Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
18/10/2007 - 05h56

FMI precisa da competição do Banco do Sul, diz Stiglitz

da BBC Brasil

Joseph Stiglitz, ex-chefe do Banco Mundial (Bird) e vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2001, acredita que o Fundo Monetário Internacional se tornou um "clube de países ricos" e que a criação do Banco do Sul em vez de uma ameaça oferece, pelo contrário, "a competitividade da qual o fundo necessita".

"Existem duas falhas graves dentro do FMI. Uma delas é que se ele se tornou um clube dos países ricos, dos Estados Unidos e da Europa, principalmente. E dentro dele, apenas um país, os Estados Unidos, tem o poder de veto. Os Estados Unidos são atualmente a principal fonte de instabilidade no mundo, como se viu na crise do setor de "subprime´ [de hipotecas de alto risco]", disse Stiglitz à BBC Brasil.

Mas o ex-chefe do Bird acrescenta que "o FMI não se atreve a criticar os Estados Unidos, mesmo porque o país é o principal financiador do fundo, o que torna difícil para o FMI ter uma visão objetiva desses fenômenos".

O economista comenta que o fundo precisa rever o seu papel e "se reinventar". Por conta disso, ele acredita que a criação do Banco do Sul deve ser saudada, uma vez que o próprio fundo "precisa de competitividade, de diversidade".

Banco do Sul

O Banco do Sul partiu de uma iniciativa da Venezuela. Ele visa financiar projetos de desenvolvimento regionais e pretende ser uma alternativa local a instituições como o próprio FMI, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, todos com sedes em Washington.

A instituição deverá contar com a participação da Argentina, Bolívia, Brasil, Equador, Paraguai e Venezuela. A data prevista para o início de seu funcionamento é no próximo dia 3 de novembro. Na semana passada, a Colômbia manifestou interesse em aderir ao Banco do Sul.

No entender de Stiglitz, o Banco do Sul poderá ter mais sensibilidade para lidar com crises locais do que o FMI. Ele cita o exemplo da crise econômica do Leste Asiático, que teve início no final dos anos 90, para enfatizar a suposta inaptidão do fundo em saber como agir diante de situações adversas regionais.

"Quando estourou a crise no Leste Asiático, havia uma pressão local para que se criasse um fundo asiático, mais capaz de entender a situação vivida na região e as estruturas locais, porque o FMI não estava sendo capaz de compreender o que estava se passando por lá".

O economista defende ainda uma completa reformulação na forma como tanto os líderes do FMI como do Banco Mundial são selecionados, que é também uma das reivindicações de alguns países em desenvolvimento, entre eles o Brasil.

Pelo acordo em vigor desde a criação dos dois órgãos, em 1949, o comando do Banco Mundial fica com os Estados Unidos e o do FMI, com a Europa.

"Eu venho defendendo mudanças há oito anos. Eu desaprovei a forma como tanto Horst Köhler e Rodrigo de Rato foram escolhidos", diz Stiglitz em relação aos mais recentes detentores do cargo de diretor do FMI. O espanhol De Rato será substituído em 1° de novembro pelo francês Dominique Strauss-Kahn.

Escândalo

Stiglitz comenta que os recentes episódios envolvendo Paul Wolfowitz, o ex-presidente do Banco Mundial, "abriram os olhos" da instituição. Wolfowitz renunciou ao cargo em 30 de junho deste ano, após o escândalo em que foi acusado de nepotismo por haver autorizado a promoção de sua namorada, Shaha Riza, que também trabalhava no banco.

"Mas, mesmo depois disso, eles deram continuidade a um sistema fracassado de escolha sucessória. Existem movimentos, mas não saberia dizer se o processo de escolha das próximas lideranças já será diferente", comenta o ex-presidente do Bird.

Em relação ao atual presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, Stiglitz diz que "há referências de que ele trabalha duro e é muito envolvido, mas tenho dúvidas de que o nome dele estaria na lista final se não coubesse aos Estados Unidos indicar o presidente do órgão".

Mas, acrescenta o economista, o presidente George W. Bush "não apenas determina a lista final, como até mesmo a lista completa. E Bush não tem qualquer compreensão de desenvolvimento ou de multilateralismo".

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página