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10/09/2004
-
10h19
da BBC Brasil, em Miami
O surgimento e o fortalecimento do furacão Ivan, que está devastando regiões em ilhas do Caribe, é mais um sinal de que a temporada de furacões deste ano está sendo uma das mais ativas já registradas.
A principal teoria que vem sendo usada para explicar a "hiperatividade", concebida por cientistas americanos, indica que a região está tendo, desde 1995, condições ideais para o desenvolvimento das tempestades, depois de mais de 20 anos de "baixa atividade".
"Nos anos 60, 70 e 80, a atividade foi muito baixa e, a partir de 1995, mais ou menos, a atividade voltou a aumentar", explicou Alberto Mestas-Nuñez, oceanógrafo da Agência Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), um dos autores do estudo.
"E o que nós esperamos é que esta (alta) atividade continue por uma ou duas décadas", alertou.
Ciclo
Mestas-Nuñez explica que o surgimento de furacões depende principalmente de dois fatores: a temperatura das águas do oceano na área em que a tempestade se forma e a intensidade dos ventos nas camadas mais altas da atmosfera. Quanto mais quentes as águas e menos fortes os ventos, maior a possibilidade de que um furacão surja e se fortaleça.
"O que nós pensamos estar relacionado com o aumento da atividade a partir de 95 é que os dois fatores passaram de uma condição desfavorável a uma condição favorável", disse, explicando que a temperatura do Oceano Atlântico, sobretudo na zona onde os furacões se formam, aumentou no período, e os ventos estão mais fracos.
"Esse aquecimento é parte de um ciclo, um ciclo de décadas, de mais ou menos 60 anos. Ou seja, podem se passar 20 ou 30 anos de fase de aquecimento, e depois 20 e 30 anos por uma fase fria."
O período anterior de "hiperatividade", de acordo com as estatísticas do NOAA, se encerrou em 1970.
El Niño
Entre 1971 e 1994, apenas quatro anos tiveram mais de dois grandes furacões (com ventos máximos acima de 178 km/h) e nenhum teve mais de três. Entre 1995 e 2003, um período mais curto, sete anos tiveram três ou mais grandes furacões.
Neste ano, o Ivan já é a quarta grande tempestade a se formar na região. Caso atinja a Flórida, ele será o terceiro furacão, depois do Charley e do Frances, a chegar ao Estado americano em cerca de um mês.
Essa também seria a primeira vez desde 1964 que três furacões atingem a Flórida em um mesmo ano.
Mestas-Nuñez explica que, além do ciclo de décadas, também há influência do fenômeno El Niño, como é conhecido o aquecimento das águas do Oceano Pacífico.
Quando o El Niño acontece, desfavorece a ocorrência de furacões no Atlântico. "Mas neste momento, o El Niño está neutro", explicou o cientista.
Aquecimento global
Outro fator que poderia estar influenciando o surgimento dos furacões, o aquecimento global, causa divisão entre os estudiosos que buscam compreender a dinâmica das tempestades.
O meteorologista Manuel Torres, do Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos, acredita que a ciência ainda não chegou ao ponto de poder garantir uma ligação entre o aquecimento global e os furacões.
"Muita gente quer saber se vem aí uma nova idade do gelo, pois a Terra está se esquentando. Coisas assim não se sabem, são especulações", disse. O que se pode dizer, segundo Torres, é que "há anos em que há mais atividade, há anos em que há menos atividade. Este é um dos anos em que tem havido mais".
Mestas-Nuñez, por sua vez, acha que a relação entre o aquecimento global e o número de furacões "é uma hipótese provável", mas reconhece que "essa é uma pergunta que todos nos fazemos e é uma área de bastante debate".
"O problema que temos quando queremos estudar o aquecimento global é que ele, como o entendemos, é um aumento da temperatura durante um período muito longo de tempo", explicou.
Por isso, seria necessário analisar estatísticas de muitos anos atrás para se chegar a uma conclusão. "Quando se fala de furacões, só a partir dos anos 60 existem dados obtidos por meio de satélite. Ou seja, a qualidade das informações obtidas em anos anteriores é bastante questionável."
