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05/10/2004 - 19h27

Embaixador do Brasil questiona 'autoridade moral' dos EUA na não-proliferação nuclear

ALEXANDRE MATA TORTORIELLO
da BBC Brasil, em Brasília

O embaixador brasileiro em Washington, Roberto Abdenur, questionou a autoridade dos Estados Unidos de defender a não-proliferação nuclear e disse que as declarações do secretário de Estado americano, Colin Powell, sobre o programa nuclear brasileiro foram cautelosas.

"Não só os EUA, mas todas as cinco potências nucleares, perdem autoridade moral, na medida em que não estão avançando no desarmamento nuclear" disse Abdenur à BBC Brasil em Brasília, onde acompanha a visita de Powell.

"Ficamos impressionados com o tom extremamente positivo (das declarações de Powell) em relação à liderança brasileira no cenário internacional e o papel do presidente Lula", afirmou o embaixador.

Durante sua visita, Powell defendeu que o Brasil assine o protocolo adicional ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares e chegue a um acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre a fiscalização da Fábrica de Combustível Nuclear em Resende (RJ).

Abdenur, porém, disse que não há pressão "Essas declarações estão sendo exageradas. Não é pressão. No plano internacional, isso é muito natural", afirmou, ressaltando que Powell disse em discurso na Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos que a questão não é um assunto para o governo americano, mas para ser resolvida entre o Brasil e a AIEA.

Validade

Segundo o embaixador, Powell --que se encontrou com o presidente Lula nesta terça-feira - reconheceu a validade do programa nuclear brasileiro e ressaltou que o Brasil é quem deve produzir seu próprio combustível atômico para fins pacíficos.

Mas na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, a leitura é outra.

"Acho que Colin Powell vem ao Brasil para sondar e talvez até tentar tirar algum resultado, principalmente em relação ao nosso acordo nuclear", afirmou a deputada Maninha (PT-DF), vice-presidente da comissão.

Os Estados Unidos temem que ações que possam ser entendidas como um tratamento privilegiado ao Brasil abram precedentes para países que realmente preocupam o Departamento de Estado americano, como Irã e Coréia do Norte.

"O Brasil não é o Irã", protestou Maninha.

"Isso é na verdade uma questão comercial. Produzimos de uma forma peculiar, nossa, e não queremos abrir para que a gente possa ser copiado", afirma.

A deputada acredita que Colin Powell possa tentar usar a questão do Conselho de Segurança da ONU, onde o Brasil pleiteia um assento permanente, como moeda de troca para conseguir uma maior abertura às inspeções nucleares.

"Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O Brasil não deve ceder, porque não estamos cometendo nenhum crime", afirma Maninha.
 

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