Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
01/12/2003 - 12h05

Empresas fazem pouco contra Aids, diz pesquisa

DENIZE BACOCCINA
da BBC, em Londres

As empresas estão preocupadas com o impacto da epidemia da Aids em seus negócios, mas não estão fazendo o suficiente na luta contra a doença.

A conclusão é de uma pesquisa realizada pela Iniciativa Global de Saúde do Fórum Econômico Mundial, uma organização baseada em Davos, na Suíça.

A pesquisa, intitulada Negócios e HIV/Aids: Eu Quem?, ouviu 7.789 executivos de empresas em 103 países e mostra que 47% deles acreditam que a epidemia terá algum impacto nos seus negócios e 21% acreditam em um impacto elevado.

No entanto, apenas 6% das empresas ouvidas têm uma política interna formal, por escrito, sobre sua atuação em relação à doença.

"Mérito do Brasil"

No Brasil, a situação é melhor do que a média --24% das empresas brasileiras têm uma política específica para a doença.

O Brasil é um dos seis países onde programas específicas de combate à Aids são adotados por mais de 20% das empresas.

O nível de satisfação dos empresários brasileiros com as medidas adotadas pelas empresas também é superior, e chega a 59%.

Para Kate Taylor, diretora da Iniciativa Global de Saúde e coordenadora da pesquisa, embora o Brasil ainda tenha problemas de estigma e discriminação em relação à doença --fatos que afetam o ambiente de trabalho--, o importante é que há pessoas trabalhando ativamente para mudar essa situação.

O grande mérito do Brasil, na avaliação dela, foi ter atacado o problema de forma agressiva, logo no início da epidemia.

"Muito cedo o Brasil teve uma coalizão empresarial contra o HIV e algumas das empresas brasileiras tiveram os primeiros programas de conscientização e tratamento do mundo", afirma.

Desconhecimento

A política interna das empresas inclui obrigatoriamente a garantia de não discriminação contra empregados contaminados com o vírus, confidencialidade sobre essas informações e pode evoluir para distribuição gratuita de preservativos e de remédios antiretrovirais.

Um quarto das empresas, no entanto, ainda podem exigir o teste de HIV antes da contratação e não proíbem explicitamente a discriminação de soropositivos, apesar das recomendações da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

"É surpreendente como é pequeno o número de empresas atuando contra o HIV", afirma Kate Taylor.

"Mesmo nas regiões do mundo mais afetadas pela doença a atuação das empresas é insuficiente", avalia.

Essa não é, no entanto, a avaliação dos próprios empresários.

A pesquisa mostra que 37% dos entrevistados se disseram satisfeitos com a política adotada por suas empresas em relação à epidemia, e apenas 21% acreditam que a resposta deveria ser mais eficiente.

África

A ameaça da doença para os negócios varia de acordo com a gravidade da epidemia no país.

Na África Subsaariana, 89% dos executivos consultados acham que a Aids terá impacto nos negócios. Mas apenas quatro países da região adotam políticas específicas para combater a doença em mais de 20% das empresas.

A região africana tem cerca de dois terços dos casos da doença no mundo. A Unaids, agência das Nações Unidas para combate à Aids, estima entre 34 milhões e 46 milhões o número de pessoas contaminadas com o HIV em todo o mundo.

O número de novos casos este ano é estimado entre 4,2 milhões e 5,8 milhões e o número de mortes entre 2,5 milhões e 3,5 milhões.

Interesse

O relatório do Fórum Econômico Mundial argumenta que, embora a epidemia seja antes de tudo uma tragédia humana que atinge entre 34 milhões e 46 milhões de pessoas em todo o mundo, as empresas deveriam ter um interesse natural no assunto, porque ela afeta com mais força a população adulta, que compõem a mão-de-obra ou os consumidores das empresas.

A pesquisa mostra que, mesmo em países com índice de contaminação elevado, muitas empresas não vêem a doença como um problema.

Na média, apenas 7% das empresas estão muito preocupados com os efeitos da doença no absenteísmo dos empregados e redução da produtividade.

Na África, no entanto, essa é a preocupação de 19% das empresas ouvidas na pesquisa, enquanto na América do Sul é de apenas 4% do total.

A região menos preocupada com essa aspecto é a Europa, justamente a região com menor incidência da doença.

"Mais pesquisa"

As empresas também desconhecem a taxa de prevalência da doença entre os funcionários.

De acordo com a pesquisa, todas as empresas que forneceram a informação comunicaram ter índices menores do que os da população do país. Para os pesquisadores, essa diferença pode ter duas explicações: ou a empresa não tem informações sobre os funcionários portadores do vírus ou a incidência da doença é realmente menor entre essa população.

A pesquisa mostra também que 16% dizem dar informações sobre a doença aos empregados, e 5% dizem fornecer remédios antiretrovirais - que no Brasil são fornecidos pelo governo federal --a todos os funcionários com a doença.

Para mudar a situação atual, o relatório sugere a realização de mais pesquisas sobre o assunto e a disseminação de informação sobre a doença e sobre a incidência dela entre os funcionários da empresas, para a elaboração de políticas de prevenção e tratamento mais adequadas.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página