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26/06/2007 - 19h10

Arquivos da CIA mostram que Fidel e URSS divergiram sobre Brasil

BRUNO GARCEZ
da BBC, de Washington

A possível implantação de uma revolução comunista no Brasil, no início dos anos 1960, foi tema de divergências entre o presidente de Cuba, Fidel Castro, e a União Soviética.

A informação consta de um recém-divulgado documento da CIA, elaborado em 1963 e intitulado "A Batalha Sino-Soviética em Cuba e o Movimento Comunista Latino-Americano".

De acordo com o documento, durante um discurso em 1961, Fidel Castro afirmou durante um evento de celebração da Revolução Cubana, com a presença de representantes latino-americanos, que já existiam condições para implantar guerrilhas em todos os países latino-americanos, e que o Brasil e a Venezuela apresentavam as condições ideais para que isso ocorresse.

O relatório acrescenta que a União Soviética seguramente não compartilhava da visão cubana, em especial no que diz respeito ao Brasil.

Exemplo cubano

Em agosto do mesmo ano, o documento diz que Fidel "foi ainda além, ao conclamar publicamente os brasileiros a 'se beneficiarem da experiência cubana' e começarem um movimento de guerrilha contra o que chamou de 'militares reacionários' que haviam recentemente forçado a renúncia do presidente brasileiro [Jânio] Quadros".

A menção era uma referência a Jânio Quadros, que renunciou em 25 de agosto de 1961, alegando ter sido submetido a "forças terríveis", que o obrigavam a abdicar do poder.

O texto diz que, a despeito das cisões, não havia motivos para acreditar que, na época, o Partido Comunista da União Soviética fosse se posicionar contra "o início de algum tipo de luta armada por parte de forças de fora do Partido Comunista capazes de criar uma alavanca através da qual o Partido Comunista poderia se beneficiar da crise constitucional brasileira".

O relatório acrescenta, no entanto, que "Castro, ao ostensivamente clamar por um conflito e interferir na política brasileira, estava minando os interesses de Estado de seu próprio regime, que necessitava manter boas relações com o governo do Brasil".

Ajuda velada

O documento afirma que "em 1963 houve uma aparente tentativa de fazer com que Castro adotasse uma linha mais moderada em relação à revolução no Brasil".

Mas, de acordo com o relatório, "esta tentativa não parece ter impedido Castro de seguir dando assistência velada a forças que advogam uma militância mais aguerrida".

Para não contrariar os soviéticos, diz o arquivo da CIA, o líder cubano não teria mais feito discursos públicos sobre a situação política no Brasil.

"Existem provas de que alguns soviéticos avaliam que a violenta retórica de Castro, ainda que útil no sentido de unir militantes jovens de esquerda, tende a afugentar outras forças da pequena burguesia e da burguesia nacional que poderiam ser seduzidas a aderir ao Partido Comunista local", afirma o documento.

"Isso tem sido particularmente importante em países com uma classe média expressiva, como o Brasil"', acrescenta o texto de 1961.

Prestes, o intermediário

A partir de março de 1963, o texto da CIA afirma que houve uma considerável "desaceleração da propaganda incendiária cubana dirigida à América Latina, que só pode ter sido resultado da influência soviética".

O relatório afirma que um provável intermediário entre Moscou e Fidel Castro teria sido o então secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro, Luis Carlos Prestes.

Em fevereiro de 1963, Prestes visitou Havana pela primeira vez e retornou a Moscou em março.

"Acredita-se que uma das principais preocupações de Prestes era assegurar que Cuba deixaria de apoiar os dissidentes cubanos que eram seus rivais, mas é provável que ele também tenha requisitado, a pedido de Moscou, uma postura mais moderada na postura pública de Cuba em relação à América Latina."

 

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