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08/07/2004 - 10h20

Rádios viram arma no conflito colombiano

VALQUÍRIA REY
da BBC Brasil, em Bogotá

O governo e as guerrilhas colombianas estão usando as ondas do rádio como uma nova arma de combate no país.

Enquanto as emissoras de rádio do Exército e da polícia anunciam que guerrilheiros foram mortos em combate e oferecem recompensas por informações sobre o paradeiro dos principais líderes, as duas maiores guerrilhas colombianas atacam o governo e pedem à população para se incorporar à luta revolucionária.

A guerra psicológica fora dos tradicionais campos de batalha é considerada uma ferramenta tática importante por todos os grupos armados, legais e ilegais, para conquistar simpatizantes e destruir inimigos.

Do lado do Exército e da polícia, estão 60 emissoras. Já os paramilitares da extrema-direita contam com seis. As guerrilhas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e Exército de Libertação Nacional (ELN) têm, juntos, cem estações clandestinas.

Ideologia

Na avaliação do coronel Adalgiza Serrano, diretora das 31 emissoras do Exército, não se trata de uma competição.

"Buscamos conscientizar as pessoas sobre o amor pela Pátria", afirma Adalgiza. "Também enviamos mensagens aos terroristas para aprenderem que estão sendo enganados por uma ideologia que defende a destruição e a violência".

Segundo ela, em muitos lugares, as emissoras do Exército são líderes de audiência. Em outros, a única opção para os ouvintes.

Criadas há cinco anos e presentes em 70% do território nacional, o tamanho e a influência delas são comparadas a conceituadas emissoras comerciais do país.

"É uma ferramenta muito importante na guerra e um grande apoio para o governo", diz Adalgiza. "Através das mensagens psicológicas que utilizamos, conseguimos desmobilizar muitos guerrilheiros."

A luta nas freqüências de AM e FM é diária e constante. Todos os grupos estão no ar durante as 24 horas do dia.

"Nossas primeiras emissoras surgiram em 1996, quando detectamos a importância de contar com um meio de comunicação massivo, que nos permitisse maior aproximação com a sociedade", informa o capitão Pedro Gómez Durán, gerente da rádio da polícia de Bogotá.

Conforme Gómez, a polícia tem hoje 29 estações e, em pouco tempo, deverá contar com outras dez, que aguardam aprovação do Ministério da Educação. De acordo com ele, as rádios guerrilheiras são muito diferentes das da polícia.

"Eles trabalham para desestabilizar, chamar à guerra e à desordem", afirma. "Nós estamos comprometidos com a sociedade, a segurança, a tranqüilidade e a convivência pacífica."

Paulo Beltrán, líder do ELN, discorda. Recentemente, durante lançamento de uma emissora do grupo, ele disse que a comunicação por meio do rádio é uma alternativa de confrontação ao bombardeio ideológico dos veículos oficiais.

"Nosso objetivo é desmascarar o Estado", disse Beltrán. "Queremos levar ao povo a recuperação da sua cultura e identidade, através de um processo de formação e conscientização."

Fama

Os guerrilheiros das Farc foram os primeiros a utilizar o rádio para ganhar simpatizantes com suas cadeias piratas Voz da Resistência e Rádio Pátria Livre. Já os paramilitares, os últimos. Há apenas dois anos se deram conta que era importante investir nas rádios clandestinas.

Depois de comprovarem como as Farc e o ELN ganhavam influência em regiões remotas do país, onde a única conexão dos camponeses com o mundo exterior eram as rádios guerrilheiras, policiais e militares decidiram investir na criação de suas emissoras para recuperar a audiência perdida.

Tanto nas estações dos policiais e militares, como nas dos guerrilheiros, os locutores e cantores são tão famosos como os jornalistas que trabalham para emissoras comerciais.

Uma das celebridades do Exército chama-se J.J. Fernandez, com mais de 15 anos de experiência em rádios tradicionais.

"Trabalhar numa emissora comercial e para o Exército é igual", diz Fernandez. "Nossos ouvintes não são diferentes. O assédio do público é o mesmo."

Além da disputa pela audiência e a melhor programação, outra batalha travada pelo Exército é a de interceptar e destruir as emissões guerrilheiras. Esses grupos, por outro lado, fazem ruídos durante as transmissões dos militares para que os ouvintes se cansem e troquem de emissora.

A guerra é tão séria que o Ministério Público colombiano investiga se a morte da adolescente Mónica Fernandez, ocorrida há três meses depois que um soldado dedicou a ela uma canção pela emissora, tem alguma relação com a batalha travada através das ondas do rádio.

Especial
  • Arquivo: veja o que já foi publicado sobre o conflito na Colômbia
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