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03/05/2004 - 05h49

Após fase patriótica, imprensa dos EUA assume postura indócil

CAIO BLINDER
da BBC, em Nova York

No programa "60 Minutes", da rede CBS, são as explosivas fotos de maus tratos de soldados iraquianos.
O programa "Nightline", da rede ABC, vai na ferida. Dedica uma edição às fotos e nomes dos soldados americanos que morreram no Iraque.

Em um texto vigoroso, a revista "Business Week" acusa o governo dos Estados Unidos de estar fora da realidade. No establishment da imprensa americana há dúvidas e críticas à política oficial. Para George W. Bush, a festa acabou.

Uma imprensa domada após os atentados de 11 de setembro de 2001 está indócil. Todd Gitlin, professor de mídia da Universidade de Columbia, em Nova York, diz que material pouco adulador sobre o aparato de poder e os descaminhos da política de Bush que encontrava espaço "nas bordas da imprensa agora está fluindo para o centro".

Revistas semanais tradicionais, os grandes jornais e as redes de televisão estão mais antenadas. Na melhor tradição de Watergate, o "Washington Post" tornou-se infatigável para expor os exageros de inteligência da administração Bush, o planejamento inadequado para o pós-guerra no Iraque e o fracasso para encontrar as armas de destruição em massa.

O "New York Times" publica seus solenes editoriais dando puxões de orelhas no presidente. Valeu, mas onde estava antes a imprensa? Michael Massing publicou no "New York Review of Books" um artigo devastador sobre a imprensa e sua cobertura das armas de destruição em massa do Iraque.

O título é mais do que ilustrativo: "Agora Eles Nos Contam". Massing lembrou que antes da guerra havia um debate acalorado dentro da comunidade de inteligência sobre como o governo Bush estava manipulando os dados das investigações sobre o programa de armas iraquianas.

É a tal história que onde havia um ponto de interrogação, o pessoal da Casa Branca colocava um ponto de exclamação. Muitos jornalistas sabiam das dúvidas dos "insiders". No entanto, poucos decidiram escrever a respeito.

Um debate realizado na Escola de Jornalismo da Universidade de Berkeley, na Califórnia, sobre a cobertura da Guerra do Iraque foi um festival de mea culpa.

Falando de Bagdá por telefone para os participantes da conferência, John Burns, chefe da sucursal do "New York Times", disse: "Nós, os jornalistas, falhamos por termos sido insuficientemente céticos sobre os elementos do plano do governo para ir à guerra".

A imprensa americana costuma acordar quando a opinião pública fica inquieta com os rumos da política oficial ou quando se torna impossível abafar as vozes dissidentes de peso ou de críticos com credibilidade.

A imprensa sente-se bem mais à vontade para questionar quando vozes republicanas no Congresso investem contra a Casa Branca ou quando alguém como Richard Clarke, ex-assessor de contraterrorismo do governo Bush, decide pegar a contra-mão e acusar a ex-chefia de ter sido negligente antes dos atentados de 11 de Setembro.

Ao contrário da Guerra do Vietnã, o ceticismo em relação ao Iraque floresceu mais rapidamente na opinião pública e, por tabela, na imprensa.

Todd Gitlin, o professor da Universidade de Columbia, arremata que as eleições de novembro serão outro grante teste tanto para a opinião pública como para a mídia do establishment.

Como ambas irão reagir a um presidente em campanha de reeleição que, como poucos, soube usar o manto patriótico do poder como escudo de proteção?
 

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