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20/10/2004
-
10h08
da BBC Brasil, em Roma
Numa cidade italiana, as lagostas têm direitos civis, e os canários devem ter parceiros sentimentais. São exemplos de leis que têm pipocado no país, para garantir que os bichinhos de estimação sejam respeitados.
A mais rígida entrou em vigor em toda a Itália há pouco mais de um mês, prevendo prisão e multa de mais de R$ 500 mil para quem maltratar um animal. Até mudar a cor dos pêlos dos gatos ou deixá-los no carro sob o sol, por exemplo, são atos considerados como maus-tratos.
A nova lei foi motivada pelo estranho hábito dos italianos de abandonar todos os anos nas ruas cerca de 150 mil cachorros e 200 mil gatos, sem se preocupar com o fato de que 85% deles acabem morrendo atropelados, de fome, ou de sede.
Comoção
Aprovada pelo Congresso, a iniciativa tem estimulado uma espécie de "comoção nacional".
Na televisão, os comerciais chamam de "bastardos" os proprietários que dispensam seus mascotes. Nos principais jornais, reportagens sobre cães e gatos encontrados e salvos da morte são freqüentes.
Em Imperia, no norte do país, a morte recente de seis hâmsters e um porquinho-da-índia, que caíram de um prédio numa rua movimentada e foram atropelados, abalou a cidade.
Sem saber quem era o culpado, a polícia estudou a trajétoria da queda e chegou ao apartamento de um aposentado.
O homem alega que os bichinhos caíram acidentalmente, quando estava varrendo a sacada. Se for condenado, poderá pegar até 18 meses de prisão.
Cartazes
Em Roma, a Prefeitura distribuiu cartazes pedindo à população para adotar os bichinhos recolhidos nos canis municipais. Também apela aos proprietários para esterilizar seus cães e gatos, para evitar um número maior deles perambulando pelas ruas.
"É uma lei justa. As pessoas gostam dos cachorrinhos quando são pequenos. Depois, deixam nas ruas para morrer", diz o garçom Luca Direnzo. "Desde que sou criança, vejo isso acontecer. É justo que as pessoas sejam castigadas."
Direnzo acredita que, com punições rigorosas, é possível fazer os italianos mudarem de atitude.
A nova lei prevê multas e penas diferenciadas de acordo com o grau de crueldade cometida contra os animais. Variam de 3 mil a 160 mil euros e de três meses a três anos de prisão.
Deixar um gato sem comida, dentro de um carro no sol, ou modificar a cor natural de seu pêlo, por exemplo, é ilegal.
Qualquer pessoa considerada culpada de matar ou torturar animais, organizar lutas de cachorros, ou vender clandestinamente peles para as indústrias também será penalizada.
Eficácia
Federico Mazzocchi, funcionário de um dos canis de Roma elogia a aprovação da lei, mas não acredita que ela possa ser tão eficaz.
"Quase todas as noites, encontramos um cachorro abandonado", afirma. "Isso é preocupante. Tenho dúvidas se a nova lei realmente constrangerá as pessoas."
Valeria Salone, coordenadora da Mondo Cane, uma das muitas associações protetoras dos direitos dos animais na Itália, concorda.
"A vida para os animais é muito difícil, porque eles não são respeitados", afirma Valeria. "O abandono ainda é grande, igual ao ano passado."
Silvia Viviani, responsável pela Colônia Felina da Torre Argentina, localizada na área arqueológica sagrada do centro de Roma, onde os gatos são considerados bem biocultural do município, diz que a lei ainda não é a melhor. Mas, apresenta avanços muito importantes.
"Agora, os animais italianos têm mais direitos", diz Silvia, que atende cerca de 600 gatos abandonados todos os anos. "Isso ocorre porque tivemos uma lei anterior, que veta a morte dos animais capturados pelos canis municipais. Em muitos países, cães e gatos são sacrificados dias depois se ninguém procurar por eles. Aqui é proibido."
Segundo Monica Cirinnà, encarregada do departamento municipal para os direitos dos animais, uma das grandes dificuldades é encontrar lugar para todos os cães abandonados ou gatos feridos. Por isso, ela defende que as famílias italianas comecem a esterilizar os bichinhos.
Além da lei nacional, muitas outras de âmbito municipal surgiram nos últimos meses.
Água fervente
Em Reggio Emilia, no centro da Itália, é ilegal colocar lagostas vivas para cozinhar em água fervente. É recomendável matá-las primeiro, para evitar tortura desnecessária.
Já os proprietários de canários devem providenciar um parceiro sentimental para seus pássaros, evitando assim que eles sofram de solidão. Se não fizerem isso, devem pagar multas de 25 a 495 euros.
No norte de Piemonte, a lei exige que todos os donos de cães implantem microchips em seus animais. Assim é mais fácil encontrá-los quando estão perdidos, bem como seus donos quando os abandonam.
A comoção nacional em torno dos bichinhos tem facilitado a vida dos mendigos de Roma. Muitos, como Renato Balazzi, usam os cachorros para pedir dinheiro.
"Logicamente, as pessoas deixam mais dinheiro quando estou com os cachorros", afirma. "Mas, quando me perguntam se estou pedindo dinheiro para mim, ou para eles, digo a verdade."
Balazzi não precisa fazer muito. Apenas coloca um pequeno cartaz no chão, dizendo "temos fome", que todos ajudam.
