Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
05/10/2004 - 22h56

Brasil não pode ser comparado ao Irã, diz Powell

ALEXANDRE MATA TORTORIELLO
da BBC Brasil, em Brasília

O secretário de Estado Americano, Colin Powell, afirmou nesta terça-feira que os desentendimentos entre o Brasil e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) não preocupam os Estados Unidos.

"Reafirmei ao presidente (Lula) e ao ministro (das Relações Exteriores, Celso Amorim) que os Estados Unidos não têm qualquer tipo de preocupação de que o Brasil venha a fazer algo com seu programa nuclear que não seja produzir energia da maneira mais responsável e controlada. O que aliás é uma determinação da Constituição brasileira", disse Powell durante entrevista coletiva com Amorim, após encontros reservados com o chanceler e Lula em Brasília.

"Não acho que o Brasil possa ser colocado na mesma categoria que Irã ou a Coréia do Norte", acrescentou o secretário de Estado. "A Coréia do Norte expulsou os inspetores da AIEA, está violando acordos e acreditamos que tenha armas nucleares prontas para uso, ainda que em pequena quantidade."

O governo brasileiro negocia com a AIEA uma forma de inspeção na Fábrica de Combustível Nuclear de Resende (RJ), que não revele a tecnologia nacional utilizada para o enriquecimento de urânio.

Nada a esconder

"O Brasil não tem nada a esconder, salvo no que diz respeito à tecnologia que adquiriu e que tem o natural desejo de proteger. Temos todo o interesse em resolver a questão", disse Amorim, acrescentando que não faz sentido o urânio extraído no Brasil ter que ser processado fora do país para depois ser reimportado.

Nos encontros com Lula e Amorim, Powell também tratou de Haiti, reforma no Conselho de Segurança da ONU, Oriente Médio, as negociações na Organização Mundial de Comércio (OMC) e a proposta brasileira de um plano mundial de combate à fome.

O contingente da tropa de paz da ONU liderada pelo Brasil no Haiti ainda está em um terço dos cerca de 6 mil homens estipulados como necessários para cumprir a missão.

Amorim disse que Powell se prontificou a colaborar para convencer mais países a enviar homens ao Haiti, mas também reclamou da burocracia.

"Não se trata tanto de alocar fundos. Eles já estão alocados até muito generosamente. Temos que desburocratizar o processo, para que esse dinheiro chegue efetivamente ao Haiti. Muitas vezes as entidades exigem projetos muito detalhados, você tem que começar limpando as ruas, desobstruindo os canais, tapando buracos. Isso não exige muitos projetos", afirmou o ministro.

Conselho de Segurança

Powell voltou a afirmar que o Brasil é um "sólido candidato" a um assento permanente numa eventual reforma do Conselho de Segurança da ONU, mas disse que não haverá pronunciamento formal até a conclusão do relatório sobre a reforma das Nações Unidas, que deve ser divulgado em breve.

Amorim destacou que as declarações não significam "apoio formal", mas que o Brasil nem solicitou formalmente esse apoio.

Apesar dos elogios à iniciativa brasileira de criar um programa mundial de combate à fome, o encontro com o presidente não resultou em avanços concretos sobre o financiamento desse fundo.

Os Estados Unidos se opõem às taxações internacionais sugeridas por Lula, como os impostos sobre comércio de armas e transações com cartões de crédito.

"Agradeço ao presidente Lula por ter me concedido tanto tempo. Tivemos uma discussão fascinante sobre economia, política, assuntos regionais e a questão da fome e da pobreza. Compartilhamos inteiramente as preocupações do presidente Lula sobre fome e pobreza e o seu desejo de fazer alguma coisa" para combater o problema, afirmou o secretário.

O encontro com Lula, programado para ser apenas uma rápida visita de cortesia, acabou durando uma hora e quinze minutos e nele Powell prometeu continuar debatendo o problema da fome.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página