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21/08/2004 - 07h26

A Semana: Chávez vence oposição em tira-teima venezuelano

ROGÉRIO SIMÕES
da BBC Brasil

A segunda-feira, 16 de agosto, começou com as imagens do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, já comemorando o histórico resultado no tão esperado referendo presidencial.

Mais de dois anos após um golpe de Estado que o manteve fora do cargo por 48 horas, Chávez conseguiu o que pode ter sido uma vitória definitiva sobre a oposição, pelo menos até o final do seu mandato, em 2007.

O resultado do referendo, realizado no domingo em uma impressionante demonstração de engajamento político dos venezuelanos, não foi aceito pela oposição. Mas, durante a semana, seus líderes viram seus recursos e argumentos se enfraquecendo a cada dia.

Depois que a comissão eleitoral anunciou a vitória do presidente, por cerca de 58% a 42% dos votos, seus opositores alegaram ter havido fraude.

Mas, na própria segunda-feira, os observadores internacionais que acompanharam a consulta - entre eles o ex-presidente americano Jimmy Carter - disseram que consideravam legítimo o resultado, registrado em urnas eletrônicas.

Nas ruas de Caracas, havia pequenos sinais de que o temor de violência não era em vão. Entre outros incidentes, durante um protesto contra Chávez pelo menos oito manifestantes foram feridos a tiros.

O governo brasileiro foi um dos primeiros a reconhecer a vitória do governo. Ainda na segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva congratulou seu colega venezuelano e pediu humildade aos vitoriosos e serenidade aos derrotados.

Os Estados Unidos demoraram um pouco mais, mas na terça-feira também reconheceram o resultado. A oposição, entretanto, ainda questionava a vitória de Chávez.

Na quarta-feira, a OEA (Organização dos Estados Americanos) e o Centro Carter apresentaram uma proposta de auditoria, iniciada no dia seguinte. Mas os oposicionistas protestaram dizendo que as condições da investigação não eram adequadas e se recusaram a participar do processo.

Até a sexta-feira, segundo as autoridades eleitorais, nenhum indício de fraude havia sido identificado.

O resultado não esconde o fato de que a Venezuela continua apaixonadamente dividida.

Os mais pobres, em sua grande maioria, deram seu apoio nas urnas a Chávez, que sempre prometeu uma revolução social e recentemente intensificou os investimentos em áreas mais carentes do país.

Os mais ricos e grande parte da classe média, para quem Chávez é um caudilho que quer se perpetuar no poder, pediam que a Venezuela "voltasse a ser o que era antes", como disse uma eleitora.

Chávez, que afirmou também ser o presidente de quem votou contra ele, agora segue com seu governo e sua Revolução Bolivariana. Até 2007, novas crises podem aparecer, mas pelo menos os venezuelanos provaram que podem resolvê-las nas urnas.

Resistência no santuário

A crise envolvendo a resistência do clérico xiita Moqtada Al-Sadr na cidade de Najaf, no Iraque, avançou por mais uma semana e ainda deixa dúvidas sobre seu impacto no futuro do país.

Na segunda-feira, durante a conferência realizada em Bagdá para definir a composição de uma Assembléia interina para o país, o conflito em Najaf continuava dominando a pauta.

Numa tentativa de pôr fim à crise, os delegados decidiram enviar uma comissão de líderes religiosos para a cidade para negociar com Moqtada Al-Sadr, cuja milícia controlava o santuário sagrado do imã Ali.

Na terça-feira, o grupo foi a Najaf, mas não conseguiu ser recebido por Al-Sadr, em mais um fracasso das inúmeras tentativas de negociação entre o governo interino iraquiano e o líder religioso.

Enquanto isso, tropas dos Estados Unidos voltavam a atacar posições dos militantes em torno do santuário sagrado. Na noite de quinta para sexta-feira, às trocas de tiros foi adicionada uma série de bombardeios aéreos pesados, em que mais de 70 pessoas foram mortas.

A sexta-feira terminou em clima de confusão diante de informações contraditórias vindas de Najaf. Moqtada Al-Sadr teria aceito deixar o santuário, e seus seguidores já teriam saído do local, mas o fato era negado por algumas fontes.

Para muitos envolvidos na crise, o único capaz de resolver o impasse seria o aiatolá Ali Al-Sistani, líder máximo dos xiitas iraquianos. Mas Al-Sistani continua recebendo tratamento médico em Londres, para onde viajou às pressas dias atrás.

Os mais recentes combates mostraram que Moqtada Al-Sadr e seu Exército Mehdi têm apoio considerável, não apenas em Najaf, mas em boa parte do sul do Iraque e em Bagdá.

Por isso o primeiro-ministro interino, Iyad Allawi, sabe que o sua posição como líder do país nunca estará segura enquanto durar a rebelião de Najaf.

E agora, Sharon?

A oposição trabalhista israelense estava disposta a ajudar o primeiro-ministro Ariel Sharon a colocar em prática seu plano de retirada da palestina Faixa de Gaza.

O líder dos trabalhistas, o veterano da política e ex-premiê Shimon Peres, esperava apenas que o Likud, partido de Sharon, aprovasse a participação de sua legenda no governo.

Mas na quarta-feira veio a decisão que pode levar Sharon a enfrentar novamente a voz das urnas. O comitê executivo do Likud rejeitou a entrada dos trabalhistas, deixando o premiê sem opções em relação ao seu plano para Gaza.

O Likud já havia rejeitado, também em uma consulta interna, o plano de saída do território palestino. Sharon imaginava então que um governo de união nacional poderia colocar o plano em prática, o que agora ficou mais difícil.

Diante da nova realidade, na quinta-feira, Shimon Peres pediu a realização de eleições nacionais em Israel. Sharon, por sua vez, continua acreditando na formação de uma coalizão nacional.

Semanas depois de uma disputa interna na Autoridade Palestina que quase derrubou o premiê Ahmed Korei, é a vez de Israel aparecer mergulhada numa crise política. Em tempos como esses, sobra pouco espaço para qualquer retomada de negociações de paz na região.
 

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