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17/08/2004
-
18h38
da BBC Brasil, em Caracas
A derrota e a decisão de não aceitar o resultado do referendo sobre o mandato do presidente Hugo Chávez podem ameaçar o futuro da frente de oposição venezuelana, na opinião de analistas e políticos ouvidos pela BBC Brasil.
"É um suicídio político não aceitar o resultado", diza Margarida Lopez Maia, historiadora e pesquisadora da Universidade Central da Venezuela.
"Essa é uma estratégia errada, que ignora que Hugo Chávez tem realmente um grande apoio da população."
Margarida acredita que a postura de parte da liderança política de chamar o referendo de fraude é "cínica e oportunista", porque ela avalia que essa liderança sabe que perdeu de fato a votação.
"O problema é que essa liderança não tem um novo projeto, uma nova estratégia, a não ser negar o voto."
Contestação
Jesus Torrealba, um dos porta-vozes da Coordenação Democrática, que reúne os mais de 30 partidos e grupos de oposição a Chávez, não concorda.
"Nossos próximos passos são reorganizar a oposição, provar que o referendo foi uma fraude e se preparar para a mobilização que virá após isso", afirma ele.
Ele disse ainda que a contestação a Chávez não vai se resumir ao referendo. "Queremos um outro modelo de país."
Para o sociológo Roberto Briceño-León, a base da oposição provavelmente vai se unir ainda mais contra Chávez depois do referendo, mas a liderança do movimento poderá ser contestada.
"Antes do referendo houve muitas discussões entre os opositores sobre se seria a estratégia correta participar do processo, porque havia uma expectativa muito grande de que poderia haver fraude ou de que ele fosse usado para legitimar um governo que é tido como autoritário", disse ele.
"Agora, que a estratégia se mostrou frustrada, pode ocorrer uma contestação da liderança."
Na opinião de Briceño-León, muitos líderes da oposição são políticos tradicionais que já foram rejeitados pelos eleitores no passado.
"A derrota pode abrir espaço para o surgimento de uma nova liderança oposicionista", afirmou ele.
O deputado governista Calixto Ortega disse que "parte dos opositores já admite a derrota" e que vai ocorrer uma implosão da Coordenação Democrática.
"Não acredito que a oposição vai se dividir agora, esse seria o maior presente que podemos dar a Chávez", contestou Jesus Torrealba.
Ele também rechaça a teoria de queda da liderança oposicionista. "Não há uma única liderança, a Coordenação Democrática é uma plataforma para os vários grupos de oposição."
Vladimir Mujica, membro da oposição por meio da Assembléia dos Cidadãos, diz que também não acredita numa divisão entre a base opositora.
Porém, ele reconhece que pode haver uma discussão ampla sobre a atuação da liderança do movimento.
"Há uma frustração muito grande e pode haver a cobrança de explicações, mas acho que o mais importante é a contestação à fraude", afirmou ele.
Divisão
Tanto a oposição como o governo afirmam que a grande disputa na Venezuela se dá em torno do modelo político e econômico do país.
Até os meio de comunicação são parciais. Um exemplo disso pôde ser visto na manhã de segunda-feira, após o anúncio da vitória de Chávez.
Na rede estatal de televisão, o apresentador de um programa de jornalismo tinha uma faixa de apoio ao presidente na cabeça e o cenário do programa imitava uma festa de carnaval.
No canal privado Globovision, na mesma hora, uma roda de apresentadores, todos opositores, diziam que a fraude era clara.
Para Chávez, seu governo está fazendo uma "revolução democrática", apostando em um Estado forte e independente, com grande ênfase na democracia participativa e em programas sociais aplicados diretamente nas comunidades.
Segundo os opositores, Chávez é um líder populista que está criando lentamente um sistema autoritário por trás de uma ilusão de democracia, criando um capitalismo estatal e usando o dinheiro da produção petrolífera para "comprar" o apoio da população mais carente.
