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16/08/2004 - 09h46

Filas de até 14 horas marcam votação na Venezuela

EDSON PORTO
da BBC Brasil, em Caracas

"Valeu a pena". Foi assim que a dona-de-casa Maria Freitas, 52, descreveu as mais de oito horas que passou na fila de sua zona eleitoral para votar no referendo sobre o futuro do presidente Hugo Chávez.

"É um dia muito importante, porque aqui se define a democracia venezuelana", disse, depois de sair de um local de votação no centro de Caracas (capital).

No final do dia, casos como o de Maria Freitas se tornaram comuns. A administradora Rosales Bezerra chegou ao colégio Schontal, em um dos bairros nobres da cidade, às 8h. Ela só conseguiu votar 14 horas depois.

"Fiquei tanto tempo porque quero votar. Ninguém ficou em casa", disse ela.

"Direito do cidadão"

Os eleitores venezuelanos começaram a se reunir de madrugada em filas diante dos colégios eleitorais em todo o país.

Às 6h, horário previsto para o início da votação, em várias regiões, as filas já estavam grandes.

Apesar das filas literalmente quilométricas, a maioria dos venezuelanos se manteve resoluta.

"Cheguei às 6h, e estou aqui porque esse é um direito fundamental do cidadão", afirmou o comerciante José Antonio Dias. Ele fez a afirmação às 14h30, pouco antes de entrar na sala de votação em uma zona eleitoral de Caracas.

O máximo que se podia ver ao longo do dia como manifestação de insatisfação com a demora eram grupos de pessoas gritando "queremos votar", normalmente toda vez que aparecia uma câmera de televisão por perto.

Por outro lado, se inventou de tudo para fazer o tempo passar, de rodas de música a jogos. Muitos venezuelanos que já haviam votado também saíram às ruas oferencendo doces e comida para quem ainda estava nas filas.

Em alguns pontos da cidade, banheiros foram instalados pelo Exército para ajudar a população.

Cidade dividida

Na capital venezuelana, era possível identificar simpatizantes dos dois lados da contenda, o governo e a oposição, pelos bairros em que votavam.

Em um dos bairros mais pobres e violentos de Caracas, o 23 de Janeiro, as placas e cartazes vermelhos dizendo "no", que identifica os simpatizantes de Chávez e aqueles que "não" querem que ele deixe o governo, estão espalhados por todos os lados.

Nas filas dos colégios eleitorais da região também era possível encontrar muitas pessoas com peças de roupa vermelha, uma indicação de apoio ao presidente.

"Estou com o meu comandante, assim como a grande maioria aqui", disse Gisela Apitz, técnica de registro de saúde, depois de votar no colégio 23 de Janeiro.

O bairro é composto por áreas com prédios antigos e favelas muito parecidas com as de São Paulo ou do Rio de Janeiro.

De carro, não é preciso mais do que dez minutos para se ir do 23 de Janeiro para a área do Country Club, uma das mais nobres da cidade.

Nessa parte de Caracas, as filas e a disposição das pessoas eram as mesmas, mas a opção política não.

"Queremos que a Venezuela volte a ser o que era", disse a comerciante Maria Gomes pouco antes de votar no colégio Santo Thomaz de Aquino, um dos mais elitistas da cidade.

Embora mais tímidos do que os eleitores do bairro de 23 de Janeiro, nem Maria Gomez nem seus colegas de fila escondiam a preferência pelo "si" contra Chávez.

"A Venezuela vai mudar e "si" acredito que vamos vencer", disse rindo Maria Ramos, corretora de imóveis que também votou no colégio Thomaz de Aquino.

O que uniu os dois lados da cidade é a crença de que ficar nas filas horas sem fim é a melhor maneira de tentar resolver o atual impasse político que vive o país.

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