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Independência do Kosovo aumenta abismo entre Rússia e Ocidente
da BBC Brasil
O abismo diplomático que existe entre a Rússia e vários governos ocidentais está sendo agravado pela declaração de independência de Kosovo.
O que é considerado como um resultado inevitável de guerras e da história pelos Estados Unidos e vários países europeus, é visto como "imoral e ilegal" nas palavras do presidente Vladimir Putin.
A maioria dos governos europeus, certamente o britânico, consideram a decisão como a peça final de um quebra-cabeças confuso chamado Iugoslávia.
A Rússia irá tentar bloquear a decisão no Conselho de Segurança da ONU. Essa atitude, no entanto, irá fracassar por conta do apoio ao Kosovo de três membros permanentes com poder de veto --França, Estados Unidos e Grã-Bretanha.
Os russos já haviam bloqueado, em junho, que o Conselho de Segurança aprovasse de uma resolução outorgando independência limitada à antiga província.
Autorização
No centro da questão está a separação da província da Sérvia sem uma autorização expressa do Conselho de Segurança.
A Rússia compartilha com a opinião da Sérvia, de que a província não pode separar-se desta forma. A Sérvia já havia oferecido autonomia, não independência.
A Rússia sustenta que, de acordo com as leis internacionais, uma autorização do Conselho de Segurança precederia à declaração de independência.
Os EUA e outros países que apóiam o Kosovo afirmam que a resolução 1244, do Conselho de Segurança da ONU, autorizou uma "presença internacional" no Kosovo depois da guerra travada pela Otan em 1999 e não impede a declaração da independência.
Em última análise, o argumento do Ocidente é sobre política, e não sobre legislação.
Neste sentido, o distanciamento de Kosovo em relação à Sérvia já foi longe demais e o status não é mais aceitável.
O acontecimento deste domingo é outra questão que aumenta a lista de diferenças entre o Ocidente e a Rússia.
A reaparição da palavra Ocidente --com todas as implicações da Guerra Fria, de uma divisão quase permanente com a Rússia-- é um sinal da grave deterioração nos últimos anos.
União Européia
Espera-se que muitos governos do bloco europeu, inclusive o Reino Unido, a França e Alemanha, reconheçam a forma limitada e supervisionada de independência de Kosovo recomendada pela ONU.
Esse reconhecimento deve vir depois de um encontro entre os ministros das Relações Exteriores do bloco em Bruxelas, que irá aprovar o envio de uma missão de 1,8 mil homens para ajudar a transição em Kosovo.
A União Européia irá deixar o reconhecimento de fato para cada um dos países do bloco decidir de forma individual. Fontes diplomáticas dizem que três membros - o Chipre, Romênia e Eslováquia - já adiantaram que não irão reconhecer a independência de Kosovo.
O reconhecimento pelos Estados Unidos não é posto em dúvida e deve ser formalmente anunciado nesta segunda-feira.
Caixa de Pandora
É certo que haverá discórdias.
Não se espera que a Sérvia lance alguma ofensiva militar, mas certamente fará o possível para boicotar o novo país, enquanto apoia a minoria sérvia presente no norte da província.
Por sua vez, a Rússia fará o que puder para que Kosovo não seja integrado à ONU.
As reações da Sérvia podem ter sérias implicações para as ambições do país de integrar a União Européia no futuro. Se as relações entre as duas partes se deteriorarem, tal integração poderá ficar suspensa durante anos.
Com a declaração de independência, há a possibilidade de que a população sérvia na Bósnia-Herzegovina use o exemplo de Kosovo para convocar um referendo sobre uma possível separação.
E ainda resta saber se a Rússia usará o Kosovo como predecente para que a Abkhazi e a Ossétia do Sul ganhem a independência da Geórgia.
Numa recente conferência, o ex-ministro da Defesa russo, Sergei Ivanov, disse que Kosovo estava abrindo uma "caixa de pandora".
Atualmente há um abismo entre o Ocidente e a Rússia sobre o qual não se pode construir uma ponte.
A Rússia acredita estar sob ameaça (não apenas por causa do escudo antimíssil americano, mas também por causa das hostilidades que diz sofrer) e diante disso, tomou medidas defensivas.
Mas tais medidas (incluindo a ameaça de atacar países que apóiem a iniciativa americana) são encaradas no ocidente como agressivas.
Ocidente e Oriente permanecem divididos.
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