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10/10/2003 - 13h27

Prêmio Nobel da Paz divide o Irã

JIM MUIR
da , em Teerã

A notícia de que a advogada de direitos humanos iraniana Shirin Ebadi ganhou o Prêmio Nobel da Paz deste ano causou reações adversas no Irã.

Enquanto aqueles que a apóiam no movimento de reforma estavam claramente encantados, os integrantes da ala linha-dura, que não compartilham de sua visão liberal, não ficaram satisfeitos de ver o mundo exterior homenageando alguém que eles consideram uma dissidente.

Horas depois de Ebadi se tornar manchete ao redor do mundo, a notícia ainda não havia sido divulgada pelas empresas de TV, rádio e agência de notícias estatais.

A maior parte dos meios de comunicação oficiais é considerada sob controle da linha-dura iraniana.

Papel pioneiro

Shirin Ebadi deixou sua marca no campo de direitos das mulheres antes mesmo da Revolução Islâmica de 1979, tendo sido a primeira mulher apontada para o cargo de juíza do país.

Ela perdeu o posto depois da revolução e passou a dar aulas de direito na universidade.

Mas Shirin logo se tornou uma ativista pioneira em defesa dos direitos das mulheres e das crianças, buscando mudanças especialmente na forma como as leis do divórcio e de herança funcionam no Irã.

Ela também passou a defender os casos de liberais e dissidentes que haviam se chocado com o Judiciário, uma dos baluartes do poder linha-dura no Irã.

Dois de seus clientes, os intelectuais liberais Daryoush e Parvaneh Forouhar, foram esfaqueados e mortos em uma série de assassinatos em 1998. Os crimes eram frutos do trabalho de "elementos desonestos" do Ministério da Inteligência, segundo se revelou depois.

Em 2000, Shirin Ebati foi acusada de distribuir um vídeo no qual um integrante do movimento linha-dura afirmava que líderes conservadores estavam incitando violência em encontros de reformistas e contra integrantes do movimento.

Ela recebeu uma pena de prisão e foi proibida de exercer sua profissão, mas o caso também chamou a atenção de grupos de direitos humanos internacionais para a situação no país.

Desde então, ela continuou com o seu papel de pioneira, formando uma nova organização não-governamental, o Centro para a Defesa dos Direitos Humanos.

Mensagem

Outros ativistas de direitos humanos iranianos, assim como o movimento reformista em geral, ficaram claramente encantados com o prêmio, considerando-o uma legitimação de sua causa.

"Eu espero que as pessoas que não aprovam a ação de Shirin agora reconsiderem a sua posição", disse Sharbanou Amani, uma das 13 mulheres do Parlamento iraniano, segundo a agência de notícias France Presse.

"É uma fonte de orgulho para os intelectuais iranianos", completou.
Elaheh Koulaie, outra integrante do Parlamento, disse que o prêmio "mostra ao mundo que o processo democrático no Irã está progredindo".

Outros reformistas apontaram para a grande discrepância entre o reconhecimento internacional conferido a Ebadi, as causas pelas quais ela está lutando e a situação difícil que ela e seus companheiros enfrentam no seu país.

Além de se sentirem ultrajados, os conservadores viram a premiação como mais uma tentativa de interferência nos assuntos políticos internos do Irã.

O comitê do Prêmio Nobel afirmou esperar que a premiação incentive aqueles que lutam pela democracia e por direitos humanos no Irã.

"O prêmio levou a mensagem de que a Europa planeja colocar mais pressão em assuntos relacionados aos direitos humanos no Irã como uma medida política para atingir certos objetivos", disse Amir Mohebian, um comentarista do jornal conservador Resalat.
 

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