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24/09/2003 - 17h46

Adoção de soja transgênica tem mais críticos do que defensores

DENISE TELLES
da BBC

O anúncio do presidente em exercício José Alencar de que estaria disposto a uma medida provisória autorizando o plantio de transgênicos no Brasil, nesta quarta-feira, encontrou mais críticos do que defensores.

O engenheiro-agrônomo Tadeu Caldas, dono da Ecotropic, uma consultoria internacional de agricultura orgânica baseada na Alemanha, afirma que o Brasil só tem a perder.

"Não é uma medida estrategicamente interessante para o Brasil. A pressão não é necessariamente só do produtor. É dos grandes grupos que têm interesse nas vendas desses produtos transgênicos", afirma.

Ele afirma que o Brasil manteve uma posição neutra nessa questão até agora. Isso fez com que o país ganhasse mercados em relação à Argentina, por exemplo, que se abriu para a produção de transgênicos já há algum tempo.

Custo menor

Caldas vê algumas vantagens no plantio da soja transgênica, como redução de custos com pesticidas, por exemplo, já que fatores de repelências às pragas já estão incorporados no aspecto genético da soja.

"Mas até a situação na Europa, que seria um mercado importante para o Brasil, se definir em termos pró ou contra os transgênicos, acho que o Brasil não deveria seguir adiante com uma postura final nessa história", diz.

Na Grã Bretanha, foi divulgado nesta quarta-feira o resultado de uma pesquisa encomendada pelo governo para saber se a população britânica aprova a adoção de transgênicos. Mais da metade dos 37 mil entrevistados disse que jamais vai querer que produtos transgênicos sejam plantados no país.

Clique aqui para ler mais sobre decisão anunciada pelo presidente em exercício
O professor de genética e melhoramento de plantas João Neves Martins, da Universidade de Lisboa, diz que a rejeição é fruto do desconhecimento.

"Todo desconhecimento traz a dúvida, e a dúvida traz a mistificação, e a mistificação traz o combate contra. Necessariamente a única forma que temos de combater esse aspecto é darmos o conhecimento mais básico e mais fácil para que as pessoas entendam do que se trata", diz.

Ele explica porque não vê desvantagens na adoção da soja transgênica pelo Brasil: "A soja tem um gene que é particularmente importante, porque tem uma substância que inibe o crescimento de pragas ao seu redor. Na soja, o pólen produzido na própria planta auto-fecunda os óvulos. Os danos que podem existir para uma variedade transgênica é pelo fato de receber pólen do exterior. E no caso da soja isso não se verifica."

Impacto ambiental

A coordenadora da campanha de engenharia genética do Greenpeace, Mariana Pauli, que está na Itália para debater exatamente a questão dos transgênicos, diz que a aprovação do plantio vai contra as leis ambientais do Brasil.

"Até o momento no Brasil não foi feito nenhum tipo de estudo de impacto ambiental como é garantido pela Constituição Federal. É necessário que esses estudos sejam feitos para que não haja perda de biodiversidade e insetos não sejam afetados. A interação com bactérias que vivem no solo também deve ser analisada e é fundamental que esse estudo seja feito antes de uma liberação comercial em larga escala", diz.

"O organismo transgênico é um organismo vivo. Uma vez introduzido em larga escala o seu dano vai ser imprevisível e irreversível", acrescenta.

Para ela, já era esperado que a população britânica rejeitasse os transgênicos.
"Essa é uma tendência em todo o mundo porque o organismo transgênico não foi estudado o suficiente para garantir que não cause danos ao meio ambiente ou à saúde da população. A saúde das pessoas não pode ser feita de cobaia do produto dessa nova tecnologia."

Segundo o consultor Tadeu Caldas, o Brasil vai perder mercados se passar a exportar soja transgênica, porque vai ter que depender da competitividade do produto. De acordo com ele, o produtor brasileiro não tem tantos subsídios quanto os americanos.

Para ele, a decisão anunciada pelo presidente em exercício José Alencar está sendo tomada com uma pressa que não é necessária.

Hoje o cultivo de transgênicos já foi aprovado em mais de dez países. Mas 96% de toda a produção está concentrada em três deles: Estados Unidos, Argentina e Canadá.

Sites relacionados
  • Universidade de Lisboa (www.ul.pt)
  • Greepeace (www.greenpeace.org.br)
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