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16/06/2004 - 10h04

Estudo do Vaticano diz que Inquisição matou menos do que se pensava

VERITY MURPHY
da BBC, em Londres

O Vaticano publicou um novo estudo sobre os abusos cometidos durante a Inquisição que traz uma conclusão surpreendente: os julgamentos por heresia não eram tão brutais quanto se acreditava.

Segundo o relatório de 800 páginas, a Inquisição, que espalhou temor na Europa durante a Idade Média, não praticou tantas execuções ou tortura como dizem os livros de história.

O editor do novo livro, professor Agostino Borromeo, sustenta que, na Espanha, apenas 1,8% dos investigados pela Inquisição espanhola foram mortos.

Apesar disso, o papa João Paulo 2º novamente pediu desculpas pelos excessos dos interrogadores, expressando pesar por "erros cometidos a serviço da verdade por meio do recurso a métodos não-cristãos".

O papa, porém, não ultrapassou a regra da igreja segundo a qual os pontífices não criticam os seus predecessores. O papa Gregório 9º, que criou a Inquisição em 1233 para combater a heresia (a negação da verdade da fé católica), não foi mencionado no comunicado.

Hereges

Após a consolidação do poder na Europa da Igreja Católica Romana, nos séculos 12 e 13, ela estabeleceu a Inquisição para assegurar que os hereges não minassem a sua autoridade.

O sistema tomou a forma de uma rede de tribunais eclesiásticos com juízes e investigadores.

As punições aos condenados variavam de visitas forçadas à igreja ou fazer peregrinações até a prisão perpétua ou execução na fogueira.

A Inquisição estimulava delações, e os acusados não tinham o direito de questionar a pessoa que o havia acusado de heresia.

Ela atingiu o seu pico no século 16, quando a igreja enfrentava a reforma protestante. Seu julgamento mais famoso aconteceu em 1633, quando Galileu foi condenado por postular que a Terra girava ao redor do Sol.

A Inquisição espanhola, que se tornou independente do Vaticano no século 15, praticou os abusos mais extremos, sobretudo com o uso dos autos da fé, em que matavam os condenados em fogueiras públicas.

Seus representantes torturavam as vítimas, realizavam julgamentos sumários, forçavam conversões e aprovavam sentenças de morte.

"Não há dúvidas de que, no começo, os procedimentos planejados foram aplicados com rigor excessivo, que em alguns casos foram degenerados e se tornaram verdadeiros abusos", diz o novo estudo do Vaticano.

Mas o relatório, preparado ao longo de seis anos, argumenta que a Inquisição não foi tão má como se costumava crer.

"Bonecos no fogo"

Borromeo cita como exemplo que, de 125 mil julgamentos de suspeitos de heresia na Espanha, menos de 2% foram executados.

Ele afirma que muitas vezes bonecos eram queimados para representar aqueles que foram condenados à revelia.

E que bruxas e hereges que demonstravam arrependimento no último minuto recebiam algum tipo de alívio para a dor quando eram estrangulados antes de serem queimados.

Para aqueles que possuem ligação com as vítimas da Inquisição, porém, a declaração do Vaticano de que ela não era tão má quanto se dizia tem pouca importância.

Os valdesianos, membros de uma seita protestante declarada herege no século 12, estavam entre as vítimas da Inquisição.

"Não importa se há muitos ou poucos casos. O que é importante é que você não pode dizer: 'Estou certo, você está errado, e eu vou te queimar'", disse Thomas Noffke, um pastor valdesiano americano que vive em Roma.

Ainda segundo o novo relatório, no auge da Inquisição a Alemanha matou mais bruxas e bruxos que em qualquer outro lugar, cerca de 25 mil.
 

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