Vitória de Chávez põe em xeque futuro da oposição
EDSON PORTOda BBC Brasil, em Caracas
A derrota e a decisão de não aceitar o resultado do referendo sobre o mandato do presidente Hugo Chávez podem ameaçar o futuro da frente de oposição venezuelana, na opinião de analistas e políticos ouvidos pela BBC Brasil.
"É um suicídio político não aceitar o resultado", diza Margarida Lopez Maia, historiadora e pesquisadora da Universidade Central da Venezuela.
"Essa é uma estratégia errada, que ignora que Hugo Chávez tem realmente um grande apoio da população."
Margarida acredita que a postura de parte da liderança política de chamar o referendo de fraude é "cínica e oportunista", porque ela avalia que essa liderança sabe que perdeu de fato a votação.
"O problema é que essa liderança não tem um novo projeto, uma nova estratégia, a não ser negar o voto."
Contestação
Jesus Torrealba, um dos porta-vozes da Coordenação Democrática, que reúne os mais de 30 partidos e grupos de oposição a Chávez, não concorda.
"Nossos próximos passos são reorganizar a oposição, provar que o referendo foi uma fraude e se preparar para a mobilização que virá após isso", afirma ele.
Ele disse ainda que a contestação a Chávez não vai se resumir ao referendo. "Queremos um outro modelo de país."
Para o sociológo Roberto Briceño-León, a base da oposição provavelmente vai se unir ainda mais contra Chávez depois do referendo, mas a liderança do movimento poderá ser contestada.
"Antes do referendo houve muitas discussões entre os opositores sobre se seria a estratégia correta participar do processo, porque havia uma expectativa muito grande de que poderia haver fraude ou de que ele fosse usado para legitimar um governo que é tido como autoritário", disse ele.
"Agora, que a estratégia se mostrou frustrada, pode ocorrer uma contestação da liderança."
Na opinião de Briceño-León, muitos líderes da oposição são políticos tradicionais que já foram rejeitados pelos eleitores no passado.
"A derrota pode abrir espaço para o surgimento de uma nova liderança oposicionista", afirmou ele.
O deputado governista Calixto Ortega disse que "parte dos opositores já admite a derrota" e que vai ocorrer uma implosão da Coordenação Democrática.
"Não acredito que a oposição vai se dividir agora, esse seria o maior presente que podemos dar a Chávez", contestou Jesus Torrealba.
Ele também rechaça a teoria de queda da liderança oposicionista. "Não há uma única liderança, a Coordenação Democrática é uma plataforma para os vários grupos de oposição."
Vladimir Mujica, membro da oposição por meio da Assembléia dos Cidadãos, diz que também não acredita numa divisão entre a base opositora.
Porém, ele reconhece que pode haver uma discussão ampla sobre a atuação da liderança do movimento.
"Há uma frustração muito grande e pode haver a cobrança de explicações, mas acho que o mais importante é a contestação à fraude", afirmou ele.
Divisão
Tanto a oposição como o governo afirmam que a grande disputa na Venezuela se dá em torno do modelo político e econômico do país.
Até os meio de comunicação são parciais. Um exemplo disso pôde ser visto na manhã de segunda-feira, após o anúncio da vitória de Chávez.
Na rede estatal de televisão, o apresentador de um programa de jornalismo tinha uma faixa de apoio ao presidente na cabeça e o cenário do programa imitava uma festa de carnaval.
No canal privado Globovision, na mesma hora, uma roda de apresentadores, todos opositores, diziam que a fraude era clara.
Para Chávez, seu governo está fazendo uma "revolução democrática", apostando em um Estado forte e independente, com grande ênfase na democracia participativa e em programas sociais aplicados diretamente nas comunidades.
Segundo os opositores, Chávez é um líder populista que está criando lentamente um sistema autoritário por trás de uma ilusão de democracia, criando um capitalismo estatal e usando o dinheiro da produção petrolífera para "comprar" o apoio da população mais carente.
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