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16/09/2004
-
18h39
da BBC Brasil, em Buenos Aires
Animados pelo sucesso da co-produção Diários de Motocicleta e pela renovação de um acordo de distribuição, profissionais de cinema argentinos e brasileiros estão estudando dezenas de projetos em conjunto.
Segundo Eva Piwowarski, secretária técnica da Recam (Reunião Especializada de Autoridades Cinematográficas e Audiovisuais do Mercosul e Países Associados), somente nos dois últimos meses, trinta projetos de co-produções cinematográficas chegaram às suas mãos.
A Recam é o órgão oficial do cinema do Mercosul, formado por representantes dos quatro governos do bloco e seus dois sócios --Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, Chile e Bolívia.
Piwowarski disse que três novas co-produções já chegarão às telas dos dois países no ano que vem: La Mala Hora, de Rui Guerra, baseado na obra do colombiano Gabriel García Marquez, com co-produção argentina; Diário de um Novo Mundo, do brasileiro Paulo Nascimento, com co-produção argentina, uruguaia e portuguesa; A Família Rodante, do argentino Pablo Trapero, com co-produção brasileira.
"É a primeira vez que Brasil e Argentina estão cinematograficamente tão próximos. É um momento inédito, uma das melhores notícias do Mercosul e que também vem contagiando outros países vizinhos e sócios do bloco, como Peru, por exemplo", afirmou.
Os projetos incluem roteiros sobre questões sociais nos dois países, documentários e romances. O "cinema sem fronteira", como vem sendo chamada essa integração, especialmente entre o Brasil e Argentina, inclui ainda interesse de diretores argentinos em contar com artistas brasileiros nos seus filmes. E vice-versa.
Os filmes Central do Brasil, de Walter Salles, Cidade de Deus, dirigido por Fernando Meirelles, Carandiru, de Héctor Babenco, e Madame Satã, de Karim Aïnouz, exibidos no país, despertaram a curiosidade dos argentinos pelo cinema brasileiro, disse Eva Piwowarski.
O diretor argentino Marcelo Piñeyro, um dos mais premiados do país e responsável pelos filmes Plata Quemada e Kamchatka, entre outros, disse à BBC Brasil que causaram "surpresa" a alta presença do público e a aprovação da crítica brasileira ao cinema argentino.
"Não sabíamos que poderíamos ter filmes com tanta repercussão no Brasil", afirmou ele.
Acordo
Em agosto do ano passado, os governos brasileiro e argentino assinaram convênio, no Itamaraty, assumindo compromisso de distribuição de oito filmes do Brasil na Argentina e oito argentinos nas salas brasileiras.
No mês passado, a iniciativa foi renovada, logo após lançamento de um Festival de Cinema Brasileiro, que termina nesta semana.
A Ancine (Agência Nacional do Cinema) e o Incaa (Instituto Nacional de Cine e Artes Audiovisuais) destinaram, por ano, R$ 560 mil e 560 mil pesos, respectivamente, para uma licitação que atraiu distribuidoras nos dois países.
"Agora, os distribuidores já ficam atentos aos filmes que podem chamar a atenção do público vizinho", contou Eva.
Mas nem tudo são flores. "Não é fácil atrair a atenção do público para o cinema local ou do país vizinho. A presença e os milhões de dólares de promoção do cinema hollywoodiano são impossíveis de alcançar ou de deter", admitiu o distribuidor argentino Luis Vainikoff, da Artkino Pictures.
Vainikoff distribuiu filmes brasileiros do último festival nas salas mais freqüentadas da capital argentina, o complexo "Village Recoleta", em pleno centro do bairro turístico da Recoleta. Para ele, isso foi possível porque "aumenta" a "sede" dos argentinos pela produção brasileira.
"Madame Satã, por exemplo, superou nossas expectativas, apesar de ainda não termos os números finais", disse ele. Para o distribuidor, o público vem aderindo cada vez mais aos filmes brasileiros, graças ao que chamou de "mudança" na política de integração, durante os governos dos presidentes Lula e Kirchner.
Vainikoff contou que a fita do filme ficou quarenta dias parada na Alfândega argentina, que exigia papéis desnecessários para sua entrada. "Já evoluímos muito, mas ainda temos muito a superar, incluindo a burocracia", disse.
O ator Lázaro Ramos, protagonista de Madame Satã, e Silvio Tendler, que participaram da abertura do Festival em Buenos Aires, comemoraram o intercambio cinematográfico "cada vez mais intenso", segundo Tendler, diretor de Glauber, o Filme, Labirinto do Brasil.
"No circuito alternativo, a gente consegue fugir, um pouco, do massacre que os Estados Unidos impõem à cultura mundial. No Brasil, já algum tempo, assistimos a filmes iranianos e agora chegam os argentinos. Essa chegada é muito importante para nossa cultura", elogiou. Segundo ele, o cinema argentino é de "qualidade" e tem recebido "grande aceitação" do público brasileiro.
Para Eva Piwowarski, a integração cinematográfica só está começando.
Segundo ela, os resultados serão ainda mais evidentes quando as legislações forem equiparadas e outras medidas saírem do papel. Caso do fundo de apoio ao cinema do Mercosul e seus associados, como Chile, Bolívia, Peru e Venezuela, com recursos oficiais e da iniciativa privada.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre o cinema brasileiro
Leia o que já foi publicado sobre o cinema argentino
Leia o que já foi publicado sobre co-produções cinematográficas
Brasil e Argentina vivem boom de co-produções no cinema
MARCIA CARMOda BBC Brasil, em Buenos Aires
Animados pelo sucesso da co-produção Diários de Motocicleta e pela renovação de um acordo de distribuição, profissionais de cinema argentinos e brasileiros estão estudando dezenas de projetos em conjunto.
