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18/03/2004
-
12h39
da BBC, em Washington
O filósofo e lingüista Noam Chomsky diz acreditar que o mundo se tornou um "lugar bem mais perigoso" por conta da invasão americana no Iraque.
Mas para ele, as dificuldades que os Estados Unidos estão encontrando na ocupação do país é uma das poucas coisas que impediram a "superpotência" de iniciar novas ações militares em outros cantos do planeta.
"A minha expectativa era de que a ocupação e o controle do Iraque pelos Estados Unidos seriam coisas fáceis, mas estão sendo surpreendentemente difíceis para a superpotência. A demonstração de incompetência e ignorância na ocupação iraquiana foi tamanha que reduziu muito a possibilidade de uso da força em outras situações", disse à BBC Brasil o filósofo, tido como um dos mais agressivos críticos das políticas americanas dentro dos círculos intelectuais do país.
"Se a ocupação (do Iraque) tivesse sido bem sucedida, eles poderiam estar agora aumentando a presença militar nos Andes. Há uma grande atenção do governo americano à situação na Colômbia, na Bolívia e na Venezuela."
Carta branca
O professor nota que a doutrina de segurança estabelecida após a guerra do Iraque dá aos Estados Unidos "carta branca" para atacar qualquer outra nação.
"Inicialmente, os Estados Unidos se basearam na doutrina da guerra preventiva, argumentando que o Iraque tinha armas de destruição em massa. Como elas não foram encontradas, a doutrina foi mudada, e (o secretário de Estado) Colin Powell já deixou claro que basta um país ter a habilidade de produzir armas e a intenção de usá-las para ser candidato a um ataque", diz.
"A habilidade e a capacidade quase qualquer país pode ter. E a intenção está nos olhos de quem julga."
Chomsky observa que, embora sem declarar uma guerra aberta, os Estados Unidos estão aumentando a pressão sobre outros países do Oriente Médio.
"Os Estados Unidos enviaram mais de cem bombardeiros F16 para Israel e fizeram algumas declarações sobre a capacidade de eles voarem até o Irã e voltarem sem necessidade de reabastecimento. Os Estados Unidos também estão fornecendo a Israel algum tipo não especificado de armamento especial", comenta.
Madri
Para Chomsky, os ataques em Madri provam que a estratégia americana acabando criando e fortalecendo os laços que supostamente pretendia combater.
"Antes, especialistas concordavam que não havia qualquer relação entre terrorismo internacional, Al Qaeda e o Iraque, apesar de o governo americano ter feito essa afirmação repetidas vezes. Agora, sim, o Iraque se tornou um campo de trabalho para a Al Qaeda e um elemento na estratégia dela."
O intelectual diz que concorda que o Iraque está melhor sem Saddan Hussein mas ressalva que "o ponto não é esse e, sim, o desejo dos Estados Unidos de controlar os recursos energéticos da região e do estabelecimento de um equilíbrio de forças mais favorável ao país no Oriente Médio".
"Se as sanções (contra o Iraque) tivessem sido planejadas de modo a atingir o governo e não o povo, os próprios iraquianos já teriam se livrado do tirano há muito tempo", diz.
Eleições americanas
O filósofo acha que o impacto da guerra nas eleições ainda é incerto.
"A opinião pública mundial é majoritariamente contra a guerra, mas aqui nos Estados Unidos a maioria do grande público ainda acredita que o Iraque estava desenvolvendo armas de destruição em massa e que o ataque era necessário", diz.
"Mas é importante lembrar que, por algum tempo, até a Guerra do Vietnã (1965-75) teve grande popularidade nos Estados Unidos."
Chomsky observa que as principais figuras do governo Bush já estavam em postos-chave nos anos 80, durante os governos de Ronald Reagan e George W. Bush.
"Esse pessoal de tempos em tempos tem de apertar o botão do pânico", diz.
"Nos anos 80, eles colocaram o país em estado de emergência nacional pelo risco à segurança apresentado pela Nicarágua. É o tipo de coisa que nenhum observador leva a sério."
Chomsky diz que o poder econômico das campanhas vai definir o que os americanos vão pensar a respeito do Iraque.
"A campanha de George W. Bush tem uma enorme quantidade de dinheiro em caixa (estimativas vão de US$ 100 milhões a US$ 170 milhões) para inundar a mídia deste país com informações favoráveis a respeito da guerra no Iraque e o governo Bush."
