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02/12/2003 - 17h52

Crescem exportações de lingerie brasileira para Oriente Médio

MARIA LUIZA ABBOTT
da BBC, em Londres

Sensual e com design ousado, a lingerie brasileira está conquistando um mercado inesperado: os países árabes.

Empresas nacionais estão aumentando a sua participação em feiras comerciais na região, de olho em um mercado que acreditam ter o potencial de movimentar volumes muito maiores do que os atuais --de janeiro a outubro, foram exportados US$ 297 mil em corpetes, calcinhas e penhoar para o Oriente Médio, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit).

O consórcio Ágata, por exemplo, que reúne pequenos fabricantes de lingerie de Nova Friburgo, já fechou neste ano contratos de US$ 650 mil neste ano em duas feiras em Dubai, nos Emirados Árabes.

Uma das integrantes do consórcio, Neuciléia Layola Porto, diz que está apostando na viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que embarca hoje para uma viagem de oito dias ao Oriente Médio, para aumentar as exportações.

"As grandes empresas estão indo nessa missão com o presidente e a gente espera que isso abra as fronteiras para aumentar o comércio entre Brasil e os países árabes. Quem sabe até diminui as dificuldades logísticas", diz Neuciléia.

Entre outras mudanças, ela espera que o volume de negócios torne atraente a criação de vôos diretos entre o Brasil e os países árabes.

"Hoje, devido ao pouco fluxo de mercado, todos os vôos para Dubai, por exemplo, vão à Europa primeiro", explica.

Surpresas

O consórcio já tinha feito pesquisas sobre o perfil de consumo das mulheres árabes e resolveu investir, alugando um estande na feira, em maio.

"O resultado nos surpreendeu, porque a gente teve negócios fechados já na primeira feira. A gente percebeu que estava em um mercado que é muito próximo ao nosso, exige muito pouca adaptação e é altamente consumidor de lingerie", diz Neuciléia Porto.

Segundo ela, a lingerie exportada para os Estados Unidos, por exemplo, precisa ser adaptada porque as americanas têm mais busto do que as brasileiras.

Já as árabes têm corpo semelhante ao da brasileira, com pouco busto e quadris largos.

Neuciléia conta que, assim como as brasileiras, elas gostam de lingerie com muita renda e transparência.

"Elas têm uma grande preferência por produtos bem sensuais, ao contrário do que a gente pensa. Elas são muito voltadas para o marido, então usam muita lingerie sensual como um produto para sedução", explica.

Imagens

Rishan Latif, um brasileiro de origem palestina, abriu uma loja de lingerie brasileira em Ramallah, na Cisjordânia, há quatro anos, pouco depois do fechamento de mais um acordo de paz no Oriente Médio.

Foi a primeira loja do gênero na cidade e ele resolveu expor seus produtos na vitrine, o que provocou reação negativa entre os moradores.

"Mas ao mesmo tempo, muitos palestinos que moravam fora estavam voltando para cá, por causa do acordo de paz, e as pessoas se ocidentalizaram mais", conta Latif.

"A loja começou a ter um certo movimento, justamente por causa desses que tinham voltado dos Estados Unidos e da América Latina. Quando o povo na região viu muitas mulheres entrando, a resistência acabou."

Neuciléia diz que também teve que se adaptar ao mercado.

Seguindo a experiência, o consórcio contratou uma mulher para gerenciar o estande na feira de maio, porque são as mulheres que compram para as lojas no Brasil.

No Oriente Médio, são os homens e eles ficavam constrangidos de discutir o negócio com uma mulher. A exportadora brasileira substituiu a gerente por um homem e os constrangimentos acabaram.

Mas o perfil das consumidoras finais é parecido com o das brasileiras, segundo ela.

"Alguns mercados são mais conservadores e exigem adaptação. Como elas são mais sensuais, a calcinha brasileira, que tem um corte mais ousado, agrada muito a elas", conta Neuciléia.

Consumo

Segundo Latif, o Ocidente faz uma idéia errada do comportamento sexual das mulheres muçulmanas e, por isso, há poucas lojas de lingerie importada.

"Independentemente da religião ou dos costumes árabes, a mulher muçulmana não é oprimida sexualmente. Ela tem liberdade de expor a sua sexualidade para o marido. E as mulheres casadas são as que acabam consumindo esse tipo mais ousado de produto, justamente para expor a sexualidade delas junto ao marido", conta.

Neuciléia confirma a avaliação e diz que as árabes consomem muito mais lingerie do que as outras.

Segundo ela, em média, a brasileira compra seis conjuntos de calcinha e sutiã por ano. As árabes, 18, em média.

"Elas consomem muito mais lingeire do que os outros mercados de forma geral e usam como produto para sedução. O que elas são dentro de casa, do lar, é muito diferente da imagem que elas passam para a gente", explica.

Pólo

O consórcio Ágata reúne dez pequenas empresas da região de Nova Friburgo, que está se tornando um pólo de fabricação e exportação de lingerie no Brasil.

Segundo Cláudio Tangari, diretor da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), existem mil fábricas de lingerie em Nova Friburgo, das quais a metade ainda são empresas informais.

"Elas geram cerca de dez mil a 12 mil empregos diretos, fora os empregos indiretos, representados pelos canais de comercialização, as sacoleiras, que são as pessoas que vêm comprar para vender em outros municípios. Ao todo são mais de 20 mil", diz Tangari.

O pólo surgiu há cerca de cinco anos, quando uma grande fábrica de lingerie da região entrou em crise e fez demissões, segundo ele.

Financiamento

Os empregados passaram a se organizar e produzir de maneira informal, de acordo com Tangari.

"Há cerca de dois anos, a Firjan fez um estudo de potencialidades no Estado e resolveu apostar no desenvolvimento do cluster de moda íntima em Nova Friburgo", conta.

A idéia teve apoio de entidades brasileiras e do Banco Mundial, através de um acordo com o governo italiano que tenta exportar para o Brasil os modelos de desenvolvimento e organização dos distritos industriais do Norte da Itália.

"Hoje existe uma política industrial de apoio aos arranjos produtivos locais e Friburgo foi escolhida pelo BNDES para teste de um modelo de políticas de financiamento para capital de juros com juros bem mais baixos do que os de mercado", diz.

Segundo ele, as novas linhas de financiamento começam nos próximos meses.
 

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