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30/09/2004 - 16h05

História mostra que personalidade conta muito em debates nos EUA

CLARE MURPHY
da BBC Brasil

Num momento em que George W. Bush e John Kerry se preparam para o seu primeiro debate presidencial, cabe olhar para trás e examinar debates históricos que mudaram o destino de candidatos --para melhor ou para pior.

A assessoria de Al Gore pode ter alimentado grandes expectativas em relação à performance de seu candidato diante de George W. Bush antes dos debates presidenciais de 2000.

Os confrontos entre os candidatos deveriam provar ao eleitorado americano que o político experiente nas maquinações de Washington era uma escolha melhor do que um governador texano visto por alguns como pouco inteligente.

Gore mostrou, de fato, uma admirável atenção a detalhes, expondo em várias oportunidades falhas nos conhecimentos de Bush.

De pouco lhe serviu essa tática. Os especialistas podem tê-lo declarado vencedor, mas na hora em que aquele atributo mais cobiçado --simpatia-- se mortrou necessário, o texano levou a melhor.

Foi o que Bill Clinton (1993-2000) assinalou em 1992 durante um momento imprevisto de diálogo com um integrante da audiência do debate.

Mas foi Ronald Reagan (1981-89), com suas tiradas rápidas que demoliram ataques cuidadosamente armados por seus oponentes, que estabeleceu mais claramente a regra de que debates não têm muito a ver com políticas, mas com personalidades.

Eu e você

O debate presidencial oferece duas vantagens: primeiro, a oportunidade de um candidato mudar impressões negativas que existam sobre ele; e em segundo lugar, a esperança de que as impressões negativas do oponente sejam confirmadas --de preferência por ação própria para que um candidato evite parecer mesquinho.

Quando George Bush e John Kerry entrarem na arena para seu debate na quinta-feira, Bush estará rezando por alguma manifestação que confirme a imagem de volúvel de Kerry. Este, por sua vez, vai torcer para que surjam evidências de que o presidente é um demagogo.

Em 2000, a freqüência com que Al Gore revirou os olhos para cima e exagerou seus suspiros com supostos equívocos de Bush não apenas fez com que ele parecesse mesquinho, mas também deu muita munição para quem queria retratá-lo como um arrogante.

A insistência de Al Gore a detalhes --tais como a explicação de que a Iugoslávia era formada pela Sérvia e Montenegro-- foi apontada como indício de que ele não era apenas arrogante, mas também um entediante CDF.

Dois anos antes, Michael Dukakis fez coisa semelhante com George Bush, pai do atual presidente, que buscou, durante toda a campanha, retratar o democrata como um tecnocrata liberal frio.

Quando um jornalista perguntou a Dukakis se sua opinião sobre a pena de morte mudaria se sua mulher, Kitty, fosse estuprada e morta, ele respondeu com fria objetividade que não.

Dukakis fracassou totalmente ao não expressar as emoções que a opinião pública americana esperava ver em um candidato confrontado com o hipotético assassinato de sua mulher.

A gravação, exibida várias vezes na televisão, acabou sintetizando sua campanha. O rótulo de "liberal frio" ficou.

Nixon

Mas esperar que um oponente abra o flanco e exponha suas falhas é um jogo perigoso.

Ninguém aprendeu essa lição de forma mais dura do que Richard Nixon (1969-1974).

Em 1960, o vice-presidente esperava aparecer em um confronto com o senador pouco conhecido de Massachusetts no primeiro debate a ser transmitido pela televisão nos Estados Unidos.

Nixon planejava deixar claro para os eleitores que John F. Kennedy era inexperiente demais para ocupar a Presidência.

Mas a diferença de suas visões políticas em relação a duas pequenas ilhas na costa da China se perdeu no contraste entre Nixon, que parecia abatido, e Kennedy, bronzeado e relaxado.

Até a mãe do candidato republicano telefonou para ele depois para saber se o filho estava passando bem.

Não importou que quem acompanhou o debate pelo rádio teve a impressão de que o vice-presidente venceu no argumento --nas telas de televisão o candidato democrata dissipou qualquer impressão de ser jovem demais e inexperiente demais para o cargo.

Reagan

Vinte anos depois, Ronald Reagan demoliu com maestria esforços para apresentá-lo como uma caricatura, com um par de declarações simples e oportunas.

Jimmy Carter, então presidente em busca de reeleição, esperava minar a candidatura de Reagan apresentando o governador da Califórnia como um conservador perigoso.

Mas seus ataques detalhados à natureza das propostas políticas de Reagan foram torpedeados com uma frase dita com ar casual pelo republicano --"Aí vem você de novo", dando a entender que o presidente era um chato.

Quando Reagan encontrou seu próprio oponente à Presidência em 1984, mostrou novamente que uma tirada inteligente dita com boa dose de autoconfiança rende mais pontos do que uma boa argumentação política.

Em seu primeiro debate com Walter Mondale, Reagan apareceu atordoado com a atenção a detalhes mostrada por seu oponente e, as pesquisas pós-debate refletiram alguma preocupação com a idade de Reagan - se, aos 73 anos, ele era velho demais para ocupar o cargo máximo do país.

Mas quando Mondale procurou levantar essa mesma questão em um segundo debate, Reagan respondeu rapidamente: "Eu não vou fazer com que idade seja um tema de campanha. Eu não vou explorar, com propósitos políticos, a juventude e inexperiência de meu oponente."

Com um único golpe, Reagan recuperou sua imagem de homem confiante, inteligente e com ar presidencial.

O fracasso de Ford

Os debates podem ser escrutinados depois dos resultados da eleição, na busca do que deu errado, mas seu impacto sobre os votos é discutível.

Os debates podem oferecer alguns momentos memoráveis que vêm a simbolizar o momento em que uma campanha morre, mas o pai do atual presidente, George Bush, não perdeu a eleição em 1992 porque olhou no relógio quando eleitores faziam perguntas.

Gerald Ford não deixou de morar na Casa Branca porque insistiu, no auge da Guerra Fria, que a Europa do Leste não estava sob o domínio soviético.

Mesmo assim, debates têm o potencial de causar reveses. Isso pode explicar por que, depois do primeiro debate televisionado, em 1960, todo mundo buscou evitar confrontos do tipo por quase duas décadas.

Eles são hoje uma parte integrante da campanha. Embora não obrigatórios, não chegam a ser realmente opcionais.

E, porque oferecem potencialmente oportunidades para escorregões, atos falhos e imprevistos, talvez não seja de admirar que os termos e condições para os debates entre Bush e Kerry tenham consumido semanas de intensas negociações privadas.

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