Segundo Eva Piwowarski, secretária técnica da Recam (Reunião Especializada de Autoridades Cinematográficas e Audiovisuais do Mercosul e Países Associados), somente nos dois últimos meses, trinta projetos de co-produções cinematográficas chegaram às suas mãos.
A Recam é o órgão oficial do cinema do Mercosul, formado por representantes dos quatro governos do bloco e seus dois sócios --Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, Chile e Bolívia.
Piwowarski disse que três novas co-produções já chegarão às telas dos dois países no ano que vem: La Mala Hora, de Rui Guerra, baseado na obra do colombiano Gabriel García Marquez, com co-produção argentina; Diário de um Novo Mundo, do brasileiro Paulo Nascimento, com co-produção argentina, uruguaia e portuguesa; A Família Rodante, do argentino Pablo Trapero, com co-produção brasileira.
"É a primeira vez que Brasil e Argentina estão cinematograficamente tão próximos. É um momento inédito, uma das melhores notícias do Mercosul e que também vem contagiando outros países vizinhos e sócios do bloco, como Peru, por exemplo", afirmou.
Os projetos incluem roteiros sobre questões sociais nos dois países, documentários e romances. O "cinema sem fronteira", como vem sendo chamada essa integração, especialmente entre o Brasil e Argentina, inclui ainda interesse de diretores argentinos em contar com artistas brasileiros nos seus filmes. E vice-versa.
Os filmes Central do Brasil, de Walter Salles, Cidade de Deus, dirigido por Fernando Meirelles, Carandiru, de Héctor Babenco, e Madame Satã, de Karim Aïnouz, exibidos no país, despertaram a curiosidade dos argentinos pelo cinema brasileiro, disse Eva Piwowarski.
O diretor argentino Marcelo Piñeyro, um dos mais premiados do país e responsável pelos filmes Plata Quemada e Kamchatka, entre outros, disse à BBC Brasil que causaram "surpresa" a alta presença do público e a aprovação da crítica brasileira ao cinema argentino.
"Não sabíamos que poderíamos ter filmes com tanta repercussão no Brasil", afirmou ele.
Acordo
Em agosto do ano passado, os governos brasileiro e argentino assinaram convênio, no Itamaraty, assumindo compromisso de distribuição de oito filmes do Brasil na Argentina e oito argentinos nas salas brasileiras.
No mês passado, a iniciativa foi renovada, logo após lançamento de um Festival de Cinema Brasileiro, que termina nesta semana.
A Ancine (Agência Nacional do Cinema) e o Incaa (Instituto Nacional de Cine e Artes Audiovisuais) destinaram, por ano, R$ 560 mil e 560 mil pesos, respectivamente, para uma licitação que atraiu distribuidoras nos dois países.
"Agora, os distribuidores já ficam atentos aos filmes que podem chamar a atenção do público vizinho", contou Eva.
Mas nem tudo são flores. "Não é fácil atrair a atenção do público para o cinema local ou do país vizinho. A presença e os milhões de dólares de promoção do cinema hollywoodiano são impossíveis de alcançar ou de deter", admitiu o distribuidor argentino Luis Vainikoff, da Artkino Pictures.
Vainikoff distribuiu filmes brasileiros do último festival nas salas mais freqüentadas da capital argentina, o complexo "Village Recoleta", em pleno centro do bairro turístico da Recoleta. Para ele, isso foi possível porque "aumenta" a "sede" dos argentinos pela produção brasileira.
"Madame Satã, por exemplo, superou nossas expectativas, apesar de ainda não termos os números finais", disse ele. Para o distribuidor, o público vem aderindo cada vez mais aos filmes brasileiros, graças ao que chamou de "mudança" na política de integração, durante os governos dos presidentes Lula e Kirchner.
Vainikoff contou que a fita do filme ficou quarenta dias parada na Alfândega argentina, que exigia papéis desnecessários para sua entrada. "Já evoluímos muito, mas ainda temos muito a superar, incluindo a burocracia", disse.
O ator Lázaro Ramos, protagonista de Madame Satã, e Silvio Tendler, que participaram da abertura do Festival em Buenos Aires, comemoraram o intercambio cinematográfico "cada vez mais intenso", segundo Tendler, diretor de Glauber, o Filme, Labirinto do Brasil.
"No circuito alternativo, a gente consegue fugir, um pouco, do massacre que os Estados Unidos impõem à cultura mundial. No Brasil, já algum tempo, assistimos a filmes iranianos e agora chegam os argentinos. Essa chegada é muito importante para nossa cultura", elogiou. Segundo ele, o cinema argentino é de "qualidade" e tem recebido "grande aceitação" do público brasileiro.
Para Eva Piwowarski, a integração cinematográfica só está começando.
Segundo ela, os resultados serão ainda mais evidentes quando as legislações forem equiparadas e outras medidas saírem do papel. Caso do fundo de apoio ao cinema do Mercosul e seus associados, como Chile, Bolívia, Peru e Venezuela, com recursos oficiais e da iniciativa privada.
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