Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
12/01/2004 - 14h31

Análise: Paul O'Neill, o estranho fora do ninho de Bush

CAIO BLINDER
da BBC, em Nova York

Nos seus tumultuados 23 meses como Secretário do Tesouro do presidente George W. Bush, Paul O'Neill falava demais e era um estranho no ninho da Casa Branca.

Candidez e ingenuidade se traduzem em gafes quando alguém está no poder.

Por exemplo, O'Neill foi memorável quando afirmou que não fazia sentido dar ajuda internacional a países como o Brasil porque o dinheiro acabava em contas de bancos suíços.

Agora aposentado, O'Neill continua em forma. Suas observações são capazes de gerar impacto, em especial numa temporada eleitoral.

Na defensiva

Pouco depois de um ano da demissão de O'Neill do governo, o jornalista Ron Suskind lança o livro O Preço da Lealdade, baseado em depoimentos e 19 mil documentos do ex-secretário de Tesouro.

As alegações de O' Neill no livro e as sucessivas entrevistas que ele tem dado desde o fim de semana colocaram a Casa Branca na defensiva e supriram munição para ataques de candidatos democratas à presidência.

O'Neill investe contra a política econômica de Bush, mas o maior impacto está nas dúvidas que ele levanta para o "casus belli" no Iraque.

Em uma entrevista à revista Time, O'Neill afirmou que "nos 23 meses em que eu estive lá (no governo), eu não vi nada que eu caracterizaria como evidência de armas de destruição em massa".

Até hoje ninguém que integrou o alto comando da administração Bush havia manifestado uma visão tão cética sobre as justificativas para a guerra.

Já em uma entrevista ao programa "60 Minutos" (o mais prestigiado da televisão americana), O'Neill disse que pegar Saddam Hussein era prioridade de Bush desde que assumiu a presidência três anos atrás, ou seja, os planos de invasão do Iraque não começaram a ser arquitetados após os atentados de 11 de setembro de 2001.

As alegações de O'Neill foram prontamente rebatidas por assessores de Bush, mas a Casa Branca tampouco está interessada em fazer muito alarde para não dar ainda mais munição aos democratas.

Política econômica

É até possível questionar declarações de O'Neill sobre a guerra ou armas de destruição em massa. Ele participava das reuniões do Conselho de Segurança Nacional, na condição de secretário do Tesouro, mas nunca integrou o círculo íntimo de poder.

Mas como sempre O'Neill tem muito a dizer e em áreas mais familiares.

O homem que cuidava da economia de Bush ataca com vigor a política econômica do governo, em particular a decisão de cortar impostos.

Para O'Neill, é uma prova de que o presidente é movido por rigidez ideológica ou política eleitoral e não bom senso econômico.

Outro exemplo foi a oposição de O'Neill à decisão da Casa Branca de sobretaxar o aço importado pelos EUA para agradar eleitores de alguns estados industriais.

O'Neill atribui ao vice-presidente Dick Cheney a afirmação de que "déficits não importam" em resposta às suas advertências de que resultariam em um desastre para a economia americana.

As opiniões diretas de O'Neill sobre o presidente Bush seguramente serão usadas e abusadas pelos democratas durante a campanha eleitoral.

O'Neill, que também trabalhou nos governos Ford e Reagan, diz que Bush tem algumas marcas registradas daqueles ex-presidentes.

Na versão de O'Neill, o atual presidente é uma pessoa pouco curiosa e desengajada nas conversas. Na frase de efeito, Bush é definido como "um homem cego em uma sala cheia de pessoas surdas".

Desencantado, O' Neill não vê nenhuma razão para ficar mudo.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página