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04/09/2003 - 12h15

Crise leva alemães à nostalgia do passado socialista

MARCELO CRESCENTI
da BBC, em Frankfurt

Em meio à atual grave crise econômica que vivem, os alemães reencontram o gosto pelo passado: músicas e a moda de duas décadas atrás voltaram a fazer sucesso na Alemanha, e um dos programas de TV mais populares deste ano relembrou a vida no país durante os anos 80.

Agora até a ex-Alemanha Oriental virou tema de programas em quatro canais da TV alemã. O principal deles, "O Show da Alemanha Oriental", do canal RTL, foi transmitido na noite de ontem e visto por milhões de pessoas.

O Show da Alemanha Oriental teve como convidados especiais a patinadora Katarina Witt e o boxeador Henry Maske, dois esportistas de sucesso nascidos na época do socialismo.

Mesmo lembrando que a antiga Alemanha Oriental vivia em uma ditadura, o programa se focalizou claramente nos aspectos positivos da vida no país, lembrando que nem tudo era ruim.

Goodbye Lenin

Os programas são só uma parte de uma verdadeira onda nostálgica, que começou com o grande sucesso do filme Goodbye Lenin (ainda sem tradução no Brasil).

O filme do diretor Wolfgang Becker atraiu mais de 6 milhões de alemães aos cinemas e conta a história de uma mulher na Berlim Oriental que entra em coma antes da queda do muro e volta a si depois da reunificação alemã.

Como ela pode morrer se sofrer emoções fortes, seu filho mantém a ilusão de que a Alemanha Oriental existe - dentro de um apartamento de 79 metros quadrados.

Tom Sänger, produtor do Show da Alemanha Oriental, admite que o programa foi inspirado no filme, que tem um aspecto menos político e mais emocional.

Ele diz que queria mostrar a vida no país socialista de uma maneira leve.

Música

O interesse pela antiga Alemanha socialista não se restringe ao cinema e à TV.

Livros de autores que contam sua infância na Alemanha Oriental estão entre os mais vendidos, e uma exposição em Berlim mostra a arte produzida nos quarenta anos de socialismo.

Na música, a onda nostálgica trouxe de volta velhas estrelas. Um exemplo é o grupo Karat, que foi até agraciado com uma medalha pelo ex-todo poderoso líder alemão oriental Erich Honecker.

Agora os músicos voltam a se apresentar para um grande público no leste alemão, que quer ouvir sucessos de uma época passada.

Atualmente, um em cada cinco adultos está desempregado no território da ex-Alemanha Oriental, onde a economia é uma das mais fracas da Europa.

Por isso, muita gente que viveu o cotidiano da república socialista tende a idealizar a vida antes da reunificação, quando havia trabalho para todos, esquecendo-se de fatores como repressão, presos políticos e falta de liberdade de imprensa.

Para o sociólogo brasileiro Sérgio Costa, docente da Universidade de Berlim, a nostalgia também é um modo dos alemães orientais resgatarem o seu passado e sua memória, que foram praticamente apagados depois da reunificação.

Mas o sociólogo também diz que isso não deve ser levado tão a sério e que a nostalgia não é ligada a uma demanda política séria pela volta ao regime socialista.

"Para muitos alemães orientais essa onda nostálgica é apenas uma curtição", diz Costa, que já tomou parte em uma festa de aniversário no leste alemão que tinha como tema o filme Goodbye Lenin.

"As pessoas se vestiram como os personagens do filme, cantaram músicas antigas e se divertiram muito", conta.
 

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