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16/09/2004 - 14h23

Bush e Kerry divergem sobre células-tronco e clima

PAUL REYNOLDS
da BBC Brasil

A edição desta semana da revista especializada em ciência Nature se concentra nas eleições presidenciais americanas e publica as posições dos dois candidatos, o atual presidente George W. Bush e o senador John Kerry, em relação às principais questões da área.

Os dois candidatos responderam a 15 perguntas, limitando suas respostas a 1,5 mil palavras no total.

Bush teve que ser editado, porque ultrapassou os limites. Kerry respondeu dentro do espaço previsto.

A diferença mais significativa identificada pela revista foi sobre a pesquisa de células-tronco. Kerry quer ir bem além da política restritiva adotada por Bush.

Mudança de clima

O tema é vital para os cientistas americanos.

Muitos acreditam que seus colegas em outros lugares do mundo (como a Grã-Bretanha) estão em vantagem por causa de políticas mais liberais.

Essa é uma questão que põe a ciência em confronto com questões morais.

Diferença

Em agosto de 2001, o presidente americano anunciou que o financiamento público estaria disponível apenas para as linhas de células-tronco já existentes, isto é, nenhuma linha nova poderia ser criada.

Ele argumentou que fazer de forma diferente seria violar a integridade do embrião.

Na sua resposta à Nature, ele defendeu essa política. "Estou comprometido com a pesquisa de células-tronco sem cruzar a linha moral fundamental e sou o primeiro presidente a destinar financiamento público para pesquisa de cálulas-tronco embrionárias."

Ele também questionou algumas expectativas de que tal pesquisa possam levar a curas milagrosas: "No entanto, a pesquisa de células-tronco está em estágio muito inicial e, embora possa ser uma grande promessa, não deveríamos superestimar o estado da ciência ou politizar essas questões."

Kerry dá muita atenção à pesquisa de células-tronco em sua campanha e a Nature diz que ele mencionou a questão mais vezes do que o desemprego na convenção do Partido Democrata. Ele é apoiado por um grupo de lobby integrado por 48 ganhadores do Prêmio Nobel.

Em sua resposta para a Nature, ele defende o fim das restrições: "Eu vou acabar com as restrições ideológicas em relação à pesquisa de células-tronco criadas pelo governo Bush e vou acabar com a proibição de fundos públicos para pesquisas em novas linhas de células-tronco, ao mesmo tempo em que será assegurada rigorosa supervisão ética".

Quando diz "restrições ideológicas", Kerry se refere à influência do movimento contra o aborto.

Mudança de clima

Mas há diferenças entre os dois candidatos também em relação à mudança de clima, ao desenvolvimento de uma nova geração de armas nucleares, exploração do espaço em missões tripuladas e defesa antimíssil.

Bush indignou boa parte do mundo quando se retirou do Protocolo de Kyoto. Desde então, ele tem seguido uma abordagem nacional e não internacional em relação à questão.

Em sua resposta à Nature, ele reconhece que "a mudança de clima global é um assunto sério de longo prazo", mas questiona as hipóteses sobre o papel dos gases do efeito estufa, dizendo que a Academia Nacional de Ciências "constatou que incertezas consideráveis permanecem".

"Meu governo está implementando uma estratégia ampla em relação à mudança de clima. Eu também comprometi o país a uma meta de reduzir em 18% a intensidade americana dos gases do efeito estufa nos próximos dez anos", disse.

Kerry defende uma ação internacional, mas, na verdade, não se compromete a voltar para o acordo de Kyoto e só fala em termos gerais.

"A evidência científica está clara de que o aquecimento global já está acontecendo. O presidente Bush rejeitou o Protocolo de Kyoto, se retirando teimosamente da mesa de negociações", disse.

"John Edwards e eu (ele menciona John Edwards nas suas respostas) vamos levar os Estados Unidos de volta à mesa de negociações, enquanto trabalhamos em casa para adotar passos concretos para reduzir a poluição."

Então, nenhuma meta concreta vem de Kerry, só um compromisso de negociar internacionalmente.

Novas armas nucleares

Os Estados Unidos atualmente estão estudando como construir uma nova geração das chamadas armas "mininucleares".

Bush diz que esse esfoço continuará porque "a evolução do ambiente de segurança requer uma infra-estrutura de armas flexível e capaz de responder", em uma resposta claramente escrita por um assessor especialista.

Isso significa que os Estados Unidos querem uma variedade maior de armas nucleares, por exemplo, para atacar bunkers subterrâneos.

Kerry diz abertamente: "Eu poria um fim à busca de uma nova geração de armas nucleares".

Essa diferença está clara.

Defesa antimíssil

Essa é uma prioridade para Bush, que diz: "Nossa política é desenvolver e pôr em prática, o mais cedo possível, um sistema de defesa de mísseis balísticos usando a melhor tecnologia disponível".

Kerry defende a pesquisa, mas disse: "Não sou pelo emprego rápido da defesa antimíssil. Não deveríamos desperdiçar dinheiro em pôr em prática no estágio atual".

Portanto, ele não descarta, mas é cauteloso em relação à sua efetividade.

As diferenças também se dão nas missões espaciais tripuladas.

Bush parece ter recuado de sua ambição de "homem em Marte", mas ainda quer que o homem volte à lua.

"A América vai voltar à lua tão cedo quanto 2015 e não depois de 2020 e usá-la como uma base para missões humanas além da lua", disse. Ele não mencionou Marte.

Kerry é cético. "Há pouco a ganhar de uma iniciativa espacial que estabelece objetivos ambiciosos, mas que não apóia esses objetivos com financiamento realista".

No entanto, ele diz que vai aumentar o financiamento para a exploração espacial.

Transgênicos

Aqui, as diferenças estão mais ligadas à prática de como os transgênicos serão regulamentados e não se eles deveriam ser liberados em princípio. Nenhum dos dois se opõe a alimentos transgênicos.

Bush diz que é importante que "o ambiente regulatório mantenha-se em compasso com a ciência", uma indicação de que pode ser muito restritiva.

Kerry fala de como é importante "dar às agências governamentais poder para, efetivamente, regulamentar alimentos geneticamente modificados".

E ele faz um gesto para as preocupações internacionais, dizendo que ele trabalhará para tratar disso, enquanto Bush chama a atenção para o papel dos alimentos transgênicos em "atender a demanda mundial por alimentos".

Talvez a questão mais difícil para os candidatos tenha sido sobre mudar ou não o estilo de vida dos americanos, reduzindo o consumo.

Um "sim" poderia ter trazido problemas para ambos. Então há muitos panos quentes nas respostas de ambos.

Bush: "A América, num sentido verdadeiro, mudou, não por consumir menos, mas por consumir e produzir melhor", com o que ele quer dizer que o crescimento econômico é que torna possível o progresso ecológico.

Kerry, que tem uma boa reputação entre ambientalistas, tem uma visão não muito diferente: "Muitas vezes a América responde a desafios ambientais com engenhosidade e inovação tecnológica".

Mas ele avança, dizendo que uma "liderança forte" é necessária para pôr os interesses da saúde pública e do meio ambiente à frente dos interesses dos poluidores. Poderia, portanto, haver disputas nessa questão se ele se tornar presidente.

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