Especial
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Fase "hiperativa" de furacões pode durar anos
RAFAEL GOMEZda BBC Brasil, em Miami
O surgimento e o fortalecimento do furacão Ivan, que está devastando regiões em ilhas do Caribe, é mais um sinal de que a temporada de furacões deste ano está sendo uma das mais ativas já registradas.
A principal teoria que vem sendo usada para explicar a "hiperatividade", concebida por cientistas americanos, indica que a região está tendo, desde 1995, condições ideais para o desenvolvimento das tempestades, depois de mais de 20 anos de "baixa atividade".
"Nos anos 60, 70 e 80, a atividade foi muito baixa e, a partir de 1995, mais ou menos, a atividade voltou a aumentar", explicou Alberto Mestas-Nuñez, oceanógrafo da Agência Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), um dos autores do estudo.
"E o que nós esperamos é que esta (alta) atividade continue por uma ou duas décadas", alertou.
Ciclo
Mestas-Nuñez explica que o surgimento de furacões depende principalmente de dois fatores: a temperatura das águas do oceano na área em que a tempestade se forma e a intensidade dos ventos nas camadas mais altas da atmosfera. Quanto mais quentes as águas e menos fortes os ventos, maior a possibilidade de que um furacão surja e se fortaleça.
"O que nós pensamos estar relacionado com o aumento da atividade a partir de 95 é que os dois fatores passaram de uma condição desfavorável a uma condição favorável", disse, explicando que a temperatura do Oceano Atlântico, sobretudo na zona onde os furacões se formam, aumentou no período, e os ventos estão mais fracos.
"Esse aquecimento é parte de um ciclo, um ciclo de décadas, de mais ou menos 60 anos. Ou seja, podem se passar 20 ou 30 anos de fase de aquecimento, e depois 20 e 30 anos por uma fase fria."
O período anterior de "hiperatividade", de acordo com as estatísticas do NOAA, se encerrou em 1970.
El Niño
Entre 1971 e 1994, apenas quatro anos tiveram mais de dois grandes furacões (com ventos máximos acima de 178 km/h) e nenhum teve mais de três. Entre 1995 e 2003, um período mais curto, sete anos tiveram três ou mais grandes furacões.
Neste ano, o Ivan já é a quarta grande tempestade a se formar na região. Caso atinja a Flórida, ele será o terceiro furacão, depois do Charley e do Frances, a chegar ao Estado americano em cerca de um mês.
Essa também seria a primeira vez desde 1964 que três furacões atingem a Flórida em um mesmo ano.
Mestas-Nuñez explica que, além do ciclo de décadas, também há influência do fenômeno El Niño, como é conhecido o aquecimento das águas do Oceano Pacífico.
Quando o El Niño acontece, desfavorece a ocorrência de furacões no Atlântico. "Mas neste momento, o El Niño está neutro", explicou o cientista.
Aquecimento global
Outro fator que poderia estar influenciando o surgimento dos furacões, o aquecimento global, causa divisão entre os estudiosos que buscam compreender a dinâmica das tempestades.
O meteorologista Manuel Torres, do Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos, acredita que a ciência ainda não chegou ao ponto de poder garantir uma ligação entre o aquecimento global e os furacões.
"Muita gente quer saber se vem aí uma nova idade do gelo, pois a Terra está se esquentando. Coisas assim não se sabem, são especulações", disse. O que se pode dizer, segundo Torres, é que "há anos em que há mais atividade, há anos em que há menos atividade. Este é um dos anos em que tem havido mais".
Mestas-Nuñez, por sua vez, acha que a relação entre o aquecimento global e o número de furacões "é uma hipótese provável", mas reconhece que "essa é uma pergunta que todos nos fazemos e é uma área de bastante debate".
"O problema que temos quando queremos estudar o aquecimento global é que ele, como o entendemos, é um aumento da temperatura durante um período muito longo de tempo", explicou.
Por isso, seria necessário analisar estatísticas de muitos anos atrás para se chegar a uma conclusão. "Quando se fala de furacões, só a partir dos anos 60 existem dados obtidos por meio de satélite. Ou seja, a qualidade das informações obtidas em anos anteriores é bastante questionável."
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