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17/03/2004 - 08h48

Pesquisa aponta descontentamento global com os EUA

JON LEYNE
da BBC, em Washington

O descontentamento com os Estados Unidos e seus políticos se intensificou quase um ano depois da guerra no Iraque, de acordo com uma pesquisa anual sobre a imagem americana ao redor do mundo.

"Os resultados desta pesquisa foram tão sombrios quanto o tempo lá fora", disse Andrew Kohut, do Centro de Pesquisas Pew, durante uma noite chuvosa em Washington.

A imagem dos EUA permanece tão negativa quanto há um ano e, mesmo no Reino Unido, apontado como principal aliado americano, a aprovação à única superpotência mundial caiu.

Embora a pesquisa tenha registrado uma leve melhora nas atitudes de países muçulmanos em relação aos EUA, uma grande divisão ainda existe entre americanos e o mundo árabe.

O relatório do Centro de Pesquisas Pew também afirma que as atitudes negativas para com os EUA ainda podem servir de combustível para novos ataques contra americanos.

Mundo muçulmano

A ex-secretária de Estado americana Madeleine Albright afirmou que os números demonstram uma verdadeira preocupação com a política externa dos Estados Unidos ao redor do mundo, especialmente no mundo muçulmano.

"Há um enorme abismo entre o mundo muçulmano e o resto de nós", disse Albright.

A pesquisa apontou elevados índices de aprovação a Osama bin Laden e apoio a atentados suicidas contra israelenses e contra os americanos no Iraque.

"A raiva permanece impregnada no mundo árabe", disse Kohut.

Um número preocupante na Turquia país prestes a entrar na União Européia indica que 31% dos entrevistados acreditam que atentados suicidas contra americanos e ocidentais no Iraque são justificados.

Na Jordânia, um país árabe relativamente moderado, 70% dos entrevistados também acreditam que os atentados suicidas no Iraque são justificados.

"É um relatório particularmente decepcionante", afirma Kurt Campbell, do Centro Internacional de Estudos Estratégicos (CIEE).

A maior divisão de opinião entre americanos e muçulmanos aparece quando o assunto é o Iraque depois da queda de Saddam Hussein.

Nos Estados Unidos, 84% dos entrevistados afirmaram que o Iraque ficou melhor sem Saddam Hussein. Na Jordânia, apenas 25% concordaram com essa opinião e, no Paquistão, só 8% disseram que a vida dos iraquianos melhorou.

Europa

A divisão nas opiniões, no entanto, não se restringe apenas ao "abismo" entre os Estados Unidos e o mundo muçulmano. Na Europa, a oposição ao governo americano também é grande.

A pesquisa foi realizada em fevereiro, antes dos atentados em Madri e, no período em que o estudo foi conduzido, poucos europeus apoiavam a "guerra contra o terrorismo".

Os números indicam que 57% dos franceses e 49% dos alemães acreditam que os Estados Unidos reagiram de maneira exagerada ao "terrorismo".

Os entrevistados afirmam que George W. Bush e Tony Blair mentiram sobre as razões para ir à guerra. De acordo com a pesquisa, os europeus estão cada vez mais céticos quanto aos EUA e seus interesses.

Na França e na Alemanha, a grande maioria (82% na Alemanha e 78% na França) diz que confiam menos nos Estados Unidos como uma conseqüência da guerra no Iraque.

A maior parte dos entrevistados em seis dos nove países pesquisados não acredita que a "guerra contra o terrorismo" seja um esforço sincero para reduzir o terrorismo internacional.

Ao invés disso, muitos acreditam que os EUA querem controlar as reservas de petróleo ou dominar o mundo. Isso ajuda a explica por que 90% dos franceses e 70% dos alemães pesquisados afirmam que seria bom se a União Européia se apresentasse como um poderoso contrapeso à força dos EUA.

E os americanos?

Com a divulgação da pesquisa, a pergunta que aparece é: o governo americano se preocupa com esses números?

"O governo americano não quer ser temido?", perguntou Albright.

"O Iraque foi muito sobre enviar um alerta aos maus atores", disse Patrick Cronin, membro do CIEE e assessor do governo Bush no período que antecedeu a guerra no Iraque.

Mas Madeleine Albright reagiu. "É bom ser temido por seus inimigos, mas não é bom ser temido por seus amigos", disse.

A maior dúvida é qual o possível impacto desta pesquisa na política externa dos EUA.

"É bom ser popular, mas não se trata de um concurso de popularidade. É uma maneira de garantir que muitos outros países nos acompanhem em suas políticas", disse Albright.

A longo prazo, muitos analistas acreditam que os Estados Unidos terão uma dificuldade crescente em conquistar o apoio de outros países, que não se sentirão incentivados a se juntar a um governo americano muito impopular.

O próprio governo Bush admite que precisa de algum tipo de apoio multilateral para suas políticas de expandir o compromisso militar no Iraque. E os políticos em qualquer país não vão assumir esse risco se prestarem atenção nos números desta pesquisa.
 

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