"Mundo ficou mais perigoso após invasão do Iraque", diz Chomsky
PAULO CABRALda BBC, em Washington
O filósofo e lingüista Noam Chomsky diz acreditar que o mundo se tornou um "lugar bem mais perigoso" por conta da invasão americana no Iraque.
Mas para ele, as dificuldades que os Estados Unidos estão encontrando na ocupação do país é uma das poucas coisas que impediram a "superpotência" de iniciar novas ações militares em outros cantos do planeta.
"A minha expectativa era de que a ocupação e o controle do Iraque pelos Estados Unidos seriam coisas fáceis, mas estão sendo surpreendentemente difíceis para a superpotência. A demonstração de incompetência e ignorância na ocupação iraquiana foi tamanha que reduziu muito a possibilidade de uso da força em outras situações", disse à BBC Brasil o filósofo, tido como um dos mais agressivos críticos das políticas americanas dentro dos círculos intelectuais do país.
"Se a ocupação (do Iraque) tivesse sido bem sucedida, eles poderiam estar agora aumentando a presença militar nos Andes. Há uma grande atenção do governo americano à situação na Colômbia, na Bolívia e na Venezuela."
Carta branca
O professor nota que a doutrina de segurança estabelecida após a guerra do Iraque dá aos Estados Unidos "carta branca" para atacar qualquer outra nação.
"Inicialmente, os Estados Unidos se basearam na doutrina da guerra preventiva, argumentando que o Iraque tinha armas de destruição em massa. Como elas não foram encontradas, a doutrina foi mudada, e (o secretário de Estado) Colin Powell já deixou claro que basta um país ter a habilidade de produzir armas e a intenção de usá-las para ser candidato a um ataque", diz.
"A habilidade e a capacidade quase qualquer país pode ter. E a intenção está nos olhos de quem julga."
Chomsky observa que, embora sem declarar uma guerra aberta, os Estados Unidos estão aumentando a pressão sobre outros países do Oriente Médio.
"Os Estados Unidos enviaram mais de cem bombardeiros F16 para Israel e fizeram algumas declarações sobre a capacidade de eles voarem até o Irã e voltarem sem necessidade de reabastecimento. Os Estados Unidos também estão fornecendo a Israel algum tipo não especificado de armamento especial", comenta.
Madri
Para Chomsky, os ataques em Madri provam que a estratégia americana acabando criando e fortalecendo os laços que supostamente pretendia combater.
"Antes, especialistas concordavam que não havia qualquer relação entre terrorismo internacional, Al Qaeda e o Iraque, apesar de o governo americano ter feito essa afirmação repetidas vezes. Agora, sim, o Iraque se tornou um campo de trabalho para a Al Qaeda e um elemento na estratégia dela."
O intelectual diz que concorda que o Iraque está melhor sem Saddan Hussein mas ressalva que "o ponto não é esse e, sim, o desejo dos Estados Unidos de controlar os recursos energéticos da região e do estabelecimento de um equilíbrio de forças mais favorável ao país no Oriente Médio".
"Se as sanções (contra o Iraque) tivessem sido planejadas de modo a atingir o governo e não o povo, os próprios iraquianos já teriam se livrado do tirano há muito tempo", diz.
Eleições americanas
O filósofo acha que o impacto da guerra nas eleições ainda é incerto.
"A opinião pública mundial é majoritariamente contra a guerra, mas aqui nos Estados Unidos a maioria do grande público ainda acredita que o Iraque estava desenvolvendo armas de destruição em massa e que o ataque era necessário", diz.
"Mas é importante lembrar que, por algum tempo, até a Guerra do Vietnã (1965-75) teve grande popularidade nos Estados Unidos."
Chomsky observa que as principais figuras do governo Bush já estavam em postos-chave nos anos 80, durante os governos de Ronald Reagan e George W. Bush.
"Esse pessoal de tempos em tempos tem de apertar o botão do pânico", diz.
"Nos anos 80, eles colocaram o país em estado de emergência nacional pelo risco à segurança apresentado pela Nicarágua. É o tipo de coisa que nenhum observador leva a sério."
Chomsky diz que o poder econômico das campanhas vai definir o que os americanos vão pensar a respeito do Iraque.
"A campanha de George W. Bush tem uma enorme quantidade de dinheiro em caixa (estimativas vão de US$ 100 milhões a US$ 170 milhões) para inundar a mídia deste país com informações favoráveis a respeito da guerra no Iraque e o governo Bush."
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