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11/12/2003 - 17h29

Londres ganha primeiro pub para não-fumantes

HELENA CARONE
da BBC, em Londres

Eles são famosos por serem ambientes democráticos, onde os londrinos socializam envoltos numa nuvem quase sólida de fumaça de cigarro.

Mas os pubs, ou botequins, de Londres estão tentando acompanhar as mudanças dos tempos.

Para horror dos tradicionalistas e felicidade do lobby antitabagista, a capital acaba de ganhar o primeiro pub em que é proibido fumar.

Ironicamente batizado de The Phoenix (Fênix, aquele que renasce das cinzas), ele foi inaugurado esta semana no coração da City, o centro financeiro, entre a Bolsa de Valores e o Banco da Inglaterra.

Área de risco

Mais do que em outras áreas da cidade, os pubs da City costumam fervilhar com bancários e corretores de valores acostumados a aliviar as tensões do trabalho com doses igualmente altas de álcool e nicotina.

Como evitar que um freguês etilizado acenda seu cigarrinho? É querer comprar briga na certa.

"Quem acender o cigarro será devidamente posto pra fora do pub. Da forma mais educada possível, claro", afirma a gerente do Phoenix, Debbie Curran.

À frente de uma equipe de funcionários composta de 70% de não-fumantes, ela acha que já passou da hora de Londres ter um pub sem fumaça --tanto para os frequentadores quanto para os empregados, que costumam reclamar de serem fumantes passivos.

Cigarrinho na calçada

Na inauguração, na segunda-feira (8) à noite, o bancário Kyri, 23, que não quis revelar seu sobrenome, colocou à prova a disposição da gerente.

Resolveu ignorar os inúmeros cartazes espalhados pelo bar anunciando que é categoricamente "Proibido Fumar" e acendeu um cigarro.

Em poucos segundos, era conduzido gentilmente para fora do pub. Foi fumar na calçada, com uma amiga.

"Os pubs são um dos poucos lugares onde o fumante não se sente, ou sentia, um pária", disse o consumidor de 20 a 30 cigarros por dia.

Sua companheira de cigarro, Katy Jones, 21, também protestou:

"A gente já não pode fumar nas lojas, no escritório, em alguns restaurantes, não é justo. E quem trabalha em pub sabe que fumaça de cigarro faz parte".

Fumaça mal-cheirosa

Enquanto Kyri e Kate davam suas baforadas sob temperaturas pouco acima do zero, o restante do grupo de nove amigos (dos quais seis não-fumantes) devidamente aquecido dentro do Phoenix demonstrava pouca solidariedade.

"Eles já nos impuseram seus maus hábitos por muito tempo", declarou a bancária de 25 anos Ari Hoolo-Tas.

"Fumaça é um negócio nojento, pelo menos agora não vou chegar em casa com as roupas fedendo a cigarro."

Há mais de 20 anos radicado na cidade, o escritor Ivan Lessa não vê com bons olhos a novidade:

"O pub, como instituição, tal como eu conheci, já está indo pras cucuias desde que apareceram os pubs temáticos; o seu botequim da esquina foi se empetecando e perdendo as características tradicionais."

O debate entre aqueles que são a favor ou contra não se limita às imediações do Phoenix.

Debate aceso

Nas últimas semanas, vem aumentando a pressão no Reino Unido pelo controle do consumo de cigarro.

Um grupo de médicos influentes, representantes de 18 faculdades de medicinas do país, publicou recentemente uma carta no jornal "The Times" pedindo ao governo para proibir totalmente o cigarro em locais públicos.

Na semana passada, a prestigiosa publicação científica "The Lancet" exortou o governo a tornar o tabaco ilegal argumentando que as pessoas têm o direito a não serem expostas às substâncias comprovadamente cancerígenas do fumo.

Como se não bastasse, um relatório da Associação Médica Britânica divulgado nesta semana alerta que o cigarro está causando doenças respiratórias em adolescentes e sugere ao governo aumentar o preço do maço para mais de 5 libras (quase R$ 25,00), como forma de coibir as vendas.

Até o prefeito de Londres, Ken Livingston, antitabagista confesso, está bancando uma pesquisa para saber a opinião dos londrinos.

Hora da verdade

Questões de saúde à parte, o novo pub na City aproveita a maré a seu favor.

Dona de 635 pubs distribuídos pelo país, a empresa proprietária do Phoenix, a Laurel, sabe que existe um mercado a ser explorado.

"Nós temos três pubs no norte do país em que é proibido fumar e eles têm sido um grande sucesso", conta Maureen Heffernan, porta-voz da companhia, "tenho certeza de que, entre os 10 mil pubs de Londres há espaço para um, ou vários, em que o cigarro é proibido".

O sucesso do Phoenix vai determinar se a Laurel abrirá ou não novos pubs na capital para não-fumantes.

Chegou a hora da verdade: ou The Phoenix faz juz ao nome ou os fumantes londrinos o farão retornar às cinzas.
 

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