Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
30/08/2004 - 17h46

Brasil celebra saldo positivo em Atenas, apesar de decepções

THOMAS PAPPON*
da BBC Brasil, em Atenas

Os Jogos Olímpicos de Atenas foram os melhores da história para o Brasil, pelo menos no números de medalhas de ouro.

O país subiu quatro vezes ao lugar mais alto do pódio, um feito inédito, e terminou, pela primeira vez, entre os 20 melhores no quadro de medalhas.

Mas apesar da festa pelo bom resultado, o Brasil deixa Atenas amargando algumas decepções. Talvez a maior tenha sido com a ginasta Daiane dos Santos, sobre quem a torcida depositava esperança de medalha, até de ouro.

Daiane teve um desempenho ruim --admitiu que errou-- e ficou em quinto lugar na final individual por aparelhos (solo).

Avaliação positiva

A esperança de medalha não era infundada, mas amparada no bom desempenho de Daiane no Mundial de Anaheim (em 2003) e em quatro etapas da Copa do Mundo, entre 2003 e 2004. De todas essas competições, ela voltou com o ouro no solo.

Na avaliação do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), o Brasil fez uma boa Olimpíada --que não deve ser medida pelo número de medalhas, mas pelo avanço registrado em várias modalidades.

"O principal é a melhoria qualitativa do esporte brasileiro", disse Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB. "Ela foi demonstrada não só pelo número de atletas que vieram, como pelo crescimento das modalidades e pelos resultados."

O Brasil levou para Atenas a maior delegação de sua história, 247 ao todo. O número de modalidades que contaram com participação de atletas brasileiros nas Olimpíadas, também foi o maior, 27.

Paciência

Os melhores resultados, no entanto, foram obtidos mesmo nas modalidades em que o país já tem participado há alguns anos.

"Quando se trata de atletas de um esporte que ainda é embrionário no país, todos tem que começar de algum jeito", disse Nuzman. "Muitas vezes, esse crescimento é longo. Requer paciência e muita dedicação."

Nuzman reconheceu que o desempenho mais decepcionante foi o do atletismo, apesar do bronze conquistado por Vanderlei Cordeiro na maratona, o único pódio do Brasil na modalidade em Atenas.

Em toda a história, o atletismo foi o segundo esporte que mais medalhas deu para o Brasil. São 13 no total, uma a menos do que o iatismo.

"Precisamos ver isso. Vamos sentar com a Confederação Brasileira de Atletismo e analisar esse desempenho", disse Nuzman.

O COB recebeu críticas por ter levado 37 atletas no esporte, sendo que apenas seis conseguiram participar de finais no Estádio Olímpico.

Índice

"O atleta que consegue um índice estabelecido pela federação internacional tem o direito adquirido de participar dos Jogos Olímpicos", disse Nuzman. "Ninguém pode tirar esse direito do atleta. Ele pode ir à Justiça e conseguir uma liminar."

Outra razão que influenciou no fraco resultado do atletismo e outras modalidades foi o grande intervalo entre o momento da conquista de um índice olímpico --a marca mínima exigida pelas federações para classificar um atleta para os Jogos-- e a competição.

Em alguns casos, os atletas conquistaram o direito de ir para Atenas um ano antes dos Jogos, e acabaram perdendo a forma por terem se machucado ou por outras razões.

Nuzman disse que a possibilidade de se fazer uma reavaliação de atletas em um momento mais próximo do início dos Jogos será estudada. "O atleta tem que estar em condições de brigar, de pelo menos fazer o índice", disse.

Esportes nobres

Na natação, que junto com o atletismo forma a dupla de esportes nobres dos Jogos Olímpicos, o resultado não foi melhor. O Brasil saiu das piscinas sem qualquer medalha, o que tinha acontecido pela última vez em Seul-88.

A equipe de natação brasileira chegou a cinco finais e bateu seis recordes sul-americanos, além de ter igualado outra marca do continente. Há que se registrar o bom desempenho das mulheres, que chegaram a três finais (50m livre, 400m medley e 4x200m livre), o que nunca tinha acontecido antes.

Ainda no capítulo decepções está o desempenho da seleção de vôlei feminino, cotada para o ouro, mas que teve que se contentar com o quarto lugar, ao perder uma semifinal para a Rússia e, abalada, não conseguir superar as cubanas na disputa do bronze.

Outro que poderia ter voltado com medalha foi o velejador Ricardo Winicki, o Bimba. Ele chegou à última regata da classe Mistral como líder, mas perdeu a chance de subir ao pódio a poucos metros da linha de chegada.

Quadro

O Brasil terminou na 18ª posição do quadro. Dos países países que ficaram à sua frente, apenas os Estados Unidos e a China têm uma população maior.

Nuzman disse que não é o número de habitantes que pesa no desempenho de um país no quadro de medalhas, e que a falta de dinheiro continua sendo o maior obstáculo para o desenvolvimento do esporte no país.

"O que pesa são tradições e investimento. Espero que a lei de incentivo fiscal possa se tornar uma grande ajuda ao esporte brasileiro", disse. "Nenhum país que lidera o quadro de medalhas conquistou isso sem dinheiro."

A Olimpíada de Atenas foi a primeira em que a delegação pôde contar com recursos vindos da lei Agnelo-Piva. "Temos dois anos e meio de aplicação da lei", afirma Nuzman.

"Ninguém pode pensar em resultados, pois os recursos levantados com a lei representam apenas um terço da necessidade do esporte brasileiro", disse o presidente do COB.

"É um trabalho de dez ou 12 anos que precisa ser feito, antes disso não temos condições de colher resultados."

*Com a redação da BBC Brasil

Leia mais
  • Confira o desempenho do Brasil, esporte a esporte, e decida se valeu a pena

    Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a Lei Piva
  • Leia mais notícias no especial dos Jogos Olímpicos-2004
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página