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09/09/2003 - 13h14

China pode desequilibrar negociações em Cancún

O telefonema do presidente americano, George W. Bush, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na segunda-feira, mostrou o grau de preocupação dos Estados Unidos com a possibilidade de fracasso da reunião ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), que se inicia nesta quarta-feira.

Os ministros das Relações Exteriores e do Comércio do grupo de 20 países em desenvolvimento encabeçado por Brasil, Índia e China (G-20) se reúnem em Cancún, nesta terça-feira, para discutir uma estratégia comum nas negociações agrícolas.

Juntos, os países do G-20 somam mais de 2,5 bilhões de pessoas e mais de 50% dos agricultores de todo o planeta.

A presença da China --não só como um grande produtor agrícola, mas como um grande importador, e um grande e novo mercado consumidor-- pode mudar a correlação de forças dentro da OMC.

"Duros na queda"

Os chineses estão estreando em negociações multilaterais de comércio, já que entraram na OMC em 2001, mas trazem a fama de serem bons e duros negociadores, conquistada nos acordos bilaterais que foram firmados para garantir a sua candidatura e entrar no clube da OMC.

Na área agrícola, a China tem muitos interesses comuns com os países em desenvolvimento, de acordo com diplomatas brasileiros envolvidos nas negociações.

Os chineses querem mais acesso aos mercados dos países desenvolvidos para os seus produtos agrícolas e querem, como o Brasil, certa garantia de manutenção do seu grande contigente de pequenos agricultores, na forma de salvaguardas e barreiras comerciais que garantam a sobrevivência de sua agricultura familiar.

A incógnita é se os chineses vão se manter na aliança até o fim ou se vão ceder a ofertas dos europeus, em troca de concessões em outras áreas de grande interesse, como a têxtil.

De acordo com Claude E. Barfield, co-autor de Tiger by the Tail: China and the World Trade Organization, "tudo pode acontecer nas últimas horas em reuniões deste tipo."

Barfield diz que a palavra-chave é sempre barganha, mas os chineses "devem ser cautelosos e evitar se colocar na posição de traidores na primeira aliança que fazem na OMC".

Mesmo assim, em outras áreas, a China tem interesses bastante diversos de outros países em desenvolvimento.

Para entrar na organização, o país foi obrigado a aceitar um cronograma de redução de tarifas sobre produtos industrializados muito mais acelerado e não se juntou às críticas de outros países em desenvolvimento quando os Estados Unidos propuseram cortes radicais nestas tarifas.

Silêncio oriental

"Eles não falaram muito das suas posições até agora, mas isto não quer dizer que não as tenham. Acredito que eles vão se manter fiéis ao G-20, mas em seu estilo discreto e silencioso. Não espero as declarações e manifestações de desagrado que se ouve dos brasileiros", afirma Barfield, que assessorou o ex-presidente americano Ronald Reagan em assuntos de comércio.

Os ministros do G-20 convocaram uma entrevista coletiva ao fim da reunião para reafirmar que a falta de avanços nos compromissos assumidos em Doha na área agrícola, na última reunião ministerial da organização, vai impedir o sucesso desta reunião.

Eles querem que o documento apresentado pelo G-20 no fim de agosto, com a reafirmação das concessões agrícolas baseadas em um tripé que inclui redução da ajuda interna, redução até a eliminação de subsídios para a exportação e aumento de acesso aos mercados de países desenvolvidos sejam considerados alguns dos textos-base nas discussões do setor.

A proposta do G-20 é a única que mantém o nível de ambição da rodada de Doha. Sem ela, não é possível chegar a uma negociação equilibrada", afirma o embaixador Luiz Felipe de Seixas Correia, representante brasileiro na OMC.
 

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