Especial
Leia o que já foi publicado sobre animais de estimação
Itália proíbe pintar pêlo de gato ou deixar animal no carro sob o sol
VALQUÍRIA REYda BBC Brasil, em Roma
Numa cidade italiana, as lagostas têm direitos civis, e os canários devem ter parceiros sentimentais. São exemplos de leis que têm pipocado no país, para garantir que os bichinhos de estimação sejam respeitados.
A mais rígida entrou em vigor em toda a Itália há pouco mais de um mês, prevendo prisão e multa de mais de R$ 500 mil para quem maltratar um animal. Até mudar a cor dos pêlos dos gatos ou deixá-los no carro sob o sol, por exemplo, são atos considerados como maus-tratos.
A nova lei foi motivada pelo estranho hábito dos italianos de abandonar todos os anos nas ruas cerca de 150 mil cachorros e 200 mil gatos, sem se preocupar com o fato de que 85% deles acabem morrendo atropelados, de fome, ou de sede.
Comoção
Aprovada pelo Congresso, a iniciativa tem estimulado uma espécie de "comoção nacional".
Na televisão, os comerciais chamam de "bastardos" os proprietários que dispensam seus mascotes. Nos principais jornais, reportagens sobre cães e gatos encontrados e salvos da morte são freqüentes.
Em Imperia, no norte do país, a morte recente de seis hâmsters e um porquinho-da-índia, que caíram de um prédio numa rua movimentada e foram atropelados, abalou a cidade.
Sem saber quem era o culpado, a polícia estudou a trajétoria da queda e chegou ao apartamento de um aposentado.
O homem alega que os bichinhos caíram acidentalmente, quando estava varrendo a sacada. Se for condenado, poderá pegar até 18 meses de prisão.
Cartazes
Em Roma, a Prefeitura distribuiu cartazes pedindo à população para adotar os bichinhos recolhidos nos canis municipais. Também apela aos proprietários para esterilizar seus cães e gatos, para evitar um número maior deles perambulando pelas ruas.
"É uma lei justa. As pessoas gostam dos cachorrinhos quando são pequenos. Depois, deixam nas ruas para morrer", diz o garçom Luca Direnzo. "Desde que sou criança, vejo isso acontecer. É justo que as pessoas sejam castigadas."
Direnzo acredita que, com punições rigorosas, é possível fazer os italianos mudarem de atitude.
A nova lei prevê multas e penas diferenciadas de acordo com o grau de crueldade cometida contra os animais. Variam de 3 mil a 160 mil euros e de três meses a três anos de prisão.
Deixar um gato sem comida, dentro de um carro no sol, ou modificar a cor natural de seu pêlo, por exemplo, é ilegal.
Qualquer pessoa considerada culpada de matar ou torturar animais, organizar lutas de cachorros, ou vender clandestinamente peles para as indústrias também será penalizada.
Eficácia
Federico Mazzocchi, funcionário de um dos canis de Roma elogia a aprovação da lei, mas não acredita que ela possa ser tão eficaz.
"Quase todas as noites, encontramos um cachorro abandonado", afirma. "Isso é preocupante. Tenho dúvidas se a nova lei realmente constrangerá as pessoas."
Valeria Salone, coordenadora da Mondo Cane, uma das muitas associações protetoras dos direitos dos animais na Itália, concorda.
"A vida para os animais é muito difícil, porque eles não são respeitados", afirma Valeria. "O abandono ainda é grande, igual ao ano passado."
Silvia Viviani, responsável pela Colônia Felina da Torre Argentina, localizada na área arqueológica sagrada do centro de Roma, onde os gatos são considerados bem biocultural do município, diz que a lei ainda não é a melhor. Mas, apresenta avanços muito importantes.
"Agora, os animais italianos têm mais direitos", diz Silvia, que atende cerca de 600 gatos abandonados todos os anos. "Isso ocorre porque tivemos uma lei anterior, que veta a morte dos animais capturados pelos canis municipais. Em muitos países, cães e gatos são sacrificados dias depois se ninguém procurar por eles. Aqui é proibido."
Segundo Monica Cirinnà, encarregada do departamento municipal para os direitos dos animais, uma das grandes dificuldades é encontrar lugar para todos os cães abandonados ou gatos feridos. Por isso, ela defende que as famílias italianas comecem a esterilizar os bichinhos.
Além da lei nacional, muitas outras de âmbito municipal surgiram nos últimos meses.
Água fervente
Em Reggio Emilia, no centro da Itália, é ilegal colocar lagostas vivas para cozinhar em água fervente. É recomendável matá-las primeiro, para evitar tortura desnecessária.
Já os proprietários de canários devem providenciar um parceiro sentimental para seus pássaros, evitando assim que eles sofram de solidão. Se não fizerem isso, devem pagar multas de 25 a 495 euros.
No norte de Piemonte, a lei exige que todos os donos de cães implantem microchips em seus animais. Assim é mais fácil encontrá-los quando estão perdidos, bem como seus donos quando os abandonam.
A comoção nacional em torno dos bichinhos tem facilitado a vida dos mendigos de Roma. Muitos, como Renato Balazzi, usam os cachorros para pedir dinheiro.
"Logicamente, as pessoas deixam mais dinheiro quando estou com os cachorros", afirma. "Mas, quando me perguntam se estou pedindo dinheiro para mim, ou para eles, digo a verdade."
Balazzi não precisa fazer muito. Apenas coloca um pequeno cartaz no chão, dizendo "temos fome", que todos ajudam.
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