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01/09/2003
-
15h40
da BBC, em Londres
David Kelly acabou sua vida se sentido traído e desvalorizado por seus mentores políticos.
Nas palavras pungentes de sua viúva, Janice --que depôs hoje no inquérito que investiga a morte do cientista-- ele tinha o coração partido e estava consternado pela maneira como estava sendo tratado.
O homem que "suou a camisa por seu país" estava sendo descartado como um funcionário menor, que estava sendo publicamente censurado por seus chefes no Ministério da Defesa por ter conversado secretamente com Andrew Gilligan, jornalista da BBC.
Em tom comedido e sem alarde, Janice Kelly fez um retrato radicalmente diferente do que até agora vinha sendo oferecido ao inquérito.
Tempestade
Foi o retrato de um homem no topo de sua profissão, central para o programa de inspeções de armas, e que estava profundamente comprometido com seu trabalho.
A tempestade que o engolfou depois de ter sido identificado como a possível fonte da reportagem de Gilligan deixou Kelly perturbado, com raiva, preocupado com seu futuro e, em última análise, abalado por tudo.
A viúva não fez acusações. Em vez disso, ela deixou falar por si próprio seu testemunho simples, sem emoções.
O resultado, apesar disso, foi devastador.
Críticas
O testemunho aguçou dramaticamente as críticas já feitas ao ministro da Defesa, Geoff Hoon, e a funcionários de Downing Street (onde fica o gabinete do primeiro-ministro, Tony Blair) pelo papel que tiveram na identificação e descrição de Kelly.
Especialmente Tom Kelly, o porta-voz do primeiro-ministro, recebeu ácidas críticas por descrever Kelly, depois de morto, como o personagem "Walter Mitty" (figura fantasista da literatura norte-americana).
A BBC não emerge incólume.
A reportagem de Gilligan foi questionada por Rachel, filha de Kelly, que disse que seu pai não podia acreditar que o jornalista poderia ter se baseado apenas em coisas que ele lhe dissera.
Ele não reconhecia muitos dos comentários que supostamente teria feito, disse a filha ao inquérito.
Outra crítica à mídia foi a um repórter do jornal "Sunday Times" que chegou à casa deles sem autorização, e falou a Kelly sobre uma suposta oferta de Rupert Murdoch (controlador da empresa que é dona do jornal) para hospedá-lo em um hotel antes que a imprensa fosse atrás dele, depois da revelação de seu nome.
"Pesadelo"
Os depoimentos da viúva, da irmã de Kelly, Sarah Pape, e da filha Rachel, detalharam como Kelly era apaixonado por seu trabalho, embora não falasse dele.
E como ele era comprometido em fazer sua pequena parte para livrar o mundo de armas de destruição em massa.
Longe da impressão inicial dada pelo Ministério da Defesa e por Downing Street, ele era um funcionário altamente graduado, cuja descrição de função incluía relatórios para a imprensa, de forma oficial ou informal.
Inicialmente, depois de ter se apresentado como a possível fonte, ele disse que seus chefes no Ministério da Defesa o estavam apoiando.
Mas ao final do "pesadelo", ele estava menos seguro do apoio de seus chefes.
Temor
Ele estava horrorizado com o fato de que, apesar das garantias, seu nome tinha sido divulgado.
Ele se afastou, recolhido em um mundo próprio e, no dia em que supostamente cometeu suicídio, não conseguia formular duas frases.
Está previsto que o depoimento de Janice Kelly seria fundamental nesse inquérito e Hoon, o Ministério da Defesa e Downing Street tinham toda a razão em temer o que a viúva, abalada, poderia dizer.
Ela preferiu não aparecer em público no tribunal, como fez sua filha Rachel, e prestou depoimento através de um link de áudio em uma sala ao lado do salão principal de audiências. Janice Kelly permaneceu calma e comedida em todo o depoimento.
Danos
Seu testemunho provocou mais danos ao governo justamente por causa disso.
Foi um relato detalhado de como seu marido acreditava ter sido traído por seus chefes que, então, tentaram diminuir o status e as responsabilidades dele.
Difícil não chegar à conclusão de que era um homem que acreditava ter sido jogado aos leões.
Foi também difícil não tirar conclusões sobre quem Janice Kelly acredita ter a maior parte da responsabilidade por aquela impressão.
