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03/11/2004 - 22h44

Análise: Iraque e terror devem ser maiores desafios de Bush

PAUL REYNOLDS
da BBC Brasil

O presidente George W. Bush se reelegeu porque conseguiu persuadir americanos em número suficiente de que, em meio a uma guerra, não é a hora de trocar de líder.

Os simpatizantes dele acreditam que a projeção do poder americano no mundo vai mantê-los em segurança. Eles também reagiram aos valores morais que ele apresentou.

Os opositores de Bush, por outro lado, vão suspirar frustrados em todo o mundo. Eles temem que o domínio dos Estados Unidos sem amarras controle os próximos quatro anos.

Bush venceu apesar dos problemas no Iraque, dos quais parece não haver saída rápida, e apesar do fracasso da sua administração na captura de Osama bin Laden.

Desafio ou humilhação

Curiosamente, a repentina aparição de Bin Laden pouco antes das eleições pode ter angariado apoio para o presidente, já que delineou claramente a face do inimigo.

A captura do chefe da Al Qaeda poderia muito bem se transformar em uma das prioridades do segundo mandato de Bush.

Pouco antes das próximas eleições, um vídeo do arquiinimigo árabe pode não ser visto como um desafio, mas uma humilhação.

As pessoas não abandonam necessariamente os seus governos em tempos difíceis. O que elas exigem é um plano de como melhorá-los.

Bush fez o suficiente para convencer as pessoas de que ainda pode estabilizar o Iraque e manter a Al Qaeda em fuga.

Ele conseguiu prender vários líderes da organização e tem a seu favor o fato de não terem mais acontecido ataques como o de 11 de Setembro em solo americano.

Imagem

O presidente também conseguiu desestabilizar a imagem do seu oponente, apresentando-o como um homem cuja têmpera não é digna da confiança dos eleitores.

John Kerry pode não ter sido derrubado afinal, ele fez uma ótima campanha , mas foi sacudido.

Bush fez o suficiente na frente doméstica para não deixar a economia minar a sua candidatura como aconteceu com o seu pai contra Bill Clinton, em 1992.

Ele também ganhou no voto popular, diferentemente de 2000. Ou seja, exorcizou alguns demônios que o incomodavam desde então.

Dessa vez, a legitimidade de Bush não pode ser questionada. Ele não vai vencer graças à Suprema Corte.

Então, o mundo está praticamente no mesmo ponto em que estava no dia anterior às eleições.

A questão é saber se o segundo mandato de Bush será diferente do primeiro.

Incerteza

Alguns acreditam que este será um mandato de consolidação, não de criação de políticas.

No entanto, ninguém pode ter certeza disso. Crises imprevisíveis são detonadas. A China pode ameaçar Taiwan, por exemplo.

As crises previsíveis também podem se complicar transformando-se em conflitos, ou, no caso do Iraque, em conflitos ainda piores.

E a sombra de Bin Laden está sempre à espreita.

Bush pode se esforçar para se reconciliar com líderes de aliados abalados como a França e a Alemanha, mas a iniciativa provavelmente não será suficiente.

As relações devem continuar no congelador por algum tempo.

Invasões

No entanto, para o analista John Dumbrell, da Universidade de Leicester, uma coisa deve mudar: "Não vai mais haver invasões", afirma o estudioso.

O povo e o orçamento americanos não suportariam outros ataques, segundo o professor Dumbrell.

Certamente é difícil vislumbrar a hipótese de os Estados Unidos lançarem um ataque contra a Coréia do Norte por causa do programa nuclear do país.

O poderio militar americano é capaz de combater em duas frentes, mas uma guerra na Coréia do Norte iria enfraquecer o Iraque.

Um ataque contra as instalações nucleares do Irã não pode ser descartado, mas Israel seria uma arma mais provável do que a Força Aérea americana.

Israel destruiu o reator nuclear do Iraque em 1981, ou seja, tem experiência nesta área e, nos últimos meses, vem liderando uma campanha diplomática baseada na acusação de que os iranianos querem construir uma bomba nuclear.

Al Qaeda

O maior problema para Bush continuará sendo o Iraque, embora a Al Qaeda também possa voltar à baila.

A estratégia de saída do Iraque é duvidosa, mas não impossível.

Ela depende do estabelecimento de um governo representativo e estável no país.

Isso deve acontecer em duas etapas: eleições para um governo de transição em janeiro e depois, no fim de 2005, seriam convocadas eleições gerais sob a vigência da nova Constituição.

A essa altura, o mandado do Conselho de Segurança para tropas estrangeiras no Iraque teria expirado, embora um novo governo iraquiano possa requisitar a permanência delas.

Bush provavelmente torcerá para que as tropas sejam dispensadas, ou pelo menos, parte delas.
Ninguém espera grandes mudanças nas outras políticas.

No Oriente Médio, existe uma incerteza sobre o futuro de Iasser Arafat e sobre o papel dos Estados Unidos e de qualquer outro país na região.

No meio ambiente, Bush não vai assinar o Protocolo de Kyoto. Ele deve continuar mais preocupado com questões de segurança.

E parece ser isso mesmo que os americanos querem.

Especial
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