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20/03/2004 - 07h07

Análise: Kerry deve escolher vice na surdina

TOM CARVER
especial para a BBC

Escolher um parceiro de chapa presidencial é algo que se faz a portas fechadas.

Talvez esse não seja um ritual tão misterioso quando escolher um novo papa --mas, certamente, é tão secreto quanto.

Como o assessor de imprensa do ex-candidato democrata à presidência americana Michael Dukakis certa vez disse:

"Todo mundo que sabe alguma coisa não vai dizer nada. E todos que não sabem nada vão dizer qualquer coisa".

Ser vice-presidente não é mais motivo para lamentos. Desde 1945, cinco vice-presidentes se tornaram presidentes --Harry Truman, Lyndon Johnson, Richard Nixon, Gerald Ford e George Bush, o pai do atual mandatário.

Pouco democrático

Não há nada de democrático nesse processo de escolha.

O pré-candidato democrata John Kerry vai indicar quem quer que ele considere que dê a ele a melhor chance de chegar à Casa Branca.

Como em qualquer cálculo que parece imensamente complexo, isso pode ser, na verdade, muito simples.

A parte difícil é fazer a escolha funcionar.
Há muitas teorias que se propõem a nortear a escolha do candidato a vice-presidente.

Teoria do equilíbrio

A favorita é a do equilíbrio. De acordo com ela, por ser do Nordeste --do Estado de Massachusetts--, John Kerry deveria escolher alguém do Sul para integrar a sua chapa.

O candidato mais óbvio é o seu ex-rival no processo de prévias democratas, o também senador John Edwards.

A sua imensa habilidade política e o seu carisma seriam grandes atributos para ajudar o às vezes sério demais Kerry.

O lado negativo é que Edwards, provavelmente, não garantiria uma vitória em nenhum dos Estados do Sul, nem mesmo na sua base eleitoral, o Estado da Carolina do Norte.

O Sul é tão republicano que muitos estrategistas acreditam que a teoria do equilíbrio é uma perda de tempo para os democratas.

"Ainda que eu ache que John Edwards tem mais talento político em seu dedo mindinho, não sei se, como companheiro de chapa, ele faria muita diferença", disse Charles Cook, um analista independente de campanhas em Washington.

"Não me parece óbvio que ele possa resolver qualquer problema."
De fato, a maior vantagem que a escolha de Edwards pode representar para Kerry não é na região Sul, mas no norte.

O rótulo de democrata conservador poderia cair bem no gosto de eleitores em Estados de perfil político indefinido e com substancial número de operários de fábricas, como aqueles ao redor dos Grandes Lagos: Michigan ou Wisconsin, por exemplo.

Democratas do Sul, como o ex-presidente Bill Clinton e Edwards, criam um vínculo com conservadores de uma forma que liberais do Norte, como Kerry, geralmente não conseguem.

Gephardt

Talvez Kerry prefira escolher outro ex-rival das prévias, Dick Gephardt, que tem a vantagem de ser de um Estado de perfil político indefinido, o Missouri.

O Missouri elegeu o candidato que acabou chegando à Casa Branca em todas as eleições a que concorreu, exceto uma, desde 1900.

A desvantagem de Gephardt, porém, é que ele é, como Kerry, "prata da casa" de Washington.

Se o presidente Bush pode explorar os 19 anos de Kerry em Washington em seus ataques, ele teria ainda mais munição contra Gephardt, que cumpre mandatos na capital americana há 28 anos.

Gephardt também não é muito carismático.

Esse fato pode até agradar Kerry, que não correria o risco de ser ofuscado, mas uma chapa Kerry/Gephardt não teria muito potencial para agradar as multidões.

Eleitorado latino

Uma outra teoria é a das minorias.

Os hispânicos devem ser bastante cortejados nestas eleições, já que seu crescente poder político pode ser decisivo em Estados de perfil político indefinido como o Novo México e o Arizona.

O governador do Novo México, Bill Richardson, tem origem espanhola e não fez questão de esconder que gostaria de ser considerado um possível companheiro de chapa de Kerry.

O seu problema é que ele tem um peso considerável nas costas, adquirido durante a era Clinton.

Ele tentou encontrar um emprego para a infame ex-estagiária Monica Lewinsky e ficou responsável pela investigação do caso envolvendo Wen Ho Lee, um cientista de Taiwan acusado de trabalhar como espião para a China em território americano.

Surpreendendo

Finalmente, há a teoria da supresa.

Ela funciona assim: escolha alguém que ninguém espera, que não garantiria a vitória em nenhum Estado em particular, mas que possa valorizar a candidatura de alguma outra forma.

A escolha do atual presidente Bush, Dick Cheney, se encaixa nessa categoria.

Entre os nomes cogitados e que podem surpreender estão o próprio ex-presidente Clinton (nada impede que um ex-presidente, titular em dois mandatos consecutivos, seja candidato a vice, mas será que Kerry iria agüentar ser ofuscado?) e um apresentador de TV, Tom Brokaw.

Mas a possibilidade mais tentadora e ousada é alguém que nem é democrata: o senador republicano John McCain.

McCain é, provavelmente, o político mais popular dos Estados Unidos neste momento.

Ele é admirado por democratas e republicanos. Ele é um veterano do Vietnã e é amigo de Kerry.

Quando lhe perguntaram recentemente o que ele diria se lhe fosse oferecida a candidatura à vice-presidência, ele respondeu que "obviamente pensaria a respeito" --o que desencadeou uma mini-tempestade de especulações.

Todavia, é bem possível que ele estivesse apenas brincando --incapaz de resistir à oportunidade de provocar o presidente Bush.

Kerry não precisa fazer sua escolha até a convenção democrata, em julho, mas a expectativa é que ele anuncie um vice antes disso.

Kerry vai precisar de um parceiro que o ajude a lutar, e quanto mais cedo ele partir para a ofensiva, melhor.
 

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