Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
24/01/2004 - 18h48

"Milagre brasileiro" pode fazer Carlos 1º virar santo

ASSIMINA VLAHOU
da BBC

Um milagre que teria acontecido no Brasil em 1960 está no centro da polêmica sobre a beatificação de Carlos 1º da Áustria --o último imperador da casa dos Habsburgo.

Herdeiro de Francisco Ferdinando, cujo assassinato foi o estopim da 1ª Guerra Mundial, em 1914, Carlos 1º subiu ao trono em 1916, durante a fase mais dura da guerra.

Usando contatos no Vaticano, o imperador tentou, em vão, assinar um acordo de paz separado, irritando o governo alemão. Em 1918, ele foi deposto e depois exilado na Ilha de Madeira, onde morreu em 1922, aos 34 anos.

O milagre, obrigatório para no processo de beatificação do Vaticano, teria acontecido em Curitiba, em 1960.

Cura

A freira Maria Zita Gradowska, polonesa transferida para o Brasil muito jovem como missionária da Sociedade das Filhas de Caridade de São Vicente de Paula, teria sido curada de uma úlcera perfurada na perna direita por intervenção de Carlos 1º.

A cura foi certificada por três médicos da Comissão Especial da Congregação Vaticana para a Causa dos Santos, e o milagre autenticado pelo papa João Paulo 2º no dia 20 de dezembro passado, último passo antes da beatificação.

"Agora é só esperar a data da cerimônia, que deverá acontecer na segunda metade de 2004", disse à BBC Brasil Andrea Ambrosi, postulador da causa.

O processo para o reconhecimento do milagre foi iniciado na diocese de Porto Alegre, em 1990, um ano após a morte de irmã Maria Zita, que faleceu aos 95 anos de idade por problemas intestinais.

Relutância

Em um depoimento escrito, a freira contou que soube do processo de beatificação de Carlos 1º na capela do colégio das irmãs da Congregação Regular de São Francisco.

Ela conta também que, por ser polonesa, relutou em se dirigir ao ex-imperador austríaco para obter a graça. No entanto, com muitas dores e sem poder caminhar acabou pedindo a ele e prometeu rezar por sua beatificação se ficasse boa.

A cura, de acordo com o postulador, aconteceu em poucas horas. Segundo os seus defensores, Carlos 1º foi um homem muito religioso, que serviu seu povo, defendeu a paz e ajudou os pobres.

Por outro lado, seus críticos o consideram pouco preparado, mentiroso e belicista, e vêem nessa beatificação o perigo de um retorno do "catolicismo militante".

Cautela

Até mesmo o clero austríaco --de tendência progressista-- tem uma posição cautelosa a respeito.

"Há muitas questões históricas abertas, e as pessoas estão divididas", admitiu o porta-voz da Cúria, Erich Leitenberger.

No entanto, segundo o cardeal de Viena e um dos candidatos à sucessão do papa João Paulo 2º, Christoph Schonborn, o último imperador era mesmo um pacifista.

"Não queria, mas herdou a guerra, e foi o único governante europeu que fez de tudo para acabar com ela", declarou ao jornal italiano "Corriere della Sera".

Os esforços pela paz e a sólida fé cristã são os principais motivos que levaram o Vaticano a examinar o pedido de beatificação, encaminhado em 1949 por parentes e admiradores do ex-imperador.

Eles também formaram um grupo de orações em seu nome, a "Gebets Liga", com adeptos em diversos países, inclusive no Brasil.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página