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Entenda a polêmica entre BBC e governo Blair
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Análise: Depoimento da viúva de Kelly foi devastador
NICK ASSINDERda BBC, em Londres
David Kelly acabou sua vida se sentido traído e desvalorizado por seus mentores políticos.
Nas palavras pungentes de sua viúva, Janice --que depôs hoje no inquérito que investiga a morte do cientista-- ele tinha o coração partido e estava consternado pela maneira como estava sendo tratado.
O homem que "suou a camisa por seu país" estava sendo descartado como um funcionário menor, que estava sendo publicamente censurado por seus chefes no Ministério da Defesa por ter conversado secretamente com Andrew Gilligan, jornalista da BBC.
Em tom comedido e sem alarde, Janice Kelly fez um retrato radicalmente diferente do que até agora vinha sendo oferecido ao inquérito.
Tempestade
Foi o retrato de um homem no topo de sua profissão, central para o programa de inspeções de armas, e que estava profundamente comprometido com seu trabalho.
A tempestade que o engolfou depois de ter sido identificado como a possível fonte da reportagem de Gilligan deixou Kelly perturbado, com raiva, preocupado com seu futuro e, em última análise, abalado por tudo.
A viúva não fez acusações. Em vez disso, ela deixou falar por si próprio seu testemunho simples, sem emoções.
O resultado, apesar disso, foi devastador.
Críticas
O testemunho aguçou dramaticamente as críticas já feitas ao ministro da Defesa, Geoff Hoon, e a funcionários de Downing Street (onde fica o gabinete do primeiro-ministro, Tony Blair) pelo papel que tiveram na identificação e descrição de Kelly.
Especialmente Tom Kelly, o porta-voz do primeiro-ministro, recebeu ácidas críticas por descrever Kelly, depois de morto, como o personagem "Walter Mitty" (figura fantasista da literatura norte-americana).
A BBC não emerge incólume.
A reportagem de Gilligan foi questionada por Rachel, filha de Kelly, que disse que seu pai não podia acreditar que o jornalista poderia ter se baseado apenas em coisas que ele lhe dissera.
Ele não reconhecia muitos dos comentários que supostamente teria feito, disse a filha ao inquérito.
Outra crítica à mídia foi a um repórter do jornal "Sunday Times" que chegou à casa deles sem autorização, e falou a Kelly sobre uma suposta oferta de Rupert Murdoch (controlador da empresa que é dona do jornal) para hospedá-lo em um hotel antes que a imprensa fosse atrás dele, depois da revelação de seu nome.
"Pesadelo"
Os depoimentos da viúva, da irmã de Kelly, Sarah Pape, e da filha Rachel, detalharam como Kelly era apaixonado por seu trabalho, embora não falasse dele.
E como ele era comprometido em fazer sua pequena parte para livrar o mundo de armas de destruição em massa.
Longe da impressão inicial dada pelo Ministério da Defesa e por Downing Street, ele era um funcionário altamente graduado, cuja descrição de função incluía relatórios para a imprensa, de forma oficial ou informal.
Inicialmente, depois de ter se apresentado como a possível fonte, ele disse que seus chefes no Ministério da Defesa o estavam apoiando.
Mas ao final do "pesadelo", ele estava menos seguro do apoio de seus chefes.
Temor
Ele estava horrorizado com o fato de que, apesar das garantias, seu nome tinha sido divulgado.
Ele se afastou, recolhido em um mundo próprio e, no dia em que supostamente cometeu suicídio, não conseguia formular duas frases.
Está previsto que o depoimento de Janice Kelly seria fundamental nesse inquérito e Hoon, o Ministério da Defesa e Downing Street tinham toda a razão em temer o que a viúva, abalada, poderia dizer.
Ela preferiu não aparecer em público no tribunal, como fez sua filha Rachel, e prestou depoimento através de um link de áudio em uma sala ao lado do salão principal de audiências. Janice Kelly permaneceu calma e comedida em todo o depoimento.
Danos
Seu testemunho provocou mais danos ao governo justamente por causa disso.
Foi um relato detalhado de como seu marido acreditava ter sido traído por seus chefes que, então, tentaram diminuir o status e as responsabilidades dele.
Difícil não chegar à conclusão de que era um homem que acreditava ter sido jogado aos leões.
Foi também difícil não tirar conclusões sobre quem Janice Kelly acredita ter a maior parte da responsabilidade por aquela impressão.
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