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28/09/2004 - 19h10

Timor ainda depende totalmente de ajuda, diz presidente

CLAUDIA SILVA JACOBS
da BBC Brasil

Cinco anos após a chegada das tropas de paz da ONU (Organização das Nações Unidas), o Timor Leste ainda se mantém basicamente com a ajuda dos órgãos internacionais.

Mas, em entrevista à BBC Brasil, o presidente Xanana Gusmão fez um balanço positivo da situação do país desde a independência em maio de 2002.

"No aspecto político e de estabilidade, as coisas andam bem. No aspecto econômico, ainda estamos totalmente dependentes da ajuda externa dos doadores", afirmou.

"O problema principal continua sendo a construção do Estado, o estabelecimento das instituições do Estado, estabelecimento das instituições que já existem mas que ainda faltam melhorar a capacidade."

"O balanço é positivo levando em conta que nós partimos do zero, partimos do nada, num grande esforço de responder de forma minimamente possível as ansiedades e aspirações do nosso povo."

Falta de arrecadação

A situação fica mais difícil no país devido à falta de arrecadação.

Gusmão diz que a dependência dos organismos internacionais é um problema a enfrentar nos próximos anos.

"Nós não produzimos nada. Exportamos um pouco de café, mas é o mínimo de receita e de produção", afirmou.

"Quando falo de dependência, me refiro mais à capacidade financeira do nosso Estado de começar a cumprir e implementar programas que beneficiem ou que dêem uma sensação que estamos criando as condições básicas para melhorar a vida da população", explicou.

Brasil

Desde a chegada da ONU no Timor Leste, em 1999, o Brasil vem participando do processo de recuperação do país.

Além de ter tropas para ajudar na segurança da ilha, os brasileiros ainda trabalham no desenvolvimento de projetos educativos e de programas de qualificação profissional.

Gusmão acha que o Brasil poderia fazer mais para ajudar o Timor. Mas, ao mesmo tempo, elogia a participação brasileira no processo de reconstrução da nação mais nova do mundo.

"Desde 1999, o Brasil já investiu milhões em projetos, uns já completos e outros não. Temos tido ajuda no campo da Saúde, na Justiça, por exemplo. O Brasil continua a nos dar assistência na formação profissional, na educação, além das forças da ONU e das forças internacionais desde o início."

"A distância que nos separa tem sido o obstáculo principal. Mas o carinho e a solidariedade do povo brasileiro continuam".

"Eu estive com o presidente Lula em São Tomé e Princípe (durante a reunião de Cúpula dos Países de Língua Portuguesa) e ele me perguntou do que eu precisava. E eu pedi mais ajuda na educação. Ele prontamente me enviou um grupo de professores".

Futuro

Xanana Gusmão se diz triste com a situação de dependência do Timor Leste. Para ele, é fundamental caminhar com os próprios meios.

"Eu, em mensagens para o nosso povo, sempre lembro que não podemos continuar dependentes. Precisamos ganhar uma mentalidade de independência. Muitas partes do mundo estão necessitando da atenção dos órgãos internacionais."

"Nós gostaríamos de ser o foco das atenções, o beneficiário mais importante, mas o povo está compreendendo. E é melhor começar pela consciência de que é mais vantagem a gente trabalhar mais do que pedir e viver na total de dependência."

Prioridades

Mesmo com todos os investimentos, o presidente acha que as prioridades ainda são tantas que não dá para escolher a mais importante.

Para Xanana Gusmão, conseguir se manter é a grande meta. Uma das formas de conseguir renda pode ser o uso da arrecadação com a exploração de petróleo na costa do país.

"Estamos estudando o caminho da sustentabilidade, o caminho que o petróleo nos pode dar, o que o petróleo pode nos causar como desvantagem. Da mesma forma que estamos com interesse na receita do petróleo estamos também com o receio que podermos cair na doença fácil, no vício fácil de usarmos tudo e usarmos mal."

Um dos grandes temores da população sempre foi a questão da segurança, a possível invasão do território pelos indonésios ou milícias armadas. Para o presidente, a população já está mais confiante.

"Embora a preocupação de que alguns grupos armados possam vir e desestabilizar pode continuar a aflorar na mente das pessoas, principalmente nas comunidades ligadas à fronteira. Mas eu penso que todo povo já percebeu que a situação mudou", disse o presidente.

Especial
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