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29/08/2003 - 22h10

Análise: Ataque no Iraque aponta para novas alianças

ROGER HARDY
da BBC, em Londres

Um importante líder xiita no Iraque, o aiatolá Mohammed Baqir al Hakim, foi morto em uma explosão na cidade de Najaf.

O ataque ocorreu depois das orações da sexta-feira no túmulo de Ali, um dos locais mais sagrados para os xiitas. Outras dezenas de pessoas foram mortas.

O assassinato de Al Hakim ocorre em meio a um conflito amargo pelo poder entre os iraquianos xiitas.

Ainda assim, muitos analistas --e também muitos xiitas-- dizem acreditar que os responsáveis pelo ataque são de fora da comunidade.

As suspeitas caíram, inevitavelmente, em elementos ainda leais ao velho regime de Saddam Hussein --que tratava os xiitas com desconfiança e os oprimia brutalmente.

"Divisão"

Mas também é possível que uma aliança tática esteja surgindo entre aqueles que são leais ao regime de Saddam Hussein e militantes islâmicos que entraram no Iraque nos últimos meses.

Desde a queda de Saddam Hussein, a comunidade xiita tem se dividido entre cooperar ou não com a administração liderada pelos Estados Unidos.

Os aiatolás são críticos aos americanos, mas estão prontos para cooperar com eles.

Essa é a visão de dois dos principais grupos xiitas --o partido Daawa e o grupo do aiatolá Al Hakim, o Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque (Sciri, na sigla em inglês).

Essa abordagem vem sendo duramente criticada por um grupo liderado por um jovem radical xiita, Muqtada al Sadr.

Ele já foi acusado por ataques anteriores a líderes xiitas, mas tem negado veementemente qualquer envolvimento com eles.

No domingo (24), houve um ataque a bomba em Najaf que tinha como alvo o tio de Al Hakim, também um respeitado aiatolá. Ele escapou com apenas alguns arranhões, mas três de seus guarda-costas foram mortos.

Dívida antiga

Em abril, em Najaf, quando o regime de Saddam Hussein estava caindo, uma multidão enraivecida atacou e matou Abdel Majid al Khoei, um jovem clérigo que havia retornado de seu exílio em Londres e estava trabalhando com os americanos.

Mas as tensões e rivalidades dentro da comunidade xiita podem proporcionar o contexto, e não as causas diretas, do assassinato de Al Hakim.

Atacar um líder popular depois das orações de sexta-feira, ainda mais em um dos templos mais venerados, é profundamente repugnante para a maioria dos xiitas.

A especulação então se volta ao mesmo grupo suspeito de ter realizado o ataque contra a missão da ONU (Organização das Nações Unidas) em Bagdá na semana passada.

Os responsáveis podem ser iraquianos nacionalistas, sunitas islâmicos estrangeiros, ou até mesmo uma aliança desses dois grupos.

Para qualquer um desses grupos, matar um líder xiita importante teria dois resultados.

Seria um acerto de contas contra os xiitas, aos quais são hostis. E também seria uma forma de atacar os americanos, por desestabilizarem o país ainda mais.

Para os americanos, os xiitas, que representam 60% da população iraquiana, são cruciais para o sucesso da ocupação.

Para que a segurança seja mesmo restabelecida, é vital para os americanos que o sul --de maioria xiita-- se mantenha livre de violência, como tem estado, de maneira geral, desde a queda de Saddam.

Igualmente importante, os xiitas, como a maior comunidade, devem ser integrados com sucesso à nova estrutura política do país.

O assassinato de Al Hakim poderá complicar o alcance desses dois objetivos.

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