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15/11/2004 - 17h26

Análise: Powell estava isolado entre neoconservadores

PAUL REYNOLDS
da BBC Brasil

Colin Powell nunca encontrou direito o seu lugar num governo Bush dominado por neoconservadores.

Ele também não fez a transição de general a estadista. Sua fraqueza foi não ter a visão de mundo de seus rivais.

Powell não era um pacifista. Ele também acreditava no poder e na influência dos Estados Unidos, mas, onde os outros enxergavam certezas, eles enxergava complexidade. Isso o retardou e o deixou em desvantagem.

Powell parecia achar mais natural obedecer a uma ordem do que dar ordens.

No final, faltou a ele se fazer escutar pelo presidente, sem o qual um secretário de Estado fica impotente.

Marginalizado

A figura confiante que liderou as forças americanas na guerra contra o Iraque em 1991 passou a ser uma figura marginalizada na guerra contra o Iraque de 2003.

A única disputa interna que ele venceu sobre o Iraque --argumentando que os Estados Unidos deviam buscar aprovação da ONU para a ofensiva-- foi rapidamente sobrepujada pelos acontecimentos, com o governo avançando de qualquer maneira rumo à guerra.

Powell foi praticamente humilhado quando ficou evidente que estavam erradas as informações usadas por ele numa agressiva apresentação ao Conselho de Segurança da ONU sobre as armas de destruição em massa de Saddam, em fevereiro de 2003.

Também foi noticiado que ele foi informado sobre a decisão do presidente George W. Bush de iniciar a guerra depois do embaixador saudita em Washington.

Lealdade militar

Em meio a tudo isso, Powell nunca agiu de forma desleal. Bush confiava em sua disciplina militar e disse a ele pouco antes da guerra no Iraque que estava na hora de ele vestir novamente o uniforme. O secretário de Estado concordou.

A sua alienação dentro do governo já era evidente, tanto que o seu vice, Richard Armitage, já havia comentado que ele e seu chefe deixariam seus cargos caso houvesse um segundo mandato de Bush.

A maioria dos observadores, porém, esperavam que a saída demorasse mais. O fato de ele ter anunciado a saída antes da escolha de um sucessor talvez seja outro sinal de sua perda de influência.

A notícia torna a sua planejada visita ao Oriente Médio algo bastante incerto.

Uma das fragilidades de Colin Powell foi a sua relutância em se engajar pessoalmente em negociações diplomáticas. Ele passou a ser apelidado em alguns lugares de secretário de Estado para Washington.

Faltou a ele o entusiasmo de um Henry Kissinger, viajando pelo Oriente Médio, embora ele tenha estado lá pessoalmente com alguma freqüência.

E não faltou a ele algumas iniciativas de sucesso. Ele defendeu fortemente a criação de um Estado palestino e em grande parte foi graças a ele que Bush se tornou o primeiro presidente americano a apoiar essa política.

A ausência de dinamismo diplomático o deixou sem um contrapeso quando passaram a tomar as rédeas da política americana os neoconservadores liderados pelo vice-presidente, Dick Cheney, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e o subsecretário da Defesa, Paul Wolfowitz.

É duvidoso se os neoconservadores tinham um plano próprio para a retirada de Powell. Ele era muito útil na apresentação da política americana, já que foi o primeiro secretário de Estado negro.

Mas eles provavelmente não ficarão muito tristes por vê-lo partir.
 

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