntegra da entrevista concedida por Alastair Campbell à BBC.

BBC - Por que o senhor renunciou?
Alastair Campbell - É um cargo extraordinariamente privilegiado para se ocupar, e eu tive a experiência mais extraordinária de permanecer nesse cargo pelo tempo em que permaneci.

Mas, para tudo de positivo que consegui neste trabalho, houve uma parte negativa em termos de pressão sobre o meu tempo, e a família são as pessoas que enfrentam o peso disso.

Eu apenas senti que era a hora certa de sair. Achei que, se eu não iria permanecer por todo o mandato, então era provavelmente a hora de partir e deixar alguém vir e fazer o trabalho.

BBC - O senhor acredita que se tornou "o assunto" com muita frequência?
Campbell - As pessoas dizem "bem, é um problema porque você se tornou o assunto" e eles continuam falando de você e escrevendo sobre você, e não há muito que você possa fazer a respeito.

Mas, de qualquer forma, eu nunca aceitei essa premissa. Não tenho poder, nunca tive, independentemente do primeiro-ministro, que é eleito.

Eu sempre estive lá para servir ao primeiro-ministro e ao governo da maneira que o primeiro-ministro e os outros ministros quisessem.

BBC - Mas o senhor esteve em foco neste governo de uma maneira que ninguém com um cargo como o seu jamais esteve?
Campbell - Qualquer coisa que eu tenha feito, fiz porque o primeiro-ministro queria que eu trabalhasse para ele, e para o governo, de determinada maneira.

A cada dia, fiz esse trabalho, tanto na oposição quanto no governo. Fiz o melhor que eu pude.

Fiz isso por causa daquilo em que acredito. Fiz isso por causa das minhas crenças fundamentais no Partido Trabalhista, em seus valores, seus princípios e convicções.

BBC - Um dos seus colegas descreveu o senhor como um "trator político impiedoso". Como o senhor avalia essa definição?
Campbell - Eu não me vejo como impiedoso, mas sempre fui decidido, e sempre acreditei no que acredito muito, muito profundamente.

Não acho que você possa fazer um trabalho como esse a menos que você creia no que acredita muito profundamente, porque as pressões podem ser muito intensas, e as horas são muito exaustivas, e as situações com as quais você tem que lidar são muito desafiadoras e complicadas.

BBC - O que o senhor acredita ter acrescentado a Tony Blair e ao governo?
Campbell - Sempre tentei dar a Tony Blair e aos ministros honestidade, conselhos diretos e conselhos sobre qualquer situação em que nós pudéssemos estar envolvidos. E nós estamos envolvidos em muitas situações difíceis e complicadas em boa parte do tempo.

Nós sempre tivemos uma relação muito franca, direta, e uma relação construída na confiança.

BBC - Muitas pessoas dizem que a plantação de informações se tornou para esse governo o que a corrupção foi para o governo anterior e, de certa forma, por isso chegou a hora de o senhor deixar o governo.
Campbell - Senti que era certo seguir adiante porque isso é o que eu e minha família queríamos que eu fizesse.

Acho que, em relação a todas essas questões sobre a maneira como a política e a mídia se relacionam, há questões muito complicadas e interessantes que precisam ser abordadas.

Mas é uma rua de duas mãos. Quero dizer, estamos envolvidos nisso das duas maneiras.

Eu sempre tentei fazer esse trabalho o melhor que pude, baseado nas convicções fundamentais que tenho.

BBC - E quanto àquelas pessoas que acreditam que sua renúncia tem de ter alguma relação com o inquérito Hutton [que investiga a morte do cientista David Kelly]?
Campbell - Concordei com o primeiro-ministro, em abril, que sairia definitivamente no verão [europeu], e não quero dizer nada sobre o inquérito Hutton.

Agora, vou ficar por perto por um curto período para ajudar na transição do cargo para a pessoa que chegar. E, então, vou continuar a me interessar em política, e em escrever, e em comunicação, e em todo o tipo de coisas.

Quero trabalhar mais com a instituição de caridade para leucemia com a qual eu estive envolvido, e quero me envolver mais com o esporte, que é uma das minhas grandes paixões.

Mas a coisa que eu mais quero é recuperar uma vida para mim e para minha família.

BBC - E o seu diário?
Campbell - Sei que o diário atraiu um certo interesse desde que sua existência foi revelada no inquérito.

Mas você pode estar certo que qualquer coisa que eu escreva vai ficar de lado por algum tempo.

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