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28/10/2004
-
13h32
da BBC Brasil
A saída de cena do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, daria espaço para uma liderança mais jovem e pragmática, na opinião do professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris Alfredo Valladão.
"Com o desaparecimento de Arafat, seja hoje ou daqui a um ano, vamos poder ter a emergência de uma nova direção palestina, com gente nova, mais pragmática, mais afinada com os tempos, com menos compromissos com o passado", afirmou Valladão em entrevista ao programa de rádio da BBC Brasil "De Olho no Mundo".
A saúde do líder palestino, que tem 75 anos, deteriorou-se nos últimos dias. Embora se saiba pouco sobre o seu estado, Arafat está sendo examinado por médicos em seu quartel-general em Ramallah, na Cisjordânia, e o agravamento da sua saúde suscitou novas dúvidas sobre o seu futuro e o da entidade que simboliza a luta por um Estado palestino.
Para Alfredo Valladão, a figura de Arafat "bloqueia" as negociações de paz na região, uma vez que ele perdeu a credibilidade como interlocutor para Israel e para os EUA. "Uma nova geração de líderes teria mais capacidade de organizar a Autoridade palestina e de ser mais aceitável para israelenses e americanos."
'Consenso'
O professor ressalva que, para que isso aconteça, as diversas facções que compõem o movimento palestino devem deixar de brigar entre si e alcançar um consenso sobre uma direção coletiva ou individual que tenha peso para poder negociar.
Segundo o especialista, o primeiro desafio da Autoridade Palestina será enfrentar a radicalização de alguns grupos da entidade. "O problema é saber de que maneira pode haver um acordo para enfrentar essa radicalização. Alguns vão querer ir para a repressão, outros vão querer negociar com os mais extremistas."
Valladão afirma que, independentemente do que acontecer com Arafat, a questão da sucessão está colocada e é delicada porque Arafat é "o único símbolo da resistência palestina e da idéia do Estado palestino".
"Arafat reinou durante 40 anos sem criar nenhum número dois, sem criar estruturas administrativas fixas e fortes. Ele sempre favoreceu a criação de grupos que brigavam entre eles e sobre os quais ele podia arbitrar."
A única figura que, na opinião do professor, reúne a legitimidade e a autoridade de Arafat é o militante palestino Marwan Barghouti, que está preso em Israel por envolvimento em atentados contra israelenses. "Ele é um trunfo nas mãos de Israel. Eles poderiam soltá-lo e ele se tornaria uma espécie de 'Mandela dos territórios palestinos'."
De qualquer forma, para Valladão, o agravamento do estado de saúde de Arafat vem em um momento ruim para a Autoridade Nacional Palestina, já enfraquecida pelas medidas unilaterais de Israel. Ele não acredita, porém, que a doença de Arafat vá afetar os planos do primeiro-ministro Ariel Sharon de retirar colonos judeus de assentamentos na faixa de Gaza.
Saída de Arafat abriria espaço para pragmatismo, diz professor
CAROLINA GLYCERIOda BBC Brasil
A saída de cena do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, daria espaço para uma liderança mais jovem e pragmática, na opinião do professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris Alfredo Valladão.
"Com o desaparecimento de Arafat, seja hoje ou daqui a um ano, vamos poder ter a emergência de uma nova direção palestina, com gente nova, mais pragmática, mais afinada com os tempos, com menos compromissos com o passado", afirmou Valladão em entrevista ao programa de rádio da BBC Brasil "De Olho no Mundo".
A saúde do líder palestino, que tem 75 anos, deteriorou-se nos últimos dias. Embora se saiba pouco sobre o seu estado, Arafat está sendo examinado por médicos em seu quartel-general em Ramallah, na Cisjordânia, e o agravamento da sua saúde suscitou novas dúvidas sobre o seu futuro e o da entidade que simboliza a luta por um Estado palestino.
Para Alfredo Valladão, a figura de Arafat "bloqueia" as negociações de paz na região, uma vez que ele perdeu a credibilidade como interlocutor para Israel e para os EUA. "Uma nova geração de líderes teria mais capacidade de organizar a Autoridade palestina e de ser mais aceitável para israelenses e americanos."
'Consenso'
O professor ressalva que, para que isso aconteça, as diversas facções que compõem o movimento palestino devem deixar de brigar entre si e alcançar um consenso sobre uma direção coletiva ou individual que tenha peso para poder negociar.
Segundo o especialista, o primeiro desafio da Autoridade Palestina será enfrentar a radicalização de alguns grupos da entidade. "O problema é saber de que maneira pode haver um acordo para enfrentar essa radicalização. Alguns vão querer ir para a repressão, outros vão querer negociar com os mais extremistas."
Valladão afirma que, independentemente do que acontecer com Arafat, a questão da sucessão está colocada e é delicada porque Arafat é "o único símbolo da resistência palestina e da idéia do Estado palestino".
"Arafat reinou durante 40 anos sem criar nenhum número dois, sem criar estruturas administrativas fixas e fortes. Ele sempre favoreceu a criação de grupos que brigavam entre eles e sobre os quais ele podia arbitrar."
A única figura que, na opinião do professor, reúne a legitimidade e a autoridade de Arafat é o militante palestino Marwan Barghouti, que está preso em Israel por envolvimento em atentados contra israelenses. "Ele é um trunfo nas mãos de Israel. Eles poderiam soltá-lo e ele se tornaria uma espécie de 'Mandela dos territórios palestinos'."
De qualquer forma, para Valladão, o agravamento do estado de saúde de Arafat vem em um momento ruim para a Autoridade Nacional Palestina, já enfraquecida pelas medidas unilaterais de Israel. Ele não acredita, porém, que a doença de Arafat vá afetar os planos do primeiro-ministro Ariel Sharon de retirar colonos judeus de assentamentos na faixa de Gaza.
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