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18/10/2004 - 14h32

Físico vê 'paranóia' do governo em polêmica com a AIEA

ALEXANDRE MATA TORTORIELLO
da BBC Brasil, em São Paulo

A posição do governo brasileiro de querer limitar o acesso dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) à Fábrica de Combustível Nuclear, em Resende (RJ), divide alguns dos maiores especialistas brasileiros no assunto.

Os fiscais da AIEA que visitam as instalações de Resende nesta terça-feira não terão acesso visual ao corpo das centrífugas de enriquecimento de urânio, segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia, para resguardar a tecnologia 100% nacional.

Mas o físico José Goldemberg, secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, vê algo de "paranóia" no posicionamento do governo brasileiro.

Por sua vez, o professor emérito da Universidade de Campinas (Unicamp) Rogério de Cerqueira Leite, diz que a questão é importante para manter a independência tecnológica do Brasil.

Barreira

Com a experiência de ter sido inspetor de armas da ONU no Iraque, o professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo Roque Monteleone acredita que o Brasil tem razão de não dar acesso irrestrito aos fiscais.

"Todos os países que têm planta de enriquecimento colocam algum tipo de barreira para proteção de tecnologia", diz Monteleone.

"É de todo interesse, inclusive da agência, que a tecnologia seja resguardada mesmo. Assim como um segredo industrial pode deixar de tornar competitivo um determinado país, ele também pode, se não for bem resguardado, cair nas mãos de terroristas."

Mas Goldemberg acredita que outros países não têm necessidade de roubar a tecnologia brasileira.

"Isso me parece uma coisa meio paranóica", afirma ele.

"Eles não têm necessidade de vir aqui roubar nossos segredos, pois a tecnologia de suspensão magnética é bem conhecida."

Precedente

Cerqueira Leite, por sua vez, rejeita a idéia de que um suposto tratamento privilegiado da AIEA ao Brasil poderia abrir um sério precedente para países que têm programas declarados de armas nucleares, como a Coréia do Norte, ou onde se suspeita que há programas secretos, como o Irã.

"Falar em exemplo é uma grande bobagem. Mau exemplo é Israel, que faz bombas na hora que quer e tem um arsenal significativo", diz o físico.

"Eles não se incomodam com que Paquistão e Índia façam (a bomba). Agora o Brasil, que não tem um histórico belicoso significativo, vai se submeter a algo que os outros países não se submetem?"

O governo afirma que o urânio enriquecido será usado apenas como combustível para gerar eletricidade nas usinas de Angra 1 e 2, e não para a produção de armas nucleares, ressaltando ainda que o uso bélico é proibido pela Constituição.

"É um argumento pouco convincente para os estrangeiros", discorda Goldemberg.

"A Constituição brasileira tem sido mudada freqüentemente. Argumentos convincentes são as inspeções."

Dimensão exagerada

Monteleone acredita que parte da pressão internacional esconda interesses comerciais internacionais.

"O Brasil está entrando em um comércio muito restrito, há menos de 10 países com tecnologia de enriquecimento", diz ele.

Segundo o ex-inspetor da ONU no Iraque, o assunto só despertou a atenção mundial por causa do clima de insegurança e medo do terrorismo internacional.

"Deram ao problema uma dimensão que ele não tem", diz ele.

"Em outras condições, o caso brasileiro não teria chegado a um milésimo do que chegou, com matérias absolutamente sem propósito na imprensa